quinta-feira, 5 de fevereiro de 2009

Gripe mal curada

Faz 5 minutos que um de meus melhores amigos saiu de casa, após uma noite de bebedeira que já combinávamos há meses. Ele acabou de terminar um trabalho e queríamos comemorar. O que isso tem de especial?

1- É o único amigo hétero-normativo que sabe que eu curto caras

2- É o cara que mais me deu e dá tesão na vida

3- Por conta dos ítens 1 e 2, vivo testando os limites dele e dessa vez acho que passei do ponto...

Dificilmente não consigo o que quero, mas esse cara foge à regra. E isso faz minha libido atingir níveis espaciais. Tenho pleno controle sobre meu corpo, mas ao lado dele viro um bicho, sou puro instinto.

Uma história longa que começou há alguns anos. Trabalhamos juntos e logo nos aproximamos muito. Trocas de olhares e cumplicidade eram constantes. O clima que rolava era forte, intenso. Toda semana ficávamos em casa assistindo filmes, cada um acariciando o próprio peito em demonstração de masculinidade. Tomávamos banho com o outro admirando, usando a desculpa de manter a conversa que não poderia ser cortada por isso. Ensinava-me algumas técnicas de Jiu Jitsu. Delírio animal. Cinco minutos depois que saía de casa, eu fazia questão de continuar o coito interrompido nas preliminares.

Mas como um cara que namora há 10 anos sem nunca sequer ter beijado outra garota nesse meio tempo lida com isso? A resposta é simples. Não lida. Aceita os olhares, as carícias, as provocações. No momento que ficou demais para mim, tomei a decisão mais racional que poderia ter feito: chamei-o para um parque e despejei o que acontecia, frisando que tudo que queria era que não ocorresse mais.

Não, não era hipocrisia. Por mais que um lado meu realmente quisesse que algo rolasse, o outro sentia exatamente o contrário. Por quê? Porque era um grande amigo, com a família estruturada, namorada perfeita, vida sossegada. Nunca teve problemas para lidar e sei que piraria se as dúvidas chegassem ao mesmo patamar das que tenho. Muitos diriam que ele (ou eu) se engana. Não vejo assim. É uma escolha que ele fez. Mesmo se ele tivesse certeza que curte caras, não acho que assumir para si mesmo é a chave para uma vida feliz. Isso é conto-de-fadas. Digo por mim mesmo. Vivo uma vida paralela à base de conquistas e mais conquistas. Sou mais feliz depois de aceitar que também curto caras? Sinceramente, não sei. Acho que não. Tudo ficou mais complicado desde então.

Ele escutou calado. Disse que entendia e que não deixaríamos de ser amigos por isso. Na hora de ir embora me deu o abraço mais apertado de minha vida.

No dia seguinte não apareceu mais. Nem no outro. Muito menos no seguinte. Sumiu por 6 meses trabalhando em casa, possibilidade que o emprego que temos nos proporciona. Não avisou ninguém. Desapareceu do círculo de amigos, que me perguntavam sempre o que havia acontecido. Afinal, éramos como unha e carne. Eu mentia dizendo que nada sabia e, no fundo, sentia alívio de não o ver mais.

De repente ele reapareceu, mas só para mim. Não falou mais com nenhum de nossos velhos amigos. Não nos vemos mais com a mesma frequência, mas volta e meia ele vem em casa. Ontem foi um desses dias. Chovia. Bebemos muito. Matamos uma garrafa de sake, uma de vinho, várias de cerveja. Dei-lhe um meio selinho, encenando uma história que contava. Ele assustou, mas não disse nada. Comecei a acariciar sua nuca, suas costas, a barba por fazer. Perguntava: "te incomoda?". Ele dizia que não, mas que era estranho um amigo fazer isso em outro. Depois de algum tempo assim, ele levantou repentinamente e disse que ia dormir. Sabia que fazia isso para escapar da situação. Coloquei-o em um colchão ao lado de minha cama. Falei a verdade. Disse que ele nunca me barrava e eu acabava testando mais e mais os seus limites. Ele assumiu que realmente tinha ficado incomodado.

Estava possesso, fora de mim. Não de raiva, mas de excitação. Quando senti sua respiração mais pesada, indicativo de que dormia, coloquei minha mão sobre seu cobertor. Senti seu pênis. Coloquei a mão por dentro do cobertor. Senti melhor. Esquentei, rubrei. Ele se virou. Não consegui dormir a noite inteira e sempre que ele virava com a barriga para cima, tocava-o de novo por cima do cobertor. Ele, então, novamente se virava.

Acordamos cedo. trabalhamos um pouco juntos. Antes de ele sair, treinamos alguns golpes. Na despedida, nos abraçamos e beijei-o na bochecha, hábito que tenho apenas com ele, pois em geral não me sinto à vontade em beijar caras no rosto. Olhei em seus olhos e disse: "desculpe pelos testes de ontem". Ele sorriu calado, nos abraçamos novamente e foi embora.

Em seguida, silêncio. Fiquei zonzo e vim escrever. Afinal, saí na chuva quando a gripe ainda não estava completamente curada e precisava me secar antes que piorasse.

15 comentários:

Leandro RJ disse...

PORRA ACHO QUE TODO MUNDO QUE VIVE ESSA PARADA TEM UM AMIGO HÉTERO ASSIM NEE KKKKKKK
COMPLICADO... MUITO !!
MAS É ISSO AEE !! VOU CONTINUAR ACOMPANHANDO !

Un ragazzo disse...

Se fosse só um tava bom... heheh
Em geral é um por vez, sempre com o mesmo resultado: dor-de-cabeça na certa... ehhe

Anônimo disse...

cara vc tem sorte e azar ao mesmo tempo tem q te coragem pa fala dessas coisas vo acompanha vc pq ate eu tenho passado pokas e boas!

Un ragazzo disse...

Falae Italo,
na verdade tô falando dessas coisas agora para tentar me entender melhor. Chega uma hora que ou você lida com suas dúvidas de frente, ainda que anonimamente, ou você se destroi por dentro. Escolhi a primeira.
Continue postando. Curto demais ir longe nas discussões.
Abraço

Leandro RJ disse...

FALA AE BROTHER
ATUALIZA AE ESTAMOS NA EXPECTATIVA HAHA
ABRAÇAO

Un ragazzo disse...

Ae Leandro,
pedido atendido... Post dos grandes!
Abraço

Unknown disse...

Cara, se de fato o incomodasse, ele te barraria.
Reação natural de um hétero convicto e sem neuras....
se te deixa avançar.... sei não...

Un ragazzo disse...

Sabe Núbia, eu tb penso isso. Para ele é uma grande barreira. Lembro da primeira vez que fiquei com um cara. Me recordo como foi difícil dar o passo e olha que eu apenas precisava me preocupar comigo mesmo. E se tivesse outra pessoa na história, como ele tem? Afinal, o cara namora faz 10 anos, que, convenhamos, não são 10 dias. Por isso não o recrimino. Até entendo ele. Por vezes até o admiro por tamanha força de vontade, de controle, que eu mesmo não tenho. Sinto às vezes, por isso, que há uma inversão: meu lobo interno controla o homem-razão. No meu caso, a fera ganha sempre no final, o que pode traz uma tamanha instabilidade instintiva para mim.

Caco disse...

C escreve muito bem!
Estou acompanhando, beijo.

Un ragazzo disse...

Valeu, Caco! E pelo que vejo, pegou bem o espiríto do blog. Altas discussões!!! ehhe
Um prazer tê-lo por aqui!

Abração!

Ulisses disse...

Ragazzo, se você acaba jogando na cara e ele encarar isso como um teste, vai tentar resistir sempre.

Na próxima vez tenta conduzir a situação para que, se algo acontecer, parecer que naturalmente.

Vocês voltaram a se ver de fevereiro pra cá?

Un ragazzo disse...

Ulisses, entendo o que diz. Já conduzi a situação de modo pretensamente natural. A resistência dele tem a ver com uma influência externa, a namorada, que ele respeita muito. A questão do desejo, contudo, estou certo que é forte.

Vi ele faz algumas semanas, em uma festa, em que tb estava a namorada dele. Ele me viu de longe, veio em minha direção, me deu um abraço forte, que me deixou constrangido, pois a namorada estava de longe olhando. No fim, me disse que queria marcar uma cerveja comigo, para botarmos o papo em dia. Disse q estava com a rotina corrida, mas q assim q tivesse um tempinho, ligaria para ele.

Sei que foi uma fuga minha, mas não dá para eu ficar na dele, pois sei q é uma situação complicada, q acaba atravancando minha vida.

Abraço

Sara disse...

Ragazzo,
não concordo que a namorada seja um motivo tão grande assim para a indecisão de seu amigo, já vi caras casados que se decidem. Talvez seja bom pra ele ter alguém que o deseja e só.
Eu acredito que deva existir um desejo bem forte entre vocês dois, afinal vcs continuam a se ver. Mas será que o motivo de ainda existir o desejo em você não será o de não ter concretizado nada com ele? Pense nisso...

Un ragazzo disse...

Sara, é um bom ponto esse que vc toca (até parece que me conhece...hehe). Tb creio que esse desejo só se mantem pela não concretização dele. Mais ainda, só acho que ele chegou a essa intensidade por conta disso. A figurinha mais difícil, ainda que seja a mais sem graça, é aquela mais se disputa.

Abraços

Ulisses disse...

Ragazzo, o ato de comer e jogar fora (isso é uma paráfrase) te dá algum prazer ou você se preocupa com a possível frustração daquele(a) que foi preterido(a)?

Fico feliz em saber que, pelo menos quando há afeto, você parece atentar para os dizeres de Saint-Exupéry (tu te torna eternamente responsável por aquele a quem cativas). Isso ficou evidente neste trecho:

"(...) Por mais que um lado meu realmente quisesse que algo rolasse, o outro sentia exatamente o contrário. Por quê? Porque era um grande amigo, com a família estruturada, namorada perfeita, vida sossegada. Nunca teve problemas para lidar e sei que piraria se as dúvidas chegassem ao mesmo patamar das que tenho."