quarta-feira, 18 de agosto de 2010

A Trilogia de uma Decisão: as circunstâncias.

E no curso de meu movimento, alguns pensamentos passados ao som de "Stand", do R.E.M.

Pés no chão...

Passamos 3 semanas separados, uma espécie de amostra em dose menor do que virá a ser uma temporada maior. Nessas horas percebo como sou instável. Tiveram dias que tudo que queria fazer era abraçá-lo. Em outros, ficava com um pouco de raiva da situação.

Ao escrever e-mails a ele, sentia-o ao meu lado, uma companhia boa, com quem ria baixinho e confidenciava as percepções que eu tinha do que ocorria a minha volta.

Por outro lado, nesse tempo também lembrei do quanto somos diferentes e de como é necessário um esforço para interpretá-lo. É como se a chave da nossa comunicação não tivesse nascido conosco, mas que fosse constituída a quatro mãos. Para mim, controlador por natureza, fico perdido ao não saber os desdobramentos de minhas ações na vida dele.

Estou voltando ao Brasil. Chego de viagem um dia antes dele. Vou vê-lo depois de amanhã. Combinamos de nos encontrarmos em sua casa pela tarde. Farei uma surpresa e o receberei antes no aeroporto [e aí é claro que só poderei postar esse post depois disso, para não estragar a surpresa caso ele leia]. Dos 3 dias que tenho antes de viajar novamente, reservei 2 para ficar com ele, o que provavelmente vai causar um ciúme familiar, que não vai saber de onde vem a concorrência da atenção.

Serão 7 meses longe um do outro. E quando volto, daí é a vez dele de ir para outro continente. Me admirei ao pensar em algumas possibilidades para isso dar certo. Ao mesmo tempo, tive uma proposta boa de trabalho após a minha volta. Acompanhá-lo é começar praticamente do zero. Teria um ano para preparar tudo para que pudesse talvez me posicionar novamente em minha carreira, mas em seu país.

Inevitavelmente há um tempo de distanciamento. E o corpo, como fica? É fato que ambos sentiremos desejo por outros. Negar o fogo dos corpos pode mais atrapalhar que ajudar. Ou será que jejuar os desejos instantâneos pode contribuir para algo maior?

domingo, 25 de julho de 2010

A Trilogia de uma Decisão: a vontade.

"Perfect Day", do Lou Reed.

Olhos nas estrelas.

Eu tenho vontade de acordar com você mesmo nos dias em que não dormi com você. Vontade de ver seu rosto inchado atrasado para o trabalho. Vontade de vê-lo de mau humor por que alguma banalidade deu errado no seu dia. Vontade de te ver emburrado. Vontade de te ver rindo de alguma piada bo[b]a até ficar com dor de barriga. Vontade de te [me] deitar no meu [seu] ombro quando você [eu] estiver triste. Vontade de comer um hot dog contigo naquele dia em que não deu tempo de preparar nada para almoçar. Vontade de dizer “Tem como me dar mais espaço na cama?”. Vontade de vê-lo desastrado tentando lidar com a máquina de lavar nova. Vontade de te contar o quanto que eu penso em você. Vontade de te dizer que eu fecho os meus olhos e é você que aparece. Vontade de conseguir dizer isso em português. Vontade de te abraçar e dizer que é pra sempre, sabendo que realmente há chances de sê-lo. Vontade de criar um cachorro contigo [para praticar...]. Vontade de ver que na pressa você vestiu a camiseta do avesso. Vontade de te levar o café na cama.

Vontade que me perguntem de novo “Vocês são um casal?” [como no dia em que fomos ao teatro, naquela peça alternativona] e ambos respondamos com um sorriso: “Sim, há mais de 10 anos”...

terça-feira, 29 de junho de 2010

Apresento-vos um sorriso.

E eu conheci esse cara na Argentina. Camiseta branca com gola em V fumando um cigarro na frente de onde estávamos hospedados. Olhares cruzados. Olhos claros, que a princípio achei serem azuis [hoje sei que são verdes]. Nenhum sorriso, apenas curiosidade. "Pessoa intrigante", pensei.

Encontro-o no bar. Ele não sabia que eu curtia, mas algo me dizia que com ele rolaria. É o tal do radar que funciona bem comigo. Já o dele parece ser meio falho. Conversamos por muito tempo enquanto bebíamos alguns chopes. Falamos sobre viagens e sobre livros. Descobrimos que eu morava perto de seus pais e ele dos meus. Falamos sobre qualidades do ser humano e ao falar de Siddharta, de Hermann Hesse, sorrimos [e aí me dei conta de como seu sorriso era bonito] ao discutir possibilidades não místicas para o jejuar. Ele disse que era gay. Eu ignorei a fala como se fosse dispensável e mantive a conversa no que ele me cativava. Ele saiu para jantar e não voltou.

No dia seguinte, falamos sobre as festas de Buenos Aires e sobre quão ruim era a fama de seu reveillon. Chamei-o para passar a pós-virada de ano em uma danceteria famosa por ser considerada o melhor local gls da cidade. Ele estranhou e perguntou se eu tinha noção de que tipo de festa era. Eu acenei a cabeça sem maiores explicações.

Fui jantar com amigos argentinos em outra cidade. Juntos brindamos e juntos fomos à danceteria. Meu amigo dos parágrafos anteriores, por sua vez, havia saído para jantar com os pais e me encontrou na balada. Lá nos divertimos, lá convidei-o a tomar uma tequila. Lá olhei diretamente em seus olhos, que pareciam evitar os meus a princípio. Foi lá também que nos beijamos pela primeira vez. Primeiro beijo no primeiro dia do ano.

No retorno, toques ousados em meio à cidade que acordava. Qualquer muro era desculpa para beijos e abraços. É a vantagem de sentirmo-nos de fora de um lugar, uma vez que a ausência próxima nos serve de escudo.

Nos dias seguintes, mais beijos, sem sexo consumado. Decisão consciente. Era um cara que valia a pena construir intimidade primeiro. Na despedida, me levou ao táxi. Fiquei triste ao deixá-lo para trás. Depois ele me disse que o mesmo aconteceu com ele. Afinal, sabíamos que ficaríamos 3 meses sem nos vermos. Ele voltaria ao Brasil, eu tinha uma parada intermediária do outro lado do mundo. Se hoje eu fosse escolher uma música que retratasse bem o momento da despedida, com certeza seria "Crimsom and Clover", de Tommy James & The Shondells.

Mas muita coisa acontece em 3 meses. Trocávamos e-mails. Não sabia o que queria com aquele escambo de ideias, de cotidiano e de intimidade. Não o conhecia bem o suficiente. Senti-me afetado por ele quando confessou em alguma linha perdida que lhe fazia bem ler minhas cartas eletrônicas. Eu queria conhecer pessoas de culturas e locais que até então me eram exóticas e aquele sentir-se afetado me incomodou. Não era hora. Diminuí o fluxo de nosssa correspondência. Ele percebeu e quando voltei ao nosso país, ele namorava outra pessoa.

Ficamos amigos. Eu me interessei por outra pessoa [que eu acho que magoei por esses tempos e gostaria de escrever um post sobre isso, pois ele realmente merece]. Seu namoro acabou. Reencontramo-nos em um momento turbulento e voltamos a sair juntos. Apesar disso, circunstancialmente, não havia como dar certo. Além de sermos pessoas um bocado diferentes, se 3 meses fazem diferença, uma vida distante faz mais ainda. Na onda de desencontros eu passarei 8 meses fora e quando voltar, ele concretizará planos há muito elaborados para fazer vida em outro país.

Combinamos de não nos envolvermos, mas acho que não zelei muito pelo acordo. Há algumas semanas, convidei-o para sairmos como amigos. Não deu certo e a noite terminou em discussão. Percebi que era apenas discurso meu em atitude defensiva. No dia seguinte à discussão, saímos para conversar pela primeira vez sobre o que se passava e acabamos passando a noite juntos. Uma noite e tanto, há que se frisar. Um clique aconteceu ali e até agora eu não sei muito bem como explicá-lo. Mais tarde, tive que viajar e, à noite, sorri bobo ao ler uma mensagem que me enviou dizendo que tinha gostado de minha companhia. Na segunda, me peguei com vontade de abraçá-lo pela manhã como no dia anterior.

Desde então nossa harmonia cresceu incrivelmente. Temos nos visto constantemente. Ele precisou fazer uma viagem essa semana. Eu farei outra na terça. Ficaremos algumas semanas sem nos vermos. E agora, com saudades dele, fico imaginando como seria sua letra de mão.

terça-feira, 15 de junho de 2010

Sobre Armários e Chaves

Sumi mesmo. Assumo. Motivo simples e já deve ter passado pela cabeça de muitos leitores. Comecei a sair com alguém legal e não queria expô-lo. Além disso, quebrei o braço um dia depois de ter escrito o último post [mas viva, pela manhã obtive a alforria do gesso!]. Hoje, contudo, deu vontade de escrever, deixando vocês ao som de "My wandering days are over", de Belle & Sebastian.

Esse tempo sem postar e uma briga em família [feia e superficial, mas com danos sérios] me fez reavaliar muita coisa. Uma delas [e que acho que é a que importa comentar aqui no blog] é sobre a situação em que eu vivo. Vida paralela excluindo família, amigos próximos, trabalho etc. Tudo em nome do que? De uma sexualidade a ser guardada a sete chaves.

As três desculpas mais comuns que uso para eu estar no armário são: 1) Receio de isso atrapalhar minha carreira; 2) Alterar as relações de amizade que eu tenho; 3) Sexualidade é só um detalhe.

No fundo há uma palavra que responde bem às três razões: Bullshit! Crenças irracionais construídas no imaginário de uma geração que ainda mantém os receios do passado. Pensando com calma e avaliando minha volta sei com certeza que minha carreira não seria nem minimamente tocada [conheço pessoas na mesma profissão assumidas e bem posicionadas], tenho relações sólidas o suficiente com pessoas com uma boa clareza de mundo para saber que meu envolvimento com elas não será abalado e, quanto ao terceiro ponto, na ânsia de esconder a sexualidade, acabo por colocar um certo limite para a intimidade com alguns amigos, com receio que a proximidade possa me denunciar de algum modo.

E por que, então, cargas d'água, Ragazzo, você não desencana de vez? E a resposta que eu tenho é simples. Por vergonha da vida paralela que construí até hoje com pessoas que me são caras. É como se eu tivesse escondido, mentido e omitido por muito tempo para pessoas que em mim depositavam muita confiança. Eu que, paradoxalmente, odeio mentiras, estaria assumindo uma grande que durou grande parte da vida.

Mas, tenho culhões... Covardia não é um defeito meu. E por algum lugar comecei. Divido casa com dois caras. Essa semana tomei coragem e fiz o que já tinha que ter feito há tempos. Chamei eles para uma conversa.

Fui preparado e com uma estratégia. Montei um arquivo com fotos de pessoas, homens e mulheres, que já tive algum envolvimento. Chamei os dois amigos. Servi um vinho para nós três para dar uma relaxada e convidei-os para uma espécie de brincadeira. Desafiei-os a descobrir o que as pessoas que eu apontava nas fotos tinham em comum.

Eles toparam. Eu me divertia com os chutes [eles realmente entraram na brincadeira].

- Hum... Barba por fazer? - um deles chutou.

- Tem que ser algo comum a todos das fotos e não tô vendo nenhuma menina de buço aqui... hehe - eu respondi.


- Essa eu conheço. É sua ex-namorada. - um deles falou.

- Certo.

- E essa eu sei que você já saiu.

- Certo também. Tá ficando quente. - eu confirmei.


Alguns muitos chutes depois, um deles soltou: - Você já saiu com todos eles?

- Bingo!

Alguns segundos de silêncio, conversa um pouco embaraçada no começo. Deixei claro que não estava contando para ganhar espaço em casa, mas como demonstração de confiança, pela amizade construída. Expliquei algumas fugidas minhas do passado, momentos que eu não estava bem e não deixava claro a razão. Eles me abraçaram. Disseram que eu podia confiar neles e que a amizade só ia se fortalecer.

O mais legal é que não foi da boca pra fora. Desde então estamos cada vez mais próximos. Ficamos mais íntimos. Trocamos histórias. Temos saído mais juntos. Um deles, inclusive, quer conhecer algum lugar gls comigo.

Valeu a pena. Um primeiro passo para uma vida em que intenciono usar minha energia em assuntos que realmente valham a pena e menos em um problema com minha sexualidade que muitas vezes só se encontra em minha cabeça.

terça-feira, 27 de abril de 2010

Entorno

Ao som Blowin'in the Wind, de Bob Dylan, Ragazzo está solteiro e sem uma meta objetiva. Por mais que eu ache que esteja na hora de sossegar com alguém, essa fase é de uma leveza e tanto. É ótimo você estar aberto ao que está a sua volta sem as pressões de fazer ou não fazer algo, sem a preocupação com alguém específico. É a hora de brincar, flertar, dar dicas, confundir etc. Confesso que me divirto nesse prestar atenção. E nessa diversão, quem sabe algo mais importante não ocorre de maneira fluida e natural?

Hoje na academia, encontrei o "Olhos Claros". Pernas de jogador de futebol, cabelos escuros e olhos enigmáticos cor-do-mar. Nunca escutei sua voz. Faz tempo que nos conhecemos de vista. Uma vez na sauna do clube, ficou me encarando pelo espelho e acariciou as coxas discretamente. Eu fiz o mesmo, mas no desafio do desvio de olhar, perdi. Exposição em lugares públicos me amedronta. Um deslize e você perde o controle.

A garota do post passado agora decidiu que eu devo ficar com todos os caras gays que ela conhece e que ela acha um partidão. Ela "brinca" que em troca eu pago ela em beijos. Quinta em um churrasco ela me mostrou o "Modelo". Rosto perfeitamente moldado com olhos claros que causam inveja, muito bonito, observador e companheiro de cerveja. Muito interessante a situação em que você sabe que um cara curte, mas que ele não sabe de você. Conversamos, e até combinamos de fazer uma dupla de "taco" ["bets" para o pessoal mais do interior]. O engraçado é que no final do churrasco o amigo do Modelo chegou na minha amiga, querendo conhecer o "colírio" que ela tinha trazido para a festa. Óbvio que ela negou qualquer interesse meu. Além de eu não me expor em tais lugares, ele não era partidão como o amigo.

E por que não continuar com contatos antigos? Reveillon na Argentina. Conheci o "Sorrisão", um cara tribacana, no hotel em que eu estava hospedado. Um dia chamei-o para sair. Dei o bote e ficamos juntos pelo resto dos meus dias lá. Depois fiz uma viagem longa e nos comunicamos algum tempo por e-mail. A coisa foi esfriando e paramos. Voltei e ele estava namorando. Ainda saímos para beber uma cerveja como amigos, mas na despedida rolaram aqueles abraços mais fortes e beijos de canto de boca. A ética falou mais alto e ficamos só nisso. Agora, namoro acabado, combinamos de nos vermos em duas semanas para mais uma cerveja.

Sabe quando você de repente encontra um contato de anos com quem você nunca conversa na net e, um belo dia, você dá a chance e descobre que vocês têm um bocado em comum? A empolgação com o "Mr. Net" aumenta ainda mais quando você vê que o cara é fã de academia e que tem barba-por-fazer. Você fica preocupado quando descobre que vocês têm uma amiga em comum. Eita coincidência do destino. Fica mais tranquilo e releva quando descobre que o irmão dessa amiga curte caras e que ela leva isso muito numa boa. Cerveja marcada na sexta com o Mr. Net.

E as opções surgem para aquele que fica atento, sem procura e sem ansiedade. Olhos Claros, Modelo, Sorrisão e Mr. Net são apenas exemplos de gente que passa pela sua vida, nunca se sabendo a priori para quê, por quanto tempo e de que maneira. E é essa a graça do imprevisível.

quinta-feira, 22 de abril de 2010

Supercasal ao Resgate!

Por que será que quando você chega perto dos 30, a maioria dos seus amigos que está em um namoro morno vira casamenteiro? Por mais que você pareça bem com sua solteirice, que você curta as festas, que você adore viajar sozinho, é inevitável que tentem te casar também.

Essa prática milenar começa em geral com um casal que, surpreendentemente percebe que o amigo do namorado e a amiga da namorada "nasceram um para o outro", só faltando aquele empurrãozinho. E daí, mesmo sem o super chamado de ajuda, o supercasal vem em seu auxílio. Os super-herois apenas não param para pensar que os dois simplesmente estão bem do modo como estão [ou que o amigo do namorado no momento está preferindo um namorado que uma namorada... haha].

Ontem caí nessa armadilha. Chegando em uma festa com amigos, olho em volta e vejo que quase todos do grupo em que eu estava formavam parelhas. Quiçá fosse junho para eu achar que fosse uma quadrilha.

E no meio da noite, um cara inconveniente regado a muitas cervejas começa a dar em cima da amiga solteira da namorada do amigo. Oportunidade perfeita para o supercasal surgir do meio das nuvens:

- Chegou atrasado, meu amigo, ela é namorada do Ragazzo.

Ele vira para mim, desculpa-se. Mas o supercasal ainda não estava satisfeito. Sua meta era bem maior que isso.

- E claro que o Ragazzo vai beijar a namorada.

Em coro, surge a liga dos casais: "Beija! Beija! Beija!".

Viro, achando que a amiga da namorada do amigo estaria com cara de enfadada, mas ao vê-la com um sorrisão de ponta a ponta, não tive outra coisa que fazer. Beijei. Os outros casais fizeram o mesmo. Uma "ola" de beijos. Um dominó de casais. Uma amiga mais íntima que sabe mais de mim que todo o resto, com o namorado, se divertia silenciosamente da situação em que o Ragazzo estava.

Mais tarde, muita coisa passou pela minha cabeça. A amiga da namorada do amigo vinha se tornando uma amiga já há algum tempo e sabia que aquilo não ia acabar bem. Inevitavelmente iria me distanciar dela, para que não cogitasse o motivo pelo qual um novo casal não se formaria. Lembrei-me da Perseguidora, que hoje em dia mal conversa comigo [e que começou a namorar o "Amigo da Ducha"], do número de meninas que eu não ligava no dia seguinte e que se chateavam sem saber a razão de não haver retorno pós-noitada. Senti-me um pouco covarde.

No carro, voltando para casa, paramos. Hora de atitude de macho.

- Ambos sabemos que nossos amigos estão pilhando para que a gente tenha alguma coisa. Você é uma garota e tanto e é por isso que eu vou te contar algo. Curto caras.

Uma hora no meio da madrugada explicando para ela minha situação. No começo foi um pouco estranho, mas depois ela se soltou, rimos, falamos bobagens e coisas sérias. E na hora de me despedir, ela me puxou e a sessão de beijos voltou, porém agora naturalmente, sem o peso da pressão da galera ou de uma mentira ou pseudoomissão.

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PS: Pessoal, curto demais escrever escutando música. A partir de hoje, vou colocar links para uma música da banda que eu estiver escutando para escrever o post. Assim, vocês ficam sabendo um pouco mais do clima do momento da escrita. Hoje deixo vocês com "Kiss me, I'm Shitfaced", do Dropkick Murphys.

domingo, 18 de abril de 2010

Sensações

E nesse fim-de-semana fui na "festa hétero mais gay que existe" [palavras de meu amigo RP]. Quarenta mil pessoas sob muita iluminação e som eletrônico contagiante, que invade mesmo a mim, fã de um bom e velho rock. A ideia era chegar lá e deixar rolar. Realmente, não tinha como negar que nunca havia visto tamanha concentração de pessoas bonitas na mesma festa. Garotas de sorriso cândido e ar de malícia, homens fortes com barba por fazer e estrutura de esportistas.

Contexto perfeito para uma grande noitada se não fosse uma ligação dois dias antes. Ex-namorada no telefone:

- Ragazzo! Quanto tempo! Como que você vem para a cidade e não me avisa?

- Viagem corrida. Tenho que resolver algumas coisas. Não avisei ninguém. Minha mãe mesmo só ficou sabendo faz 10 minutos. Aliás, como você descobriu que eu tava aqui?[Achei estranho ela saber da minha viagem. Havia feito de tudo para uma passagem anônima pela cidade]

- Tenho meus informantes e dessa vez você não tem desculpa. A gente vai sair nesse fim-de-semana.

- Uma pena, mas já tenho planos. Vou a uma festa.

E na hora quase caiu o telefone da minha mão quando ela disse que iria à mesma festa.

Tudo esquematizado na cabeça. Pretendia dar um oi na festa e logo em seguida dar um perdido nela ou fingir que não a encontrava, mas aconteceu o oposto. Me deu muita vontade de vê-la. E lá fui eu, no meio de caras de tirar o ar, encontrar rastros do passado. E esse encontro, que começou com abraços, continuou com beijos durante quase toda a festa.

Em volta, nos momentos em que ficava sozinho, cruzava olhares com homens que pareciam esculpidos. Muitos deles retribuiam minhas investidas visuais com um sorriso de canto de boca seguido de um aceno de cabeça à moda de um convite. Mas... eu estava acompanhado.

Demorou para cair a ficha do que estava acontecendo. Com ela, eu tinha um carinho de mais de uma década. Queria intimidade naquela noite. Com qualquer outra pessoa, teria que começar esse percurso do zero e isso cansa. Por outro lado, sabia que não era nos braços dela que eu deveria ficar. E antes que eu jogasse mais areia nessa ferida, me despedi.

Ainda deu tempo de ver a Srta. I, que me mandava broncas por sms pela minha recaída e, mais tarde, coincidentemente encontrei um cara que eu tinha saído no reveillon do ano passado no Rio de Janeiro. Bom papo, clima esquentando, mãos se tocando displicentemente, fala com bocas próximas, uma tentativa de beijo, que recusei. Não queria beijos pontuais naquela noite.

sexta-feira, 26 de março de 2010

Insônia

Voltei? Sei não, mas preciso de um desabafo.

São 7:08h da manhã. Acabo de voltar de uma balada.

Fazia alguns meses que estava fora do Brasil e há um mês combinava com o Ponte Aérea de nos encontrarmos na minha chegada. Algo entre amigos. Uma tentativa.

Claro, isso me preocupava. Fiz as minhas e sabia que ele havia feito as dele, tanto que somente há 3 semanas começamos a contar sobre o que ocorria nos bastidores.

Contudo, uma coisa é saber e outra é ver...

Ontem ele me ligou. "Ragazzo, tô com um pega na tua cidade. Amanhã saímos só você e eu, mas depois ele vai junto". Eu me senti péssimo. Da última vez que nos vimos passamos a noite juntos e senti falta de consideração da parte dele. Eu estava preocupado há semanas em como seria, em como conseguiríamos manter a amizade. Fui claro: "Com ele não. Saímos os dois". No primeiro dia seria assim. Nos outros, nada combinado direito.

E lá fomos nós. Primeiro, esquenta em um boteco com um amigo em comum. Depois, balada.

Na festa, ele comentava do cara que ele tava ficando e de como tava legal. Eu, de amigão, segurando com um sorriso amarelo. Depois, ele começou uma conversa animada com um cara que conheceu no carnaval. Fiquei excluído. Tempos depois ele percebeu [bastante tempo depois] e fomos pra pista. Ele disse que ia ao banheiro e eu: "De boa, não tá dando certo. Vai e não volta aqui.". E nisso eu fiquei com um cara.

Algum tempo depois, talvez com o efeito da bebedeira passando, me dei conta do que acontecia. Disse para o cara que eu tinha que conversar com um amigo. Lá fui eu.

O Ponte Aérea dançava sozinho. Os olhos me encheram. Pouco depois ele disse que queria ir embora. Eu fui com ele. Poucas palavras no caminho. Eu disse: "Foi catastrófico, né?". Ele disse: "Foi".

Tentei abraçá-lo como amigo, fazer um cafuné. Ele disse que não curtia o toque. Foi forte para mim e fiquei triste. Ao deixá-lo, mandei uma mensagem: "Não sei o que dizer. Foi prematuro. Você tá certo. Não tá bem resolvido. Gosto um tanto de você e queria que fossemos amigos, mas tá foda. Achei que fosse ser mais fácil... juro!"

Respondeu-me uma mensagem neutra, como se tudo fosse normal. Eu fui pra casa sem sono. Gosto muito dele como pessoa, acima de tudo. Não queria magoá-lo, ainda que estivesse magoado quando nos encontramos.

Desde cedo sabia que não era para vê-lo. Algo me dizia. Mas a racionalidade sobrepões a intuição. Mundo infelizmente moderno... E com ele, um certo vazio...