quarta-feira, 27 de maio de 2009

Uma Festa Teatral: bissexualidade em quatro atos.

Uma peça com atores que ora atuam, ora vivenciam...

Ato 1: Uma garota linda da academia com fama de difícil, que não conheço tão bem, mas tenho no orkut, trocando mensagens comigo em meu scrapbook.

- Ragazzo, você vai na festa X? Afinal, a vida não é só trabalho... hehehe

- Nem vou. Tô super apurado. Tenho que terminar uns trabalhos.

- Ah... Certeza que a gente ia se divertir...

Ato 2: Decido ir à festa de última hora. Não aviso ninguém. Encontro uma garota que trabalha sob minha supervisão.

- Ragazzo, blá blá blá blá (ela estava bêbada e não parava de falar).

- É verdade... (resposta que não incentiva o assunto, sem cortar a pessoa, mas deixa claro que você não está no papo)

- Que bom que você concorda! (aproximando-se e falando ao pé do ouvido de uma maneira que não te deixa com muitas possibilidades de escapatória).

- (Você aponta para a cerveja e diz que por culpa dela tem que ir ao banheiro... e some).

Ato 3: Outra garota, antiga colega de trabalho.

- Ragazzzzzzzzzzzzzzoooooooooooooooooooo (gritando de longe).

- (Sorriso amarelo e passadas para mais longe. Essa está mais bêbada ainda).

Ato 4: Uma garota que te vê na pista de dança, conhecida de uma outra festa em que te chamou de "um apelido que te inflou o ego".

- (Sorriso malicioso, puxando você para dançar).

- (Você deixando-se ser puxado para dançar).

- (Ao fim da primeira música, ela te puxa para bastante perto).

- (Sem escapatória, você não vê muitas alternativas. Ela é uma gata, mas a atração é pouca. Está muito fácil. Ainda assim, você pensa: Se eu não fico agora com ela, acabo com meu armário. No fim da segunda música você a beija. Passa mais meia hora com ela. É gostoso, mas não sente aquele tesão. Ao fim, você diz:) Vou dar um oi para meus amigos, senão perco a carona.

- Vou ficar te esperando aqui.

- Logo estou de volta. (Mas você se deixa nesse meio tempo se entreter em um papo com uma amigona que encontrou. Vê ela passando. A que você acabou de beijar te vê de longe fingindo que não viu, mas você nem liga. Você ficou com fama de galinha, mas não está nem aí. Afinal, sabe que o que te tira do sério não é ela. Ou melhor, não são elas...)

Ato 5: Entrando no banheiro, você reencontra o cara do post "A Chave: ambiguidade" saindo.

- Falae Ragazzo!!! (com certa empolgação na entonação).

- Falae cara. Seu nome é mmmmmmm, não? (Fingindo que não tem certeza, apesar de você ter feito questão de decorar para procurar no orkut).

- É esse mesmo... (Em um tom de decepção, que você finge que nem percebe).

- (Você vai mijar achando que fez merda, enquanto ele vai embora. Vocês não se encontram mais na festa).

Clímax: Você fica de saco cheio consigo mesmo. Porra! Deu fora em várias garotas. Ficou com uma mina pela qual você nem estava tão empolgado. E o cara que você estava tão a fim, simplesmente você acabou dando uma gelada. Ok, ok, na festa havia várias pessoas que te conheciam bem. Assim aquele não era um bom momento. Mesmo assim, por que ser tão duro?

Como a imagem é um lance forte. Por mais que eu me sinta acolhido quando fico com garotas. É fato que eu me sinto muito mais vivo quando fico com caras. Com mulheres, o lance é sútil. É gostoso. Com caras o lance é mais animal.

Sou bissexual? Depende do que se considera por tal. Sou em termos de comportamento. Fico com caras e com garotas, porém, no fundo, sei que curto mais caras. Sei que é ali onde eu perco as rédeas. Por outro lado, fico meio sem saber o que fazer em relação a sentimentos. Com garotas, a coisa é mais suave, como em uma valsa. Com caras, o negócio é mais tenso, à moda de um rock pesado.

Também me pergunto se não é insistência minha sair com garotas porque, no fundo, é uma ação esperada de homens, como se não curtir garotas pudesse soar como "ser menos homem", algo já discutido nos comentários do post anterior.

No fim das contas, o melhor mesmo seria não haver essa pressão para se dizer o que se é. Prefiro sempre estar sendo...

sábado, 23 de maio de 2009

Conversa de Bar: o diferente

Após algumas muitas conversas por msn tendo como partida algumas fotos em mais um perfil fake do orkut, fui conhecer um cara em uma cidade próxima.

As expectativas eram altas. Não havia falado ao telefone, que é algo que não gosto de fazer com quem não conheço pessoalmente, mas ainda assim não via muitas possibilidades de algo dar errado. Tínhamos perfis parecidos, profissões semelhantes, gostos afins.

No local marcado, vejo ele vindo de longe. Pensei de longe: corpão! Mas isso as fotos já tinham antecipado. Quando o cara abre a boca, decepção. Não latia, miava.

Na hora deixei de ficar à vontade. Havíamos marcado de assistir um filme que ambos queríamos ver. Na sessão, fazia de tudo para ficar o mais longe possível dele. Suas tentativas de aproximações escusas com a mão eram claramente repelidas, o que em uma película preto-e-branco daria uma bela comédia de tempos chaplinianos.

Me despedi aliviado e assim terminou um pequeno grande conto.

Por que contei essa história? Porque esses dias eu percebi que muitas vezes nos fazemos de vítimas sociais, ao sentirmos que não somos aceitos, quando nós mesmos temos nossas categorizações, preconceitos e mecanismos de exclusão.

Assumo que sou preconceituoso com afeminados, ainda que racionalmente gostaria de não sê-lo. Isso me lembra que também tenho meus problemas em aceitar algumas coisas e, desse modo, como exigir que aceitem qualquer coisa de mim?

Todos temos limites, que nem sempre são iguais. Às vezes sabemos dos nossos, mas nos esquivamos de compreender os dos outros.

Há uma frase-clichê que acho no fundo vazia e simplista: "Se é seu amigo verdadeiro, te aceitará de qualquer modo". Cada um tem seu limite, e é possível que outros modos de se exercer a sexualidade esteja além do limite de seu amigo. Por isso é uma má pessoa? De modo algum. É apenas humano.

O diferente incomoda por diversos motivos. Aquilo que não se entende, que rompe alguns padrões, agride. Agride, pois não se sabe o que esperar. Dói saber que essa perda de controle abre a possibilidade de alteração de toda a estrutura.

Por outro lado, o diferente pode agridir ao se perceber uma semelhança ali também. É o medo de se tornar diferente também. É a possibilidade de vir a ser um diferente. E aqui, meus amigos, talvez resida o meu distanciamento a afeminados.

sábado, 16 de maio de 2009

Meu Ex-quase-namorado

Em uma noite sem um pingo de sono, entrei em um chat, muito mais para passar o tempo do que movido pela expectativa de conhecer alguém interessante.

Conheci um cara simpático, sem ser meloso, que não distribuía sorrisos no msn, passando um pouco até por canastrão. Ou seja, meu número.

Após algumas conversas de msn, marcamos em um bar e quando o vi, pensei: "Agora acertei". Muito bonito, sorriso na medida certa, inteligente, com um humor interessantemente sarcástico, sem contar que acabava de voltar do emprego e usava um terno, um charme a mais.

Ficamos no mesmo dia e nos dias seguintes. Ele trabalhava o dia todo e em seguida vinha me ver. Comecei a me empolgar e vislumbrar a possibilidade de uma relação.

Conversamos sobre isso, me sentia apaixonado. Resolvi contar para algumas pessoas ao meu redor para que eu tivesse maior liberdade para rolar aquela relação. O armário iria finalmente ser aberto. Possivelmente muita gente ia se chocar, mas imaginava fazê-lo por um bom motivo. Marquei um boteco à noite com um amigão e ali ele seria o promeiro a saber.

Antes, porém, tinha algumas reuniões importantes em um dia cheio. Na primeira da tarde, senti o celular vibrando em minhas calças: era meu "quase-namorado". Discretamente, escrevi uma mensagem dizendo que estava em reunião.

Duas horas depois, em outra reunião, recebi uma mensagem. Como nessa havia menos pessoas, não tive como lê-la. Em seguida, outra mensagem, outra, e outra. Pedi licença para ir ao banheiro, pois estava preocupado. Quando li as mensagens, nessa ordem, diziam algo como:

1) Estou com saudades;
2) Por que não me responde? Continuo com saudades.
3) Se não está a fim, por que não diz logo?
4) Desculpe por criar tantas expectativas. Achei que estivesse rolando algo legal.

Estava rolando algo legal, mas naquele momento tudo acabou. A melação e a insegurança dele destruiram qualquer possibilidade de algo ir para frente. Desencantei-me no ato.

Desmarquei com meu amigo para encontrar meu quase-namorado, que agora virara ex-quase-namorado. Olhei-o nos olhos, vi que já não sentia chama alguma e deixei isso claro.

Podem achar o "rompimento" supérfluo, mas o fato é que foi tocado um ponto crucial para mim: minha liberdade e a insegurança do outro. Não preciso fazer sinal de fumaça a cada 3 minutos para dizer que gosto de alguém. Não preciso viver em função de outra pessoa para mostrar que gosto dela. Pelo contrário, gosto de quem sou e quero que alguém ao meu lado goste de si também e, nesse caso, qualquer forma de anulamento é mal-vinda.

O que preciso é ter alguém para quem eu possa chegar no fim do dia, dar um abração e contar o dia, beber uma cerveja bem gelada e rir junto com os amigos, falar coisa séria, falar coisa boba. Se precisar viajar, ou fazer outros programas sozinho, sem problemas, cada um tem suas necessidade. E em noites frias como essa, nada como um outro pé para esquentar.

Não quero alguém para possuir, mas para compartilhar. E isso, meus amigos, está difícil de achar nos dias de hoje, seja qual for a sexualidade que você exerça.

sábado, 9 de maio de 2009

A Divina Comédia dos Três Mosqueteiros

Fim-de-semana morno. Ligação de um ex-rolo de outra cidade, que virou amigão.

- Ragazzo, vamos a uma sauna?

- Sei não. Você sabe que não curto.

- Na pior hipótese você fica no bar bebendo.

Como não tinha mesmo planos para aquele dia, acabei indo. Fomos em três. Três mosqueteiros, cada um com um objetivo diverso, um menos nobre que o outro.

Após quase duas horas de viagem, chegamos. Conhecemos o lugar. Na entrada, uma pulseira-coleira, que vira acessório à mercê da imaginação de cada um. Em seguida, um vestiário cheio de espelhos, onde nos trocamos a miradas que usavam as leis da reflexão para nos alcançarem. Decidi ficar de sunga por baixo da toalha, mais por preocupação com higiene do que por um pudor que já há algum tempo perdeu sentido.

Saindo do vestiário, uma sala com o bar e algumas mesas. Pessoas conversando animadamente. Um local menos sexualizado do que pensei que seria. Dali, duas opções: o céu, por uma porta que leva às saunas a seco e a vapor, onde às vezes rola algo a se observar, com vários anjos-demônios nus sob as duchas em clara exibição; ou se pode tomar as escadas para o inferno, o que fica evidente pelos passos rápidos daqueles que tomam tal caminho. No inferno, uma sala de filmes, alguns quartos privativos e um corredor escuro, onde creio que até o diabo entraria com cautela.

Meus amigos foram direto ao céu e ao inferno, e por ali ficaram. Eu preferi o purgatório do bar, suas conversas desprentensiosamente pretensiosas, seus flertes à distância, sorrisos de lado acanhados, olhares que a todo momento se cruzam.

Alguns vieram conversar comigo. Dei atenção a todos, mas sem esbarrar em meu desejo. Um foi mais insistente, mas não invasivo. Era bastante bonito e inteligente, mas faltava-lhe a presença masculina. Lembrava-me mais um garoto do que um homem.

Durante a conversa, cruzei olhar com alguém que me interessou. Corpo troncudo, pernas grossas, ombros largos, bronzeado, com olhar profundo e sorriso discreto.

Ao mesmo tempo, meu interlocutor, no entanto, não se conformava por eu não me sentir atraído por ele. Perguntava: "por quê?". Diante de uma pergunta tão direta, fui igualmente sincero: "Porque me interessei por outra pessoa.". Levantei-me e sentei à mesa ao lado com o cara que havia flertado à distância.

Cara interessante e charmoso, com voz grave e sotaque carioca. Tínhamos estilos de vida parecidos, com a diferença que ele era casado e eu, solteiro. Ainda não sei em que medida isso afetou meu interesse. Naquele momento ética não fazia muito sentido.

Ficamos. Foi bastante bom. Não transamos, de comum acordo, apesar de os corpos pedirem. Não, naquele lugar, não.

Ao se despedir, pediu meu telefone. Eu perguntei: "Para quê? Você acha mesmo que irá me ligar?". Ele disse: "Pode ter certeza que vou". Trocamos os telefones. Ele disse: "Cuide-se aqui. Já aprontou o suficiente por hoje..." e gargalhou. Eu ri junto e 5 minutos depois estava com outro cara.

No vestiário, meus amigos me esperavam. Um deles curtiu demais o lugar. O outro estava quieto e emburrado, dizendo que tinha se interessado pelo cara que eu dei fora, mas que ele passou o resto do dia inconformado por eu ter escolhido outra pessoa. Creio que teve o ego machucado.

Depois de um mês, cá estou. Athos, que havia curtido a sauna, não vê a hora de voltar. Phortos, que havia esquentado a orelha escutando as reclamações do cara rejeitado não pensa em retornar. Aramis, que vos escreve, pensa que foi uma experiência diferente, que, apesar do preconceito que tem com tais locais, vê que eles têm as suas próprias regras, que não precisam ser as suas e nem devem se impor às suas.

Ah, sim, o carioca não ligou para mim, nem eu a ele, como era esperado...

sexta-feira, 1 de maio de 2009

A Chave: ambiguidade

Aqui no blog ou por msn, volta e meia me perguntam como se aproximar de um cara sem dar pinta, como sacar se o cara curte etc.

Vejamos algo que aconteceu essa semana.

Contexto: uma festa com mais dois amigos, que nada sabem de mim.

Em geral, nessas festas prefiro fazer um social. Conhecer pessoas, fazer contatos, ampliar minha rede. Evito deixar meu desejo fluir muito, ainda que com garotas, tentando permanecer na racionalidade. Faço isso, pois me considero como um dique. Se uma rachadura aparece, é possível que logo em seguida toda a barragem se despedace. Assim vejo meu desejo. Se dou margem a ele em um momento social, tenho receio de não controlar seu alvo e, quando me der conta, estar com segundas intenções em uma situação em que alguém poderia perceber pequenos atos de interesse.

Claro, nem sempre esse controle é possível, principalmente com algumas cervejas na cabeça.

Foi o que aconteceu em uma festa algum tempo atrás, em que fui parar na ducha com um amigo, já relatado em outro post, e o que ocorreu essa semana, ainda que por ora tenha ficado apenas no flerte implícito.

Já estava na festa há algum tempo. Conversava com uma garota, rolo do passado, quando, de rabo de olho, vi um cara bastante interessante passar, com um sorriso bonito, corpo ajeitado e distribuindo cumprimentos. Porte, segurança e sociabilidade são três características que me chamam bastante a atenção.

Mais tarde, andava sozinho pela festa, quando senti alguém puxando meu braço. Virei-me e fiquei surpreso ao perceber que era o mesmo cara que eu havia admirado um pouco antes. Ele começou o papo dizendo que sempre me via entrando no trabalho com uma cuia de chimarrão.

Dei trela à conversa de uma maneira neutra, evitando esboçar muita reação. Ele se esforçava para alongar a conversa, abrindo para diferentes assuntos. A conversa fluiu bem, a ponto de ele pedir meu telefone para combinarmos uma viagem para uma certa cidade, que foi um dos temas que conversamos. Despedimo-nos e, durante a festa, sempre que nos encontrávamos de passagem, ele dava um tapinha em meu ombro.

Claro, o cara me interessou, mas sou precavido. Dois pontos são importantes levar em consideração: "o que me faz crer na possibilidade de que algo role" e "o que fazer no caso de eu estar errado em relação ao interesse dele?".

Sempre me atento a essas duas perguntas, pois é o que me possibilita não ser refém da net ou de ambientes gls e de poder continuar no armário.

Vejamos quais os indícios de minha história que me levaram a uma investida:

1) um cara que conhece um grande número de pessoas na festa dificilmente faz amizade com um estranho. Afinal, abordar um estranho é um indicativo de algum interesse, seja para passar o tempo (usualmente ocorrendo em conversas ocasionais, como em filas de banheiro, ou quando duas pessoas estão meio desencontradas), ou para inserção em algum grupo;

2) se feito um primeiro contato, o outro não se mostra animado com a conversa, a tentativa de manutenção do papo é outro indicativo de interesse;

3) homens não trocam telefones em uma festa, a não ser que tenham algum motivo prático para isso. Quando algum cara pede o telefone do outro, em geral se expõe, pois deixa claro que tem interesse de que quer que o contato se mantenha.

Resumindo. Para mim, a aproximação entre caras em um meio hétero se dá em um certo jogo, em que se testa mutuamente o outro. Nesse teste, tento dar respostas ambíguas, à espera de um novo teste. A afirmativa do interesse se dá pela probabilidade, ao se ter um grande número de respostas ambíguas. Um sim verbal nunca ocorre.

E quais foram minhas respostas ambíguas? Não tentei alongar a conversa. Mantinha-me no assunto proposto. Ao ser convidado para viajar, não me mostrei tão empolgado, mas ao mesmo tempo interessado pelo local. Quando pediu meu telefone, dei-lhe, mas não pedi o dele.

Ambiguidade, ainda que torne a aproximação mais lenta, é meu mecanismo de defesa, de modo que, na aproximação, ajo na exposição do outro e não na minha. Em um segundo momento, no entanto, me exponho na iniciativa.

É o que farei se o cara efetivamente me ligar. E se a história for boa para uma discussão, virará post.