sábado, 28 de março de 2009

Narciso e o outro

"Por que se atrair por um igual?"

Há perguntas que volta e meia retornam e essa é uma delas. Retomo-a por um comentário que o Rodrigo fez em um dos posts semana passada. Quando li o comentário, lembrei de um grande amigo que certa vez me disse: "Me transformei em quem eu procuro". Outro amigo uma vez afirmou: "me traio por quem eu admiro". Em meio a essas recordações, me senti convidado a pensar sobre isso.

Em uma relação heterossexual não há como procurar iguais, pois de cara já existe a barreira biológica de dois corpos distintos. Daí fazer sentido falar-se em complementaridade. E entre homens, como isso funciona? Por que buscar um outro que biologicamente tem as mesmas possibilidades que você?

Acho simplista pensar que a resposta se reduza à busca de maior prazer. Creio que isso é sintoma, mas não razão. Vou olhar para mim mesmo à procura de algum insight.

Quem eu procuro? O que eu procuro? Atentando-me ao que usualmente me atrai, percebo que as características que me chamam atenção em outro cara são exatamente as mesmas que possuo e aprecio, ou que não possuo, mas gostaria de possuir.

No fim das contas, acabo me realizando com quem estou junto. dois tornam-se um. Mesmas caracrterísticas, certezas e dúvidas convergentes, ou seja, qualidades e defeitos potencializados por haver dois seres agindo como se fossem um só. Daí talvez a dificuldade do equilíbrio em uma relação entre homens.

O complicado é que, pensando assim, tenho a impressão de que a busca pelo outro é ilusória. No fim das contas, o que buscamos é nós mesmos, ou melhor, buscamos a idealização de nós mesmos e acabamos girando em círculos, impelidos por esse narcisismo sem fim.

Hum... para Lacan esse seria um ponto de basta: Será o meu interesse pelo outro puro narcisismo? O preocupante é que já sabemos como Narciso acaba: hipnotizado pela própria imagem na lagoa de Eco, Narciso definha até o fim de seus dias.

sábado, 21 de março de 2009

Hematomas

Acabei de acordar com dor-de-cabeça, sem conseguir levantar direito o braço esquerdo e com o traseiro dolorido. Andando com um pouco de dor, vou ao banheiro. Me olho no espelho e vejo um vergão na junta entre ombro e costas.

Não, não é o que estão pensando. Recompondo o mosaico de lembranças da festa de ontem, lembro que tudo isso se deve a uma melancia. Sim, uma melancia atômica (aquelas que se enche de Vodka) que estava despedaçada no chão e que, junto à água da piscina e algumas muitas cervejas, propiciou a situação perfeita para eu levar um tombo digno de medalha.

Na hora, nada senti. Hoje, junto a essas lembranças vieram outros hematomas, mais interessantes de serem comentados aqui.

O churrasco era despedida de um amigo que trabalha na mesma empresa que eu. Na festa estavam a minha perseguidora, do post anterior, e o cara que eu havia ficado mais próximo em outra festa (a casa era dele), mas que minha perseguidora havia me feito o favor de melar o esquema (também comentado no post anterior). Também estavam outros amigos e o namorado de uma amiga, que mora em outra cidade, e que até então era lenda para mim.

A noite prometia. Conheci esse namorado de minha amiga. Que cara charmoso! Interessantíssimo! Conversamos por uma boa hora. Deu vontade de dar uma apertada nele. O apito soou. Ali tem coisa. Rolava uma encostada de braços e uma cumplicidade maior do que o usual para uma primeira conversa entre dois caras. A pena é que tiveram que ir embora cedo, pois tinham marcado de ir a um show.

Havia também uma piscina no churrasco. Os primeiros a pular foram a minha perseguidora, que nem tem mais me perseguido (continuo chamando assim para saberem quem é, ainda que ela esteja em um período de calmaria), e o cara da festa passada. Depois que o churrasco esvaziou um pouco, arranquei as calças e pulei também, só de cueca.

A festa foi aos poucos esvaziando. Até a minha perseguidora se foi. Quando percebi, só havia 4 pessoas: eu, o cara dono da casa e com quem já rolava uma afinidade, e dois outros amigos, que estavam conversando próximo à churrasqueira.

Começou a fazer muito frio. Como estávamos molhados, fomos tomar uma ducha quente. Meu novo amigo foi na frente. Os outros ainda brincaram que não era para a gente tomar junto. Contra tais conselhos, fui atrás para ficar conversando. O banheiro estava com a porta aberta, com meu amigo se banhando de shorts. Olhei para ele e meu lado impulsivo, meu lado lobo, tomou conta de mim. Entrei junto, segurei forte os braços dele, virei ele de costas para mim, com ele relutando um pouco. Travei o traseiro dele entre minhas pernas e beijei seu pecoço. Falei baixinho ao pé do ouvido: se você não estivesse gostando, já poderia ter me dado um soco. Ele virou e me beijou.

Tentei tirar seu shorts, mas como o nó estava cego, não consegui. Comecei a acariciá-lo por dentro do shorts mesmo. Contornei seu traseiro. Quando encostei o dedo em seu ânus, ele gemeu e deu um pulo pra frente, dizendo que "tinha preconceito contra essas coisas". Começou a falar que seria bom se tivesse uma mulher com a gente, especialmente "a gostosa da.... (minha perseguidora)". Contou que tinha ido pra cama com ela semana passada e tal (eis a razão da calmaria dela...hehe). Em suma, ao mesmo tempo que estava comigo, sendo acariciado, levando mordiscadas no pescoço e tendo a nuca roçada por minha barba por fazer, fazia questão de ressaltar sua masculinidade, de dizer que aquele era um momento, que o lance dele era mulher e tals.

Hoje parei para pensar nisso. Também costumava falar de mulheres enquanto estava com caras. Era um modo de me iludir de que estar com caras era apenas uma situação instantânea, mas que no dia seguinte estaria de volta às mulheres. Além disso, dizer que também se curte garotas pode se caracterizar como uma característica de masculinidade. É um modo de dizer que curtir caras é secundário, que não nos identificamos com o grupo "gay".

Voltando à história, paramos ali com receio de que algum dos outros dois amigos aparecesse. Ele ainda teve tempo de me dizer que nunca tinha saído com um cara antes. Combinamos de nos vermos novamente outro dia para continuarmos.

O cara me interessa. A dúvida dele mexe com minha libido. Fico motivado para conquistar a certeza dele, mostrar que ficar com caras é bom. Olhando para os motivos que me impulsionam a continuar a brincadeira, assumo: sou um filho-da-puta.

domingo, 15 de março de 2009

A perseguidora

Dessa vez arrumei para a cabeça.

Em janeiro saí com uma garota. Era para ser a saída mais simples do mundo. Fazia um mês que nos conhecíamos, rolava um clima, ela namorava há alguns anos um cara bonitão e iria voltar no dia seguinte para os braços do namorado na cidade em que vivia em outro estado. Tudo parecia ao meu favor. Gata quente e sem complicações pós-noitada. Resolvi fazer uma despedida que ela não se esquecesse e passamos a noite juntos.

Ledo engano. Ela realmente foi embora no dia seguinte, mas começou a me enviar e-mails diários. Um pouco assustado, falei francamente que não rolaria mais. Ela parece que escutou ao contrário, pois terminou com o namorado e mudou-se para a minha cidade, pedindo tranferência para trabalhar no mesmo lugar que eu.

Desde então ela faz sinal de fumaça sempre que pode. Tenta fazer-se presente a todo custo, usando desculpas ingênuas para fazer suas aparições aparentarem coincidências. Isso me irrita, afinal, de bobo e ingênuo não tenho nada.

Além da encheção, tem algo que me preocupa nessa história. Ele me pôs em seu foco de atenção 24 h diárias e isso gera um grave problema. Ela pode começar a se questionar o porquê de um cara (sem falsa modéstia) bem realizado, bonito e inteligente estar solteiro já há um tempo maior do que o esperado. E assim ela poderá chegar a perguntas sobre meu estilo de vida que eu não gostaria que ela se fizesse. Seria um risco ao armário.

Semana passada já passei apuro por conta de algo do tipo. Fui a uma festa em que ela também estava. Lá conheci melhor um pessoal bacana que até então só conhecia de vista. Dentre esses, um cara bastante interessante, com uma voz bastante grave, pernas fortes e um olhar calmo e seguro. Conversamos por muito tempo sobre os mais diversos assuntos, desde filosofia a esportes radicais. Chegamos até a combinarmos de fazer algumas trilhas de bike e acampar, coisas que ambos gostamos. Rolou uma afinidade que um olhar bem treinado já saca.

Já de madrugada, fim de festa, pessoal já zonzo pela bebida, hora de atacar. Combinei com o cara de irmos embora a pé, por conta da bebida e também para continuarmos o papo. Já saíamos à francesa quando a garota sai como um fantasma do carro que estava de carona, dizendo que iria com a gente para fazer exercícios. Tremendo balde de água fria! Queria esganá-la. Além de melar meu esquema, eu ainda teria que arrumar um jeito de ela não pular no meu pescoço na hora de deixá-la em casa. E digo, amigos, não foi fácil, pois ela parecia bastante decidida a me catar naquele dia.

No fim das contas, tive que apelar para a desculpa do "ainda curto a minha ex-namorada", que por mais que faça tempo que não estejamos juntos, não deixa de ser meia verdade, que é reforçada por um mini feedback que tivemos no reveillon.

Achei que ela tivesse entendido o recado, até que meia hora depois eu recebi uma mensagem dela no celular, perguntando se ela não poderia vir dormir em casa. Não respondi. Certifiquei-me que a casa estava bem fechada, apaguei as luzes e dormi como um anjo.

Nessas horas penso que se sair com caras não é fácil, sair com garotas não é menos complicado... hehe