terça-feira, 27 de abril de 2010

Entorno

Ao som Blowin'in the Wind, de Bob Dylan, Ragazzo está solteiro e sem uma meta objetiva. Por mais que eu ache que esteja na hora de sossegar com alguém, essa fase é de uma leveza e tanto. É ótimo você estar aberto ao que está a sua volta sem as pressões de fazer ou não fazer algo, sem a preocupação com alguém específico. É a hora de brincar, flertar, dar dicas, confundir etc. Confesso que me divirto nesse prestar atenção. E nessa diversão, quem sabe algo mais importante não ocorre de maneira fluida e natural?

Hoje na academia, encontrei o "Olhos Claros". Pernas de jogador de futebol, cabelos escuros e olhos enigmáticos cor-do-mar. Nunca escutei sua voz. Faz tempo que nos conhecemos de vista. Uma vez na sauna do clube, ficou me encarando pelo espelho e acariciou as coxas discretamente. Eu fiz o mesmo, mas no desafio do desvio de olhar, perdi. Exposição em lugares públicos me amedronta. Um deslize e você perde o controle.

A garota do post passado agora decidiu que eu devo ficar com todos os caras gays que ela conhece e que ela acha um partidão. Ela "brinca" que em troca eu pago ela em beijos. Quinta em um churrasco ela me mostrou o "Modelo". Rosto perfeitamente moldado com olhos claros que causam inveja, muito bonito, observador e companheiro de cerveja. Muito interessante a situação em que você sabe que um cara curte, mas que ele não sabe de você. Conversamos, e até combinamos de fazer uma dupla de "taco" ["bets" para o pessoal mais do interior]. O engraçado é que no final do churrasco o amigo do Modelo chegou na minha amiga, querendo conhecer o "colírio" que ela tinha trazido para a festa. Óbvio que ela negou qualquer interesse meu. Além de eu não me expor em tais lugares, ele não era partidão como o amigo.

E por que não continuar com contatos antigos? Reveillon na Argentina. Conheci o "Sorrisão", um cara tribacana, no hotel em que eu estava hospedado. Um dia chamei-o para sair. Dei o bote e ficamos juntos pelo resto dos meus dias lá. Depois fiz uma viagem longa e nos comunicamos algum tempo por e-mail. A coisa foi esfriando e paramos. Voltei e ele estava namorando. Ainda saímos para beber uma cerveja como amigos, mas na despedida rolaram aqueles abraços mais fortes e beijos de canto de boca. A ética falou mais alto e ficamos só nisso. Agora, namoro acabado, combinamos de nos vermos em duas semanas para mais uma cerveja.

Sabe quando você de repente encontra um contato de anos com quem você nunca conversa na net e, um belo dia, você dá a chance e descobre que vocês têm um bocado em comum? A empolgação com o "Mr. Net" aumenta ainda mais quando você vê que o cara é fã de academia e que tem barba-por-fazer. Você fica preocupado quando descobre que vocês têm uma amiga em comum. Eita coincidência do destino. Fica mais tranquilo e releva quando descobre que o irmão dessa amiga curte caras e que ela leva isso muito numa boa. Cerveja marcada na sexta com o Mr. Net.

E as opções surgem para aquele que fica atento, sem procura e sem ansiedade. Olhos Claros, Modelo, Sorrisão e Mr. Net são apenas exemplos de gente que passa pela sua vida, nunca se sabendo a priori para quê, por quanto tempo e de que maneira. E é essa a graça do imprevisível.

quinta-feira, 22 de abril de 2010

Supercasal ao Resgate!

Por que será que quando você chega perto dos 30, a maioria dos seus amigos que está em um namoro morno vira casamenteiro? Por mais que você pareça bem com sua solteirice, que você curta as festas, que você adore viajar sozinho, é inevitável que tentem te casar também.

Essa prática milenar começa em geral com um casal que, surpreendentemente percebe que o amigo do namorado e a amiga da namorada "nasceram um para o outro", só faltando aquele empurrãozinho. E daí, mesmo sem o super chamado de ajuda, o supercasal vem em seu auxílio. Os super-herois apenas não param para pensar que os dois simplesmente estão bem do modo como estão [ou que o amigo do namorado no momento está preferindo um namorado que uma namorada... haha].

Ontem caí nessa armadilha. Chegando em uma festa com amigos, olho em volta e vejo que quase todos do grupo em que eu estava formavam parelhas. Quiçá fosse junho para eu achar que fosse uma quadrilha.

E no meio da noite, um cara inconveniente regado a muitas cervejas começa a dar em cima da amiga solteira da namorada do amigo. Oportunidade perfeita para o supercasal surgir do meio das nuvens:

- Chegou atrasado, meu amigo, ela é namorada do Ragazzo.

Ele vira para mim, desculpa-se. Mas o supercasal ainda não estava satisfeito. Sua meta era bem maior que isso.

- E claro que o Ragazzo vai beijar a namorada.

Em coro, surge a liga dos casais: "Beija! Beija! Beija!".

Viro, achando que a amiga da namorada do amigo estaria com cara de enfadada, mas ao vê-la com um sorrisão de ponta a ponta, não tive outra coisa que fazer. Beijei. Os outros casais fizeram o mesmo. Uma "ola" de beijos. Um dominó de casais. Uma amiga mais íntima que sabe mais de mim que todo o resto, com o namorado, se divertia silenciosamente da situação em que o Ragazzo estava.

Mais tarde, muita coisa passou pela minha cabeça. A amiga da namorada do amigo vinha se tornando uma amiga já há algum tempo e sabia que aquilo não ia acabar bem. Inevitavelmente iria me distanciar dela, para que não cogitasse o motivo pelo qual um novo casal não se formaria. Lembrei-me da Perseguidora, que hoje em dia mal conversa comigo [e que começou a namorar o "Amigo da Ducha"], do número de meninas que eu não ligava no dia seguinte e que se chateavam sem saber a razão de não haver retorno pós-noitada. Senti-me um pouco covarde.

No carro, voltando para casa, paramos. Hora de atitude de macho.

- Ambos sabemos que nossos amigos estão pilhando para que a gente tenha alguma coisa. Você é uma garota e tanto e é por isso que eu vou te contar algo. Curto caras.

Uma hora no meio da madrugada explicando para ela minha situação. No começo foi um pouco estranho, mas depois ela se soltou, rimos, falamos bobagens e coisas sérias. E na hora de me despedir, ela me puxou e a sessão de beijos voltou, porém agora naturalmente, sem o peso da pressão da galera ou de uma mentira ou pseudoomissão.

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PS: Pessoal, curto demais escrever escutando música. A partir de hoje, vou colocar links para uma música da banda que eu estiver escutando para escrever o post. Assim, vocês ficam sabendo um pouco mais do clima do momento da escrita. Hoje deixo vocês com "Kiss me, I'm Shitfaced", do Dropkick Murphys.

domingo, 18 de abril de 2010

Sensações

E nesse fim-de-semana fui na "festa hétero mais gay que existe" [palavras de meu amigo RP]. Quarenta mil pessoas sob muita iluminação e som eletrônico contagiante, que invade mesmo a mim, fã de um bom e velho rock. A ideia era chegar lá e deixar rolar. Realmente, não tinha como negar que nunca havia visto tamanha concentração de pessoas bonitas na mesma festa. Garotas de sorriso cândido e ar de malícia, homens fortes com barba por fazer e estrutura de esportistas.

Contexto perfeito para uma grande noitada se não fosse uma ligação dois dias antes. Ex-namorada no telefone:

- Ragazzo! Quanto tempo! Como que você vem para a cidade e não me avisa?

- Viagem corrida. Tenho que resolver algumas coisas. Não avisei ninguém. Minha mãe mesmo só ficou sabendo faz 10 minutos. Aliás, como você descobriu que eu tava aqui?[Achei estranho ela saber da minha viagem. Havia feito de tudo para uma passagem anônima pela cidade]

- Tenho meus informantes e dessa vez você não tem desculpa. A gente vai sair nesse fim-de-semana.

- Uma pena, mas já tenho planos. Vou a uma festa.

E na hora quase caiu o telefone da minha mão quando ela disse que iria à mesma festa.

Tudo esquematizado na cabeça. Pretendia dar um oi na festa e logo em seguida dar um perdido nela ou fingir que não a encontrava, mas aconteceu o oposto. Me deu muita vontade de vê-la. E lá fui eu, no meio de caras de tirar o ar, encontrar rastros do passado. E esse encontro, que começou com abraços, continuou com beijos durante quase toda a festa.

Em volta, nos momentos em que ficava sozinho, cruzava olhares com homens que pareciam esculpidos. Muitos deles retribuiam minhas investidas visuais com um sorriso de canto de boca seguido de um aceno de cabeça à moda de um convite. Mas... eu estava acompanhado.

Demorou para cair a ficha do que estava acontecendo. Com ela, eu tinha um carinho de mais de uma década. Queria intimidade naquela noite. Com qualquer outra pessoa, teria que começar esse percurso do zero e isso cansa. Por outro lado, sabia que não era nos braços dela que eu deveria ficar. E antes que eu jogasse mais areia nessa ferida, me despedi.

Ainda deu tempo de ver a Srta. I, que me mandava broncas por sms pela minha recaída e, mais tarde, coincidentemente encontrei um cara que eu tinha saído no reveillon do ano passado no Rio de Janeiro. Bom papo, clima esquentando, mãos se tocando displicentemente, fala com bocas próximas, uma tentativa de beijo, que recusei. Não queria beijos pontuais naquela noite.