sábado, 12 de dezembro de 2009

Sobre cigarros, ilhas desertas e exposições

Uai, cadê o Ragazzo?

Parece até um deja vu, em que ele sai para comprar cigarros e nunca mais aparece.

Não, não foi bem isso, até porque parei de fumar no dia do falecimento de minha avó [foi meu presente póstumo após 15 anos de vício – e aos bons de conta, digo que não sou velho, mas que iniciei no vício bem jovem... haha].

Também não sumi por estar em uma ilha deserta com um cara que faz eu me sentir bem pra caramba [na verdade, até acho que encontrei um cara assim e até quis levá-lo para a tal ilha deserta, mas como a vida não é um conto-de-fadas, não deu muito certo por uma série de fatores].

Pelo contrário, sumi porque as coisas não vão muito bem [e isso também tem a ver com o cara que eu queria levar para uma ilha deserta].

Claro, a lógica até então usada me levaria a escrever mais e mais, freneticamente talvez. Mas aí surgiu um impasse. Neguei-me a escrever ou, nas vezes que escrevi, não quis postar.

O motivo é simples. Há algum tempo meu anonimato perdeu-se um pouco. Alguns leitores do blog já me conhecem pessoalmente. Algumas pessoas que me são caras receberam minhas confissões em um gesto de confiança. Uma pessoa que se tornou importante para mim foi incluída no rol de leitores em um momento em que quis compartilhar minha vida com ela [ olha o cara da ilha deserta de novo. Parece até fantasma... haha].

Entretanto, depois de um tempo complicado na vida em que assoprei velas, me envolvi, fiz besteiras [que acabei superestimando e que hoje nem mesmo sei se foram tão besteiras], reavaliei minha vida e vi que não estava indo aonde queria, de modo que aquela mesma exposição pensada e concebida começou a me incomodar.

Já tenho receio de postar por inevitavelmente envolver pessoas que lerão sobre si depois. Não me sinto mais à vontade para descrever as situações que vivencio e que me levem a discussões e reflexões. Seria exposição minha [e daí minha decisão], mas seria dos outros também [que não teriam muito controle sobre isso]. Além disso, tenho uma grande lei nos meus relacionamentos, que chamo de Lei da Reciprocidade. Não quero que pessoas que me são caras saibam mais de mim do que eu delas. Ou melhor, quero, mas somente quando elas têm interesse em se mostrarem igualmente transparentes. Quero me mostrar por merecimento [Sai fantasma! Hehe].

Por isso, meus amigos, agradeço demais a companhia que me fizeram como parceiros de discussões nesse grande divã coletivo. Ajudaram-me um bocado e espero ter ajudado algumas pessoas. Não digo que esse é um adeus, mas um até logo. É como se eu realmente tivesse ido comprar cigarros e não voltado, mas, no meio do caminho, com receio de perder algo criado, resolvi enviar uma nota dizendo que posso ainda retornar, o que pode demorar dias, semanas, anos ou mesmo nunca acontecer. Aí a minha porção instável [e minha dica para que voltem aqui de vez em quando para ver se voltei à ativa].

E como não descarto a possibilidade de aumentar meu rol de amigos, deixo meu msn nessa mesma nota. Bons de papo serão bem-vindos [se forem bonitões, malhados, com barba por fazer e com uma certa rudeza, então, melhor ainda. A vaga para a ilha deserta com companhia do Ragazzo ainda está de pé..hehehe]. Basta me adicionarem no msn unragazzopazzo@hotmail.com . Posso não entrar sempre lá, mas volta e meia faço uma visita.

Um até logo e um Feliz Natal do Ragazzo

domingo, 22 de novembro de 2009

Saltando de Cabeça

O que um churrasco que começa às 9h da manhã sem horas para terminar pode oferecer de surpresas?

Pela manhã, me olho no espelho e percebo um galo na testa e um nariz inchado.

Cecete!! O que aconteceu?

Ragazzo faz um esforço mental.

É... realmente muita coisa aconteceu. O galo e o nariz são fichinha. Fruto de um salto em uma piscina não funda o suficiente em um momento em que eu já deveria estar acorrentado ao farmacêutico tomando glicose.

E claro, com álcool na cabeça em um dia de adolescente, eu não fui ao médico.

Cena insólita: Ragazzo com um saco de gelo na mão esquerda para parar o inchaço do nariz e uma cerveja na direita.

Companheira de cena: uma amiga que, no churrasco anterior, quando nem nos conhecíamos tanto assim, tinha quase me agarrado à força.

Mini flash back explicativo: Nesse churrasco, há quase um ano, essa mesma amiga apertava meu braço com força quando eu conversava com outra garota e dizia: “Por que você está com ela se quem você quer sou eu?” Eu ria de canto de boca, enquanto meus amigos em volta rachavam o bico. Pouco tempo depois ela parou. Nunca achei tão bom alguém ter vomitado do meu lado.

E essa mesma amiga, que nesse meio tempo foi conquistando seu espaço comigo, ontem não queria ir ao churrasco, com vergonha da vez anterior. Eu retruquei e ela decidiu ir.

E voltando à cena do saco de gelo e da cerveja, ela me olhava com olhos de companheira, falando de seu rolo grudento que tinha ficando em casa. A gente riu e eu falei de filhos. Disse que meu maior sonho era a paternidade. E já emendei dizendo em tom de confidência que isso não era fácil quando se curte sair com caras.

Silêncio... pouco depois quebrado:

- Porra, Ragazzo, que bosta! Você é o sonho de consumo de toda mulher, mas prefere sair com caras? Mundo perdido mesmo esse.

Rimos e brindamos a isso.

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Adendo: Tem horas que o melhor é não pensar muito, ainda que bata uma saudade.

segunda-feira, 9 de novembro de 2009

Fantasmas

Um ano e meio se passou. Conhecemo-nos de modo peculiar. Em cada momento, uma faceta diante de uma sequência com lógica própria. Primeiro, fomos héteros. Depois, companheiros de chimarrão. Em seguida, de bar. Um dia, por conta de uma coincidência, tornamo-nos possibilidade um para o outro e, finalmente, começamos a dividir também a cama. Uma viagem longa em um momento de incertezas e pouco esforço nos afastou. Não tivemos um ponto final, mas sabíamos que a sentença já havia terminado.

Por que retomo tudo isso? Alguns dias atrás saí para uma viagem para uma reunião de trabalho. Uma espécie de concentração, em que todos ficam presos em um hotel no meio do nada. Uma espécie de Alcatraz de luxo.

Piso no hotel e quem eu encontro? O próprio fantasma. Ele estava com um grupo de amigos. Eu com outro. Cumprimentamo-nos um pouco embaraçados. Durante as reuniões e paradas, nossos grupos começaram a se aproximar. Ficaram todos em harmonia. Melhor, quase todos. Era um dos dois estar presente que o outro emudecia.

Ontem resolvi fugir com um amigo para um bar distante para ver um pouco da agitação da cidade. Mais uma traquinagem do destino. Meu amigo do além parece ter tido a mesma idéia. E em uma espécie de swing fraterno, passei a noite conversando animadamente com o amigo dele e ele com o meu. Entre nós, entretanto, as palavras poderiam ser contadas nos dedos das mãos.

Pode-se pensar que dois caras, mesma cidade, mesmos hábitos, mesma profissão e mesma sexualidade teriam de tudo para se aproximar, ainda que apenas como amigos. Porém ocorreu o oposto. A presença de um junto ao outro começou a incomodar como se um segredo pudesse a qualquer momento explodir.

Tentei fazer minha parte. Puxei papo. Fiz piada. Esforcei-me para mostrar que éramos apenas dois caras normais que, apesar do lance do passado, não tinham com que se preocupar. Tudo em vão. O cara estava muito tenso. Até recusou chimarrão, o que é mau sinal para um gaúcho que já estava dois dias sem.

Daqui de onde estou escrevendo consigo vê-lo também “trabalhando” em seu lap top. Ao mesmo tempo me lembro que da última vez em que havíamos nos visto pessoalmente, estávamos na cama combinando quando nos encontraríamos de novo. Naquele dia não quis dormir na casa dele, mas prometi que rolaria da próxima vez.

Palavras ao léu.

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Adendo:
Pessoal, agradeço a torcida, mas a ponte aérea está complicada. Tentei, tentei e tentaria mais ainda, porém não depende mais de mim.

sexta-feira, 30 de outubro de 2009

Ragazzo em Terceira Pessoa

Sim, o Ragazzo está acuado... o Ragazzo ficou sem dormir bem no fim-de-semana.

O Ragazzo também é simples às vezes. Ele quer conhecer melhor o que existe no meio dessa ponte aérea. Ele quer conhecer o mau humor matinal de quem ele quer estar junto. Ele quer saber qual é o limite do constrangimento nas piadas sem graça. Ele quer saber o que apurrinha o outro. Ele quer saber o que faz o outro ficar com cara de bobo. Ele quer saber o que o deixa sem palavras. Ele quer saber quando o outro é desajeitado.

E o que o Ragazzo quer ver?

Ele quer ver a cara amassada do outro de manhã. Quer ver se agüenta correr 10 quilômetros à beira-mar com ele. Quer ver se o outro ainda fica de bom humor depois de ser chamado dezenas de vezes de baixote e de manezão. Quer ver ele mandar o Ragazzo parar de fazer bobeira ao ficar com dor-de-barriga por não conseguir parar de rir.

E sabem o que incomoda o Ragazzo? Incomoda ele saber o que ele quer, mas não se sentir no controle para decidir nada. Logo o Ragazzo, sempre no controle de sua vida, se sentindo uma vez como ator coadjuvante em uma cena importante de seu próprio livro...

E sabem o que incomoda mais ainda? Sabem o que dá raiva no Ragazzo ao pensar em si mesmo? Dá raiva de o Ragazzo não ser mais ignorante. Por que ele tem sempre que entender a situação dos outros? Talvez um pouco de egocentrismo nessa hora fosse bom.

E lá vai o Ragazzo, desafiando os limites de sua própria racionalidade, que a todo momento luta com sua passionalidade. Sorte dele que essa briga já vem de casa. Herança genitora. Racionalidade do pai, passionalidade da mãe. Dois extremos em uma mesma casa. Daí o fruto disso existir dentro do próprio Ragazzo. Ragazzo e meio termo não combinam.

Não, o Ragazzo não está apaixonado. Ele está encantado, com vontade de mostrar mais de si e de olhar com atenção para o outro. O Ragazzo não quer prometer e não quer promessas. Ele quer a naturalidade do fluxo. Mas para isso ocorrer, ambos tem que aceitar o rio.

No fim das contas, dá para sintetizar tudo em uma frase.

O Ragazzo, pensativo, disposto e exposto, ainda que para falar isso precise usar a terceira pessoa, para, pensa e sente: está na hora de cuidar de alguém.

segunda-feira, 19 de outubro de 2009

A Quadrilha

Semana passada, um casamento de um casal de grandes amigos. Oportunidade perfeita para rever pessoas de longa data. Farra até tarde, bebedeiras memoráveis relembrando os bons tempos, certo?

Errado!

Em um salão com quase cem pessoas não acreditava no que via. Apenas 3 pessoas despareadas. Eu, claro, uma delas, mais outro cara e uma garota que eu até então desconhecia. Em volta, rostos conhecidos marcados pelo tempo e barrigas batizadas pela cerveja com as namoradas/esposas e um ou outro bebê. No fim das contas, a bebedeira e as risadas foram salvas pelos solteiros do salão que inteligentemente se uniram.

Muitos uísques depois, o fantasma de Drummond de Andrade parece ter baixado na sala declamando um poema que muito me divertira na infância:

João amava Teresa que amava Raimundo
que amava Maria que amava Joaquim que amava Lili
que não amava ninguém.

João foi para os Estados Unidos, Teresa para o convento,
Raimundo morreu de desastre, Maria ficou para tia,
Joaquim suicidou-se e Lili casou com J. Pinto Fernandes
que não tinha entrado na história.

E o cara solteiro olhou com cara de lobo mau para a garota solteira, que depois de uns champanhes a mais, de Chapéuzinho Vermelho se tornou femme fatale, chamando umas 3 vezes o Ragazzo solteiro que vos escreve para "dar uma volta fora do salão".

Ragazzo, por sua vez, até teria ido, se não fosse estar com a cabeça em outro estado e na justa hora ter recebido uma mensagem que o deixou o resto da festa com cara de bobo risonho:

"Esse Ragazzo, que fica mexendo com quem tá quieto."

sábado, 10 de outubro de 2009

Ponte Aérea?

Os números: 10 dias, umas 20 horas, por volta de 4 madrugadas, mais de 1000 quilômetros, 2 pessoas.

Ele voou 850 km, eu viajei 180.

Ele deixou os pais no meio de um jantar. Eu adiei a visita aos meus.

Ele esperou minhas mensagens em um restaurante. Eu, apressado e ansioso, me perdi em um caminho conhecido.

A primeira palavra que ele falou foi "Mané". A primeira minha foi "Baixote".

Ele desviava o olhar e dizia "contae". Eu bebia rápido.

Ele me ensinou técnicas de convencimento virtual. Eu mostrei a ele como se brindar.

Ele me tentou com os olhos e eu a ele com as pernas.

O primeiro beijo foi rápido e em um lugar inconveniente. Não deu pra segurar, e vieram muitos depois, também em lugares inconvenientes.

Acertei-o com uma bolacha-de-chopp-frisbee na cara e derrubei-o no chão. Ele se lembrou disso no dia seguinte sorrindo.

E as descobertas?

Ele descobriu que sou amante de cinema e que curto pintura e fotografia. Descobriu que não vejo TV e que fiquei mais de ano sem a Globo em casa. Descobriu que eu jogava futebol e vôlei e que adoro esportes que envolvem altura por causa da adrenalina. Descobriu, também, que sou brincalhão, beirando ao bobo, e que rio de lado quando estou sem graça.

Eu descobri que ele é carinhoso quando fala "Mané" e que fecha os olhos quando recebe cafuné. Descobri que não conhece nada de filmes, mas que vai assistir os que eu mandar para ele. Descobri que ele gosta de molho vermelho com camarão, que adora correr na praia e que tem braços e um peito invejáveis.

E juntos vimos o dia raiar.

Ele com a marca de sunga. Eu com a marca de minha ascendência.

Eu sentindo sua respiração até ele, constrangido, dizer baixinho que tava com o nariz entupido.

Entrelaçados.

Ele com frio, colocou a camisa. Eu, calorento, tentei esquentá-lo.

Deitados. Olho no olho.

Ele tem um compromisso há 2 anos. Eu odeio saber disso.

Eu tenho dificuldades para me envolver. Ele também sabe disso. Por vezes, me parece que para ele isso se torna um receio; por outras, um incentivo à conquista.

Ele olhou confuso querendo certezas. Eu, com medo da responsabilidade e do futuro incerto, respondi mudo.

Ele foi embora. Eu também.

Mas no meu ir embora, lembrei de uma música esquecida há muito tempo:

"E, mesmo com tudo diferente
Veio mesmo, de repente
Uma vontade de se ver..."

E hoje, no almoço com minha mãe em um restaurante, depois de dormir apenas 2 horas, peguei-a olhando de modo estranho para meu prato:

- Engraçado, meu filho. Sempre achei que você não gostasse de camarões...

terça-feira, 6 de outubro de 2009

O Bom Samaritano

É... em momentos em que preciso pensar para tomar uma decisão, prefiro não falar sobre o "problema". É um modo de ir digerindo-o aos poucos, saboreando cada parte do que se passa. Nesse movimento atento, quero descobrir se gosto ou não do gosto novo e o porquê disso. E no meio tempo, por que não uma história antiga? Uma daquelas que não foram importantes, a ponto de sumirem da sua mente, mas que volta e meia são lembradas com certo sorriso no canto da boca.

Certa vez em uma cidade praiana há não muito tempo, fui a um bar com um amigo. Ali me entretive em uma outra roda de pessoas e meu amigo, tendo que acordar cedo no dia seguinte, foi embora. Eu, animado com a conversa, decidi ficar mais.

Muitos causos e gargalhadas depois, já no alto da madrugada, paguei minha conta, o bar fechou, nos despedimos e fui embora. Pensei: agora é só pegar um táxi e dormir como um anjo.

Pensei errado. Cinco minutos depois me dei conta que algo tinha acontecido com minha carteira. No grau alcoolico em que estava, não sabia se tinha sido furtado ou se a havia perdido. De qualquer modo, isso era o que menos importava. Os fatos eram simples: estava sem carteira e sem celular [havia deixado na casa de meu amigo] em uma cidade em que não conhecia quase ninguém.

Racionalmente [ao menos na razão que a bebida me permitia naquele momento] decidi que iria a pé. Sabia que bastava contornar a avenida da praia e uma hora chegaria na casa de meu amigo. Só não sabia a distância. E para isso, ao ver um cara bonitão passar, decidi descobrir.

- Falae Grande, tal lugar fica a quanto tempo a pé daqui?

- Tá louco? A pé tu só chega amanhã. É muito longe. Pega um táxi.

Contei o que havia acontecido.

- Ah cara, que azar. Tu tem que tomar mais cuidado por aqui. De qualquer modo, tu parece de boa. Eu te empresto a grana pra um ônibus que roda a noite toda. Ir a pé, além de longe, é perigoso. Mas tô sem grana aqui, que desci só pra dar uma volta porque discuti com minha namorada. Moro a duas quadras daqui. Vamos comigo, que eu pego a grana pra ti.

Fomos juntos. Ele cumprimentou o porteiro. Entramos e subimos ao andar dele. Ele pediu pra eu ficar fora do apartamento, pois a barra lá não tava boa por conta da namorada. Ele entrou.

Nova discussão do casal. Eu, no hall, escutava tudo extremamente constrangido. Ficava imaginando a namorada dele saindo pra xingar o "vagabundo do hall", novo amigo do namorado que só aprontava. Minha vontade era de sair correndo o quanto antes. E quando estava prestes a fazer isso, o cara voltou.

Ele chegou e a primeira coisa que fez foi me dar o dinheiro. Agradeci e fui guardá-lo. Nisso, ele foi me levando para as escadas. Demorou para eu perceber que enquanto eu enfiava a mão no bolso, uma outra mão entrava na minha calça. Creio que estava tão nervoso com a situação que demorou para cair a ficha do que estava acontecendo. Foram 5 segundos de apatia total [sorte que ele foi devagar a ponto de eu me reconstituir]. Quando me dei conta, olhei pra ele e pensei: Por que não?

E a namorada barraqueira do cara, do lado de dentro do apartamento, emburrada provavelmente por uma besteira qualquer mal imaginava que o namorado chupava um cara nas escadas de emergência, a poucos passos dela.

Na volta, ainda não acreditava no que aconteceu. No ônibus, tentava a todo custo lembrar do telefone que ele me havia passado para no outro dia termos mais tempo para continuar o que começamos. Foi uma frustração quando, no meio do caminho, entre um pulo e outro do ônibus, percebi que já não tinha a menor idéia do número [nem do nome dele].

Nunca mais o vi.

domingo, 27 de setembro de 2009

A Urgência do Corpo

Promiscuidade é uma característica comumente atribuída ao mundo gay. Por outro lado, volta e meia encontro profiles de caras que procuram outros com uma certa rejeição a isto. Eu mesmo em discurso sempre fui contrário a ela.

Promiscuidade me lembra vazio e superficialidade, duas características que realmente não gostaria de ter em minha vida.

Contudo, parei para pensar por esses dias em quantas pessoas eu já saí até hoje. Assustei-me quando percebi que sem sombra de dúvida o número rondava os 3 dígitos. Só este ano devo ter saído com mais de uma dezena de pessoas. Mas, pensando melhor, percebi que não é algo próprio de caras que curtem caras, mas dos jovens em geral na atualidade. Lembrei, por exemplo, dos adorados carnavais, em que beijar 5 garotas na noite e terminar na cama de uma era frequente.

E o que há diferente quando se sai com caras? Em termos quantitativos, creio que dá no mesmo. Talvez até menos. Afinal, o flerte na rua é coibido. Não se demonstra o desejo com a mesma frequência.

Agora, quando dois caras se encontram, os limites ficam prejudicados. A lei do desejo parece imperar. Um potencializa o outro. É impressionante como dois caras buscam uma intimidade física com uma pressa como se o mundo fosse acabar no dia seguinte. É urgência pura.

Saio com um cara, curto o papo e penso: "Cara gente boa. Vale a pena investir em um conhecimento mais ponderado. Sem pressa.". Algumas cervejas e algumas trocas de olhares depois, mudo o pensamento para "Como que eu faço para ficar sozinho com esse cara?". E a história se repete na mesma velocidade em que o volume nas calças cresce.

Outro dia, divagando a respeito, cheguei a uma conclusão [paradoxalmente temporária] que homens são tão reprimidos em seu desejo por um igual no dia-a-dia que, quando veem oportunidade de exercerem-no, vão às últimas consequências.

Engraçado como a lógica de conhecimento do outro se inverte. Nesse caminho, conhece-se a intimidade do corpo primeiro, e a pessoa depois. Isso, claro, quando se quer conhecer o outro. Já conheci pessoas [e assumo que já tive essa fase também] em que acalmar o corpo era o suficiente para não enlouquecer a alma. Daí a relação corpo com corpo bastar.

Há alguns minutos me convidaram para sair nessa relação corpo-corpo [e só]. Recusei. Preferi jogar futebol com bons amigos. Hoje o valor do corpo no câmbio está baixo e da alma, alto.

domingo, 20 de setembro de 2009

Top or bottom?

Em chats, conversas de msn e mecanismos de conhecimento em geral volta e meia a célebre frase aparece:

"Você é ativo ou passivo?"

E digo, em geral me desinteresso da pessoa ao escutar essa pergunta. Minha resposta de praxe é: "Não sou homem de receitas. Tudo depende muito do clima, do contexto, da pessoa com quem se está junto etc.".

É... mas isso é apenas meia verdade.

Certa vez, na cama com um cara com quem eu já tinha certa intimidade, após algumas tentativas minhas de ir um pouco além do que até então tínhamos ido, este me falou algo que me fez muito pensar.

- Ragazzo, você me dá muito tesão e eu só não dou para você por um único motivo: porque sei que no fundo você não encara a passividade muito bem.

Ia retrucar, mas engoli a seco essa afirmação, pois sabia que tinha um bocado de verdade nela.

Por mais que em discurso eu diga que não há diferença, na prática sei que a coisa não é tão simples assim. Prova disso é que já saio com caras há mais de 10 anos e nunca fui passivo na relação. E assumo, com certo constrangimento irracional, que já tive vontade algumas vezes.

Por um lado, sexo é sexo. É entrega, é envolvimento. E daí não fazer sentido se atribuir aprioristicamente os papéis a cada um. Por outro, há todo um respaldo social para a desvalorização daquele que se deixa invadir, que assume a possibilidade de receber.

Acabo usando a desculpa esfarrapada do receio da dor, que não faz sentido fazer algo que não me dá prazer etc. Na verdade, o buraco é mais embaixo. Por mais reflexivo que eu seja, sei que tenho [muitos] preconceitos. E aí reside a razão de escrever sobre isso. Poderia maquiá-los, encobrindo-os com um discurso. Prefiro expressar o duelo entre aquilo que racionalmente já está claro e aquilo que emocionalmente ainda incomoda.

terça-feira, 15 de setembro de 2009

Na Calada da Noite

Provavelmente tarde da noite.

Um grupo de amigos resolve participar de uma oficina juntos. Já se conhecem bem há muito tempo e será uma oportunidade de terem algum tempo de qualidade fora das responsabilidades do dia-a-dia.

Já no dia do curso, todos animados, professor simpático e atencioso. Em uma das atividades, precisamos carregar uma espécie de escultura de madeira. É algo longo, desajeitado para se levantar. Cada um tem o seu. Antes de pegar o meu, percebo que as pessoas têm dificuldades de carregar tal "cruz". Penso: "Será que consigo? Vai ficar feio se eu desabar agora". Por outro lado vejo algumas garotas que, ainda que suando um pouco, conseguem levar seu fardo. Isso me acalma um pouco.

Admiro a imponência de meu objeto. Primeiro o olho fixamente, depois imagino a melhor forma de levantá-lo. Após breve avaliação, sinto-me pronto a desafiá-lo. Encosto, mas aquilo queima. Esforço-me, esqueço da dor e tento levantá-lo. Foi em vão. Perco minhas forças. A cruz desfalece. Torno-me o centro das atenções. Olhares apavorados se voltam a mim. Silêncio.

Segue-se um grito: "Ele é um vampiro". Anos de amizade parecem se quebrar em um segundo. Antigos amigos começam a correr em fúria com estacas empunhadas em meu encalço. Eu fujo. Sei que sou forte e que a fuga não será problema. Afinal, vampiros são bem conhecidos pela força sobre-humana. Também sabem o que os outros pensam, o que facilita a escolha por qual caminho seguir.

Não, o problema não é a fuga. O ponto é que tudo terá que ser reconstruído novamente. É uma volta ao pó, sem a menor noção do que virá. Risco puro. A única certeza é que nada será igual e que tudo pode novamente acontecer. O triste é que o vampiro gostava daquele mundo dos vivos. A única diferença era que ele era um morto-vivo. A pena é que depois de se ter mostrado vampiro, a única coisa que aqueles amigos de anos viam eram seus dentes e sua sede por sangue. Todo o resto se perdeu.

Acordo suado.

Engraçado como sonhos falam de nossas urgências, de nossos medos. Apesar da linguagem simbólica, alguns são extremamente claros. Esse ocorreu há duas noites. Ainda lembro com aflição. Foi um lembrete do inconsciente de que vampiros não conseguem se esconder a vida inteira e dos medos que isso causa em mim.

quarta-feira, 9 de setembro de 2009

Custo x Benefício

Adoro ir a botecos com amigos, mas não a bares mais ajeitados.

Em botecos, a conversa rola solta. Ninguém está nem aí para nada. Amigos aproveitam de amigos. Ali se está pelas companhias da mesa e não pelo que há fora dela.

Em bares mais ajeitados a coisa não rola assim. Pavões se mostram. Os discursos são monossilábicos. A graça da noite se resume a sair com alguma garota. Começa-se com um alto grau seletivo que decresce à medida que a quantidade de cervejas e de idas ao banheiro [assim como o desespero de passar a noite sozinho] aumenta. Ganha a noite quem mostra seu troféu ao fim dela.

Isso me cansa, mas nem por isso deixo de participar desse jogo que cada vez mais se torna bobo e sem sentido.

Fim-de-semana passado estava bem a fim de uma noite sem muitas regras. Contudo, em uma cidade distante com alguns amigos próximos, não havia escapatória de sair com eles para uma noite que já sabia se assemelhar bastante com a situação supracitada.

Já no bar, entrei no jogo. Monólogos entre os amigos, flertes direcionados. Escolhi minha vítima. Mostrei interesse em um primeiro momento. Fingi desinteresse no seguinte. Continuamos nessa dança até que a garota convidou-me a sentar com ela e sua amiga.

Aceitei o convite. Garotas que não eram um modelo de beleza, mas muito simpáticas. Fui envolvendo-as com os olhos a prometer uma noite e tanto para os três. À distância, sabia ser observado. Algum tempo depois, meus amigos vieram se despedir com um sorriso maroto e batidas nas costas. Sabiam que "a noite era minha".

Já sozinho há algum tempo com as garotas no bar, convidaram-me para um lugar mais "sossegado". Sorri e disse que tinha outros planos. Cumprimentei as duas, que se mostraram um tanto quanto decepcionadas, e me fui.

De lá fui para uma festa alternativa. Tive uma noite e tanto. Cheguei no quarto de hotel, que dividia com um dos amigos que estavam comigo no bar, às 6h da manhã, uma hora antes da reunião que teríamos às 7h.

É claro que a história do "Ragazzo e das duas garotas" se espalhou. Passei o dia meio quietão. Os amigos chegavam em mim e diziam sacanamente que eu estava calado porque tinha usado toda minha energia durante a noite com as duas garotas. Escutava sem responder, omitindo para não mentir.

Eles não sabiam que na verdade eu estava era de mau humor, sentindo-me mau pra cacete por ter usado duas garotas para me encobrir. Joguei um jogo sem explicar a elas as regras. Fui cínico.

Nesse dia pensei como o preço de se estar no armário é alto. Talvez alto demais.

quarta-feira, 2 de setembro de 2009

Aventuras e Desventuras de um Bissexual Ragazzo

Já é sabido que não sou fã de rótulos sociais, especialmente aqueles relacionados à sexualidade. Evito aquilo que limita ao invés de libertar. Daí praticamente não usar as palavras gay ou homossexual no blog. Agora, o leitor atento irá se perguntar: “Que cara contraditório o Ragazzo. Afinal, o título do blog não carrega um rótulo?”. A este respondo sem pestanejar: “Sono d'accordo”.

Há muito me incomoda o título. Volta e meia me sondam e buscam indícios se sou isso ou aquilo, se sou bi, homo, pan, bi, tri ou o-que-seja-sexual. E, sinceramente, os nomes são o que menos importam. Tenho histórias aqui que gosto de compartilhar com vocês, pensar a respeito, refletir, compreender, abrir-me às suas.

Não há como negar que há uma pedra angular que direciona meus escritos e que também chama a atenção de vocês. Sexualidade é o tema principal. Isso é fato. Contudo, a riqueza está no que se pode dizer dos usos que fazemos dela e não em que categoria a enquadramos. Afinal, não somos ratos encaixotados, mas seres com possibilidades em cada esquina, em cada olhar, em cada passo.

No fundo acho que essa história dos rótulos [e aqui não falo apenas dos sexuais] serve apenas para tornarmo-nos mais previsíveis aos outros, um modo de não surpreendermos a cada instante, uma maneira de garantirmos o que esperar daquelas pessoas que conosco estão. Mas... isso não me apetece. Gosto de viver na lâmina e no movimento, melhor ainda se for movimento sobre a lâmina.

Resumindo, quero evitar definições. Não quero partir de um conceito do que sou, mas falar a partir dos modos como ajo. O outro caminho, pelo contrário, me aprisionaria. Por isso, hoje tomo a decisão de mudar o nome deste blog.

Doravante, quem por aqui passar lerá “Aventuras e Desventuras de um Ragazzo”.

terça-feira, 25 de agosto de 2009

Siamo uomini!

Relacionamentos entre caras é algo complicado. As regras parecem se diferenciar. Não há modelos sociais nos quais se basear. Com uma garota, é simples. Depois da primeira saída, é esperado que o cara ligue. Garotas um pouquinho mais melosas são normais. Um chameguinho não incomoda. É normal que ela faça um charminho, mas que acabe cedendo. Um “não” nem sempre é uma negativa, mas as pistas estão lá. Em uma discussão, o homem entra com a racionalidade, a mulher com a passionalidade. E eis que o equilíbrio se mantém.

E entre caras? Há a sensação de um constante pisar em ovos. Noite legal. Quem liga para o outro? Ambos e nenhum. Deixa que eu deixo. Finalmente alguém se decide. Uma ligação. Pausa. Passo para frente. Pausa. Espera pelo passo do outro. Pausa. E depois de muitas pausas, se um dos passos não ocorre, por mais adiantado que o caminho esteja trilhado, existem grandes chances de ele ser abandonado. Ponto final. Passo-ante-passo, ambos estão na mesma situação de ganho ou de perda e a impressão do “tudo ou nada” se mostra com freqüência.

Os laços parecem mais tênues, as relações mais instáveis. Todo dia parece um último dia. Escorregadas assemelham-se a armadilhas. Sentimentalismos são mal-vindos, com exceção a momentos de extrema intimidade em que também se sabe que o dito pode ser efêmero e perigoso. E na falta do explícito, ficam as lacunas com suas criações inseguras, indicando-nos um fim por muitas vezes ilusório. No dia seguinte, o mesmo ciclo.

Homens parecem respeitar seu desejo acima de tudo, sobretudo acima do outro. Não há razões sociais para o par. Não há um grupo em que se apoiar. Pelo contrário, o par se esconde usando uma velha desculpa social como se algo errado fosse feito. A separação parece um alívio e não ocorre por causa do dito desejo.

Ainda que já firmado um certo compromisso, também aqui o sistema é próprio. Não se sai pelo outro. Não se abdica pelo outro. Não se beija pelo outro. Não se transa pelo outro. Sai-se, abdica-se, beija-se, transa-se por si mesmo. São vidas diferentes que se mantêm na sorte de tornarem-se convergentes por algum tempo.

Somos complicados. Somos orgulhosos. Somos egocêntricos. Somos brutos. Somos interessantes. E por tudo isso e mais um bocado, claro, somos homens.

quinta-feira, 20 de agosto de 2009

Nada como um dia após o outro...

Há pouco mais de um ano, em uma época em que ainda não tinha a coragem suficiente para comprovar o que a intuição dizia, conheci um cara bastante interessante em uma reunião. Na época, nossa conversa se reteve basicamente a trivialidades e ao chimarrão, tradição de sua região de origem. Trocamos telefones, mas nunca nos ligamos. Nosso contato basicamente se manteve apenas por alguns acenos de longe em um ou outro almoço que coincidentemente fazíamos no mesmo local. A admiração continuava, assim como certa desconfiança. Afinal, como podia um cara bonito e interessante daqueles se manter solteiro por tanto tempo.

O tempo passa, e nessas coincidências da vida, algo insólito aconteceu. Peças de um puzzle se articularam de um modo único, como em um caminho de dominós em que cada tablete é essencial para que o último tenha a possibilidade de cair. Um encontro entre armariados me possibilitou um contato, que me apresentou a um amigo. Este a outro, que em um momento comentou sobre um colega que tinha em minha cidade. Ele só não esperava que eu o conhecesse. Na hora ficou embaraçado e disse: “Caramba! Acho que acabei de entregar o armário de um cara!”. Sorri. Na linha final daquele fio de relações se encontrava o mesmo cara de um ano atrás.

Fiquei em uma posição privilegiada. Sabia que ele curtia caras, mas ele não sabia de mim. Tendo tudo arquitetado, chamei-o para sair, com a desculpa [ultra-esfarrapada] de pedir algumas dicas sobre a região de onde ele era, uma vez que para lá viajaria.

No dia D, já no bar, por cima da mesa falavámos de futebol, trabalho e filmes olhando-nos nos olhos como dois amigões com intimidade de anos. Ao sentir que o cativava, debaixo da mesa comecei a aliciar uma aproximação entre as pernas. Pernas que se encostam em um movimento [não-]intencional, fala que treme, calças que se enchem. Tudo explícito e implícito ao mesmo tempo.

Cheguei em sua casa ainda com o fantasma do “Será que entendi algo errado? Vou ou não vou?”. Contudo, tais receios já eram secundários. A energia entre nós já se expressava por si de modo claro. E, em meio àquele frio, dois corpos resolveram se aquecer, naturalmente, sem excesso de palavras, sem necessidade de explicações sobre o que fazíamos, respeitando o tempo da conquista, sem pressa, em fluxo.

E o melhor: depois daquele dia houve outros.

sexta-feira, 14 de agosto de 2009

Divagações sobre uma Verruga

Muitos pensaram: "Pronto, o Ragazzo é daqueles Zé Ruelas que fica reparando em cada detalhe". Na verdade, não é bem assim. Prezo muito a totalidade e é por isso que das pessoas que mais me interessaram até hoje nenhuma foi à primeira vista. Pelo contrário, todas foram pessoas que pouco me atraíram em um primeiro momento.

E por que postei a história de humor duvidoso da semana passada? Primeiro, porque realmente me divirto com essas surpresas, com aquilo que eu não espero. Sou bem mundano e rio maldosamente de coisas bobas. Segundo, porque me faz pensar.

Não conhecia o cara a ponto de ter uma posição sobre ele além da física. Aí, será esta que discutirei hoje, sem hipocrisia, sem dizer que isso não importa, mas tentando perceber por que ela importa.

Claro, referenciais de beleza são sociais. Por isso, as gordinhas faziam tanto sucesso há alguns séculos. Afinal, em um mundo em que a expectativa de vida fica na casa dos 30, era a garantia de uma maior longevidade para a sua parceira e a chance de não ter que criar seus filhos sozinho.

Hoje, as modelos magérrimas e os homens malhados estão no ápice. Mas até quando? Creio que quando esse ideal for fácil o suficiente de ser alcançado, o exótico terá espaço.

Ok, mas mesmo dentro de um ideal atual, como o que descrevi sobre o Cara V. [de verruga. Afinal, todos merecem um apelido carinhoso], há algo que distancia, que impõe um penhasco, no seu caso, a dita verruga. Por que algo que fica escondido pode causar um tal impacto? Minha resposta já foi dada. Porque não é esperada.

Surpresas são bem-vindas quando já antevistas algum dia por nós, quando já temos a possibilidade de lidar naturalmente com aquilo que pode vir a se tornar novo. O diferente, o que nos pega desprevinidos, nos passa rasteiras.

É a estabilidade, talvez com raízes biológicas, solicitada pelo ser humano.

Assim, a verruga, uma pinta que tome metade do rosto ou um sexto dedo na mão podem ser vistos como símbolos. Na prática, se deixarmos nossos primeiros impulsos de lado, percebemos que não mudam em nada as possibilidades de ser da pessoa [além, talvez, de um inconveniente social]. Contudo, se mostram como símbolos daquilo que não segue um certo padrão de conhecimento nosso. Símbolos que nos lembram do diferente. Símbolos que nos recordam que somos muitos e que cada um tem suas particularidades.

Claro, tudo isso já se sabe, mas uma vez que isso se mostra na carne, em uma tatuagem natural, há a materialização, a evidência de que muita coisa sai [e é normal que saia] de nosso controle.

domingo, 9 de agosto de 2009

Um Toque a Mais

Depois da malhação, nada melhor do que uma ducha. Sem contar que vestiário masculino é algo interessante. Nada de pudores. Todo mundo peladão andando [e chacoalhando] para cima e para baixo falando abobrinha e rindo alto. O assunto número um em geral é futebol, seguido por política. Mulheres, por incrível que pareça, ficam com a medalha de bronze.

Hoje terminei de malhar mais ou menos ao mesmo tempo que um cara bonitão. Chegando no vestiário, vi que ele estava lá. Já me alegrei um pouco. Trocamos meia dúzia de palavras sobre determinado jogo de futebol e ele foi primeiro para a ducha.

Quando chego na área dos chuveiros, apenas o cara. E melhor, tomando banho de costas. Não sou nenhum taradão, mas uma oportunidade dessas é única. Além do mais, olhar não arranca pedaço.

Conferindo o material. Costas largas e musculosas.. muito bom. Pernas grossas, torneadas e peludas... excelente. Subindo um pouco a visão... Nãoooooooooooo...o que era aquilo? Inacreditável! Impossível! [Quem tiver estômago fraco que pare por aqui!]

Uma verruga!! Sim, o cara tinha uma verruga, não uma qualquer, mas uma senhora verruga, como os portugas diriam, no olho-do-cu. Dava impressão que ligava uma nadega à outra. Cheguei a imaginá-lo no escuro, com outro cara de repente tendo essa "surpresinha" no tato! Deu-me ânsia na hora. Tenho certeza que fiz cara de asco no momento. Sorte que não havia platéia para essa indiscrição.

Mas como pode, né? Um cara bonito daqueles com aquele "toque a mais". Foi decepção à primeira vista. E pela primeira vez torci para que um cara bonitão fosse hétero, definitivamente pelo seu próprio bem!

segunda-feira, 27 de julho de 2009

O Pós-Sexo

Muita gente diz que sexo é a melhor coisa do mundo. Eu discordo. Tem coisa melhor: o pós-sexo. Aqueles momentos deliciosos em que, deitados juntos, além de corpos, vidas são compartilhadas.

Mãos [se] acariciam sem aquela sofreguidão e anseio por um gozo que mais hora, menos hora, virá. Pernas se tocam. Pés buscam conhecer com maior desenvoltura a silhueta da outra coxa, da panturrilha, da planta do outro pé. Cafunés confortam o outro. Selinhos sem pimenta animam e expressam o seu sorriso ante palavras que agradam.

Sim, claro, um pós-sexo bom em geral ocorre quando o sexo foi do caralho. Depois da intimidade máxima de corpos ter se efetuado, abre-se a lacuna para uma corrente de pensamentos de todos os tipos: reflexivos, banais, engraçados, tristes, coloquiais, complexos.

Nunca o sexo foi determinante para mim. Por melhor que tenha sido, nunca quis ver novamente uma pessoa tão somente pelo sexo. Não, almejo mais. Sexo é muito simples para aquilo que busco. Sexo é corpo, é instinto. Além de instinto, viso aquilo que está escondido a sete chaves, que as pessoas não se dão conta de que existe no baú que são.

Às vezes acho que quando crianças já exercemos aquilo que nos completa ao tornarmo-nos adultos. Lembro que algumas das experiências mais reconfortantes ocorriam também em um quarto escuro. Com a luz apagada, fisicamente separados, malícia fora de questão, duas crianças conversando sobre a vida. Trocando segredos e confidências, até que a luz se acende e o pai de uma delas dizia: "Vamos dormir, crianças, que amanhã vocês têm aula". E ambos iam, sorrindo, mas também sabendo, ainda que não em palavras, que naquele breu confortável laços fortes tinham se estabelecido.

sexta-feira, 24 de julho de 2009

Sobre ingredientes que faltam na dispensa

Vejamos quem acertou a conexão.

O Capetão foi em casa, escorregou, bateu a cabeça em um dos bolinhos de arroz que havia feito para ele e agora um [grande] cadáver nu jaz embaixo de minha cama, que fica me cutucando o colchão enquanto durmo devido às condições em que se encontrava pré-morte. Alguém disposto a me ajudar? Talvez alguém com uma família grande para fazermos uma feijoada em conjunto?

Não, é óbvio que não é essa relação com o post anterior. Primeiro porque eu nunca convidaria o Capetão para vir em casa tão rapidamente [minha casa é meu reduto e nunca se sabe se estamos convidando um vampiro que irá se instalar ali], nem faria bolinhos de arroz logo de cara para alguém [adoro cozinhar, mas reservo meus dotes culinários para quem realmente me importa].

E então, Ragazzo, qual é a relação? Simples. O Capetão tinha [quase] todos os atributos que em um primeiro momento me chamam a atenção em um homem, mas faltava um ingrediente que é o necessário para dar a liga do bolinho: intimidade.

Pelos comments, percebi que muitos consideraram que era o princípio de uma relação legal. Digo que estavam errados, e certos também. Era o princípio, sim, de alguma relação, mas não daquela que muitos imaginaram e que mesmo eu, em um momento de tempo estático aquecendo e sendo aquecido, pensei [mas bem brevemente].

Não me envolvo facilmente com alguém, mas frequentemente acredito nas possibilidades. Sou o tipo de cara que vai olhar para você e admirá-lo, mas para realmente se interessar de uma maneira mais duradoura precisa de muito, muito mais. É algo que se constrói com o tempo e do mesmo modo que é enrolado para começar, é difícil de acabar. Desse modo posso afirmar que amei poucas pessoas na vida, mas todas de modo bastante intenso.

E pensando nas ditas possibilidades, na falta do ingrediente intimidade, fui procurá-lo na dispensa e, para isso, saí mais uma vez com o Capetão. Fomos a um café para conversarmos à vontade. Vi que era um cara bastante inteligente [O cara falava seis línguas, três delas não triviais!] e de companhia agradável [opa... o bolinho de arroz estava sendo incrementado com queijo e pimenta], o que seria a possibilidade de se investir naquele ingrediente que faltava, se não fosse eu perceber ali um gosto que não aprecio. Foi como colocar açúcar no bolinho. O resto pode ser perfeito, mas o sabor não desce.

Esse ingrediente, que prefiro não comentar aqui pela publicidade do espaço, minou o meu incentivo. Poderia faltar bastante coisa [bolinho de arroz só com ovo, sal, pimenta e cebolinha pode ser muito bom também], mas dependendo do que se põe a mais a receita vira outra coisa.

E assim foi. A receita mudou: O Capetão, mantendo seu aumentativo natural, tem boa possibilidade de se tornar um amigão, mas não creio que passará disso.

Alguns podem achar que castro as possibilidades de dar certo com alguém. Eu digo que não. Apenas não sinto necessidade de criar relacionamentos artificialmente. Afinal, não sou [nem quero ser] dependente deles. Quero compartilhar e não depender [e espero o mesmo da recíproca]. Gosto que eles venham naturalmente, conquistados, em uma convergência entre idéias, convergência entre pessoas, nas pequenas ações que não passam desapercebidas pelo bom observador. Sobretudo essas pequenas coisas me conquistam.

Como não se fazer bolinhos de arroz

Esses dias, noite de domingo, eu de bobeira no MSN, estava faminto. Olhei para a geladeira e encontrei uma super tigela de arroz, resto de um almoço em que me inspirei para cozinhar.

Tive a grande idéia de transformar a super tigela de arroz em um super bolinho de arroz. Afinal, se ao invés de passar outro domingo à comida chinesa fosse para colocar a mão na massa, então que eu caprichasse.

Reconhecimento de território: alho, cebola, ovos, azeitonas, calabresa, cenoura, pimentão, queijo. Ótimo, vai ser mais que super, vai ser um mega bolinho de arroz.

E ao som de Ramones, toca o Ragazzo a mexer tudo. À medida que um ingrediente era acrescentado, minha boca enchia cada vez mais de água. Tudo picado e na bacia. Ovo batido e já junto. Uma pitada de fermento e agora só faltava farinha de trigo. Err... realmente faltava farinha de trigo, inclusive em minha dispensa.

Sem problemas, Ragazzo. É só usar seu poder de criatividade e substituir. Vejamos... Maisena? Não tem. Fubá? Não tem. Mas tinha farinha de milho! Afinal, é farinha do mesmo jeito, né?

Certo? Quase. É farinha, mas não dá liga. Tentei ainda fritar alguns, mas o máximo que consegui foi estragar óleo. Com as Super Vizinhas viajando em uma missão possível de contrabando de erva [-mate... para o chimarrão, que fique claro] para mim, a saída foi ligar para uma outra amiga, que acabou vindo inclusive trazer a farinha [de trigo, que fique claro tabém... hehe] de carro para mim [deu dó, porque estava um frio de tilintar os ossos].

E lá vai o Ragazzo tentar consertar o mega bolinho. Deu liga [ufa! Primeiro obstáculo traspassado!]. Próximo passo: fritá-los. Enfim, não ficaram tão bons quanto eu gostaria. Como falei para o Luan, que me acompanhava no MSN nesse ínterim, vendo pelo lado bom, de uma utilidade o bolinho passou para três. Além de [quase] comestível, seria a arma perfeita contra qualquer ladrão que quisesse me assaltar naquela noite e mais, poderia servir como um grande exercício para meus maxilares. Dia seguinte estaria até com um sorriso mais bonito devido à malhação.

Resumo da ópera:

1) Nem sempre um ingrediente é [in]substituível.

2) Se for substituir, pode até dar certo, mas possivelmente de uma maneira bem diversa daquela que você havia programado.

3) Com bons amigos, mesmo dando tudo muito errado, os mega bolinhos viram giga pedras, mas também tera risadas!

Já sei. Estão pensando: “O Ragazzo surtou de vez”. Surtei não. Tem tudo a ver com o desfecho da história contada no post “O Capetão e a Senhorita I.", que fica para outro dia, pois hoje já escrevi demais.

terça-feira, 21 de julho de 2009

O Capetão e a Senhorita I.

Fim-de-semana passado participei de um encontro de uma comunidade de armariados. Já conhecia virtualmente duas pessoas que ali estariam e uma pessoalmente. Achei que seria um dia sossegado: sentar, beber algumas cervejas, conversar um pouco, levantar e ir embora.

Mas não é que me surpreendi? Para começar, em uma mesa com quase 30 pessoas se encontrava uma única armariada: a Srta I.. Uma garota linda, com rosto de princesa, porte de rainha, sorriso de anjo. Excelente impressão à primeira vista. Felicidade maior então quando descobri que ela é leitora deste blog. Sim, a garota perfeita acompanha esse espaço desde os primórdios. E creio que o encanto de Srta I. só não foi mais fatal sobre o Ragazzo [que já ensaiava cara de lobo mau] por em certo momento ela falar abertamente ao grupo de maneira bastante decidida que já há um bom tempo seus alvos são apenas Ragazze [mulheres de muita sorte as que passarem pelos caminhos da Srta I.!!].

Fomos todos para uma balada depois. Locais gls não são minha preferência, mas como a bela Srta I. mesmo disse: “Muito da diversão depende da galera com quem se vai”. E o Ragazzo, depois de uns 12 chopes junto foi.

Mesmo que às vezes possa aparentar o contrário, não sou fã de fazer a fila em nenhum local. Meu lance é dançar e ficar de boa com quem eu vou. Mas não sei se por já fazer algum tempo que não saía com caras, se pelos chopes e pelas 3 tequilas que ali tomei, se pelo ambiente recheado de pessoas interessantes ou se por um exercício de autossuperação e autoafirmação [talvez tudo isso e mais um pouco], mas me sentia impelido a flertar. Flertes com os olhos, flertes com o corpo, flertes com a voz.

Em resumo, adolesci. Barba-por-fazer que por mim passasse de algum modo se tornava intenção. E de intenção virava beijo. Na pista, cheguei a brincar algumas vezes de seduzir pelo olhar, sem palavras, culminando em um beijo sem reprise. Algo a princípio vazio, mas que não deixa de ter seu charme como jogo.

Porém não há como se jogar a noite inteira. O jogo fica chato por cair em uma mesmice [sem contar no rosto ralado...hehe]. As estratégias são as mesmas, as táticas de resistência não variam muito. E em um momento em que já havia cansado e parado com o jogo, bati os olhos em alguém que me interessou de verdade. Mais alto, corpulento, camisa pólo vermelha com alguns pelos do peito se mostrando a partir da gola, olhos cor-de-mel muito expressivos, sorriso perfeito e, claro, barba-por-fazer.

Achei a princípio que não rolaria [engraçado que quando realmente alguém te importa parece que tudo fica mais difícil]. Talvez o pessimismo seja um modo de se preparar para o caso de algo não dar certo, um modo de abaixar as expectativas.

Mas esse pessimismo não durou muito tempo. Quando vi, já brindávamos nossas cervejas em meio à dança. Olhos se encontravam, sorrisos se abriam e um beijo surgiu. O primeiro de muitos.

Dei-lhe até um apelido carinhoso, Capetão, pelas sombrancelhas fortes e bem marcadas, com uma pequena falha simétrica, que me lembravam um par de chifres. O aumentativo ficou por conta da altura do cara [bom frisar para a imaginação não ir muito longe...hehe].

E no encanto do momento, ainda que temperado por muita bebida, o tempo deixou um pouco de passar. E para manter esse relógio parado, abri mão de minha carona, abri mão de me despedir decentemente da Srta I. e dos amigos que ali estavam [até porque estou certo que ainda nos veremos muitas vezes] e, ironicamente, no calor do inferno, só não abri mão de minha jaqueta, que a admirável Srta. I. me trouxe do carro.

Bem que dizem. Se está no inferno, abrace o capeta. Melhor ainda se for Capetão...

sábado, 18 de julho de 2009

Sobre Pseudalidades e Manipulações

O primeiro passo foi o da negação: “Não, ele não fez isso. Deve ter sido um mal entendido.”. Cheguei a cogitar que tivesse realmente conhecido o cara da foto, que apenas não tinha coragem de se identificar como tal [pé no chão, Ragazzo!!].

Claro, não tenho o costume de me enganar por muito tempo, aceitei a crua realidade e dei chance à vazão de minha raiva.

Após algum tempo, mais calmo, pensei em que ajudaria ficar puto. E mais, qual era a razão pela qual estava tão zangado? O cara era legal, não havia como negar. Por mais que a embalagem fosse boa, isso nunca foi suficiente para me segurar em uma conversa. Age como incentivo, mas conteúdo é essencial.

Não havia teclado tantas horas com seu bíceps [mesmo que pelas fotos fossem um tanto quanto atrativos!], mas com algo às vezes difícil de encontrar: um cara reflexivo sem ser pesado.

Daí me dei conta que estava nervoso comigo mesmo por ter me deixado levar tão facilmente. É péssimo ver que em um descuido você foi manipulado de alguma maneira. Mas quem não manipula de uma forma ou de outra?

O bebê chorando manipula. A mulher fazendo dengo no maridão na cama manipula. O professor em sala de aula ao fazer uma piada ou chamar os alunos para o bar manipula. A mãe ao contar seu mau pressentimento sobre a saída do filho para a balada manipula. O Liberal ao repetir o curau da namorada mesmo sem gostar do prato manipula. Eu ao escolher os temas dos posts manipulo. A minha vizinha fazendo cara do gato do Shrek quando me pede algum favor manipula. O cachorro [até esse ser superior!] ao latir a noite inteira manipula.

Aqui falo da manipulação de um modo geral, como tentativas de direcionar as ações do outro de acordo com o próprio desejo. Nesse ponto tiro a aura pejorativa da manipulação, considerando-a apenas humana. Humana, vital e natural.

E digo mais, nem vejo isso como uma separação de classes do tipo manipulador versus manipulado. Todo mundo exerce seu poder à sua maneira.

Eu quando abri a cam, quando mostrei o Ragazzo com seu cão [aliás, um velhito e tanto!], o Ragazzo na piscina, os amigos do Ragazzo etc., também exercia ali meu poder, uma tentativa [inconsciente ou não] de manipulação ao usar minha imagem e meu cotidiano para de alguma maneira direcionar a relação de acordo com meu desejo.

E ele fez o mesmo, com a diferença que usava fotos que não eram próprias. E talvez pelo que ele tinha em mente na hora que o fez fosse coerente. Por que usar fotos reais, expondo-se, se você não tem intenção de materializar a relação um dia em uma mesa de bar ou em seu cotidiano?

Aí que está. Para mim, a virtualidade é um meio. Nunca um fim. As relações que aqui constituo se me são expressivas chega um momento em que não cabem na net. Esse espaço é pequeno para mim. Quero ver as idéias, sim, mas também os tropeços, o olhar, o mau humor.

Nesse interim houve um confronto. Em minha manipulação não me interessava criar um personagem, pois gosto da carnalidade do ser humano, de suas imperfeições, direcionando meu desejo e as formas de alcançá-lo nesse viés. Na manipulação de meu amigo o que valia era a abstração da relação, que ao seu modo de ver pode ser tão rica quanto qualquer outra.

Cada vez mais me convenço de que não existem culpados. Depende da perspectiva da qual se vê. Ao buscar a inocência de um psdeudo-culpado usando meu próprio sistema de verdades cresço, o que não aconteceria se eu simplesmente condenasse. A simples condenção é menor, pois não nos acrescenta em nada além de amargura.

E para resumir a história, o cara do pseudo-corpão [que até pode ter um de verdade, mas ainda desconheço] me escreveu um e-mail bastante sincero se desculpando. É um cara do bem que, de um ponto-de-vista, deu uma escorregada. Sendo um cara que dá prazer de conversar, com tattoos ou sem tattoos, não vejo a hora de reencontrá-lo no MSN para um papo legal, que no conteúdo de pseudo não tem nada.

quarta-feira, 15 de julho de 2009

Lendas Urbanas

Quando pequeno, uma das lendas urbanas de maior sucesso na escola onde estudava era a da famigerada “Loira do Banheiro”. Dizia ela que se falássemos três palavrões, pulássemos três vezes, déssemos três vezes a descarga e fizéssemos três vezes outras tantas coisas, então a Loira apareceria e do banheiro nunca mais sairíamos. Ragazzo, sempre desafiador, topou a parada prometendo ainda ganhar um beijo da temida, mas o máximo que conseguiu foi aumentar a conta de água da escola.

O tempo passa, a gente fica adulto, mas as lendas não se vão. Apenas mudam. E o Ragazzo aqui, que parece não aprender com a vida, continua desafiando-as. E uma hora tinha que se dar mal.

E eis a lenda urbana na Internet: “Cuidado com a net. Lá as pessoas se passam por outras.” O que? Eu, Ragazzo, cair nessa? Confio no meu taco. Sei quando uma pessoa está mentindo. Além disso, deixo claro desde a primeira conversa que posso omitir, mas nunca mentir. Aí claro que a Lei da Reciprocidade vai falar mais alto e a pessoa à frente da outra tela fará o mesmo. Lógica perfeita, não? Na verdade, mais falaciosa, impossível.

Nesse fim-de-semana que passou não estava para atmosfera de badalação e me entoquei. Tampouco queria falar com meus amigos, pois obviamente iriam tentar me animar, falar do quanto pessoas que nos são caras continuarão importantes mesmo depois de se irem etc. Nada que eu não saiba e muito do que eu não gostaria de conversar nesse momento, por mais que as intenções fossem para lá de boas. Vejam bem, não que eu não preze o que fariam por mim, pelo contrário, não poderia ser diferente, mas realmente precisava respirar ares menos cotidianos.

Assim, me aventurei em conhecer melhor os leitores aqui do blog no MSN. Tive conversas bastante interessantes e em um momento de bom humor além da dose recomendada, troquei sorrisos com algumas poucas pessoas, que [em minha cabeça] faziam o mesmo, seja por fotos ou por cam. Afinal, a Santa Lei da Reciprocidade é infalível, pensava o cara aqui.

Dentre essas pessoas, um cara bonitão, interessante e inteligente. Uma pseudo-embalagem com mesma pseudo-altura que eu, com um pseudo-corpo sarado, com pseudo-tatuagens de tirar o fôlego envolvendo um ótimo conteúdo que me chamou atenção e me prendeu por 3 dias seguidos no MSN, em conversas que caiam na madrugada. Ragazzo sorriu na cam, Ragazzo mostrou o seu cachorro, Ragazzo se mostrou na piscina, Ragazzo mostrou seus amigos, Ragazzo mostrou... [só isso mesmo...eheh]

E nessas conversas que [de minha parte] não levavam em consideração as pseudo-possibilidades, foi em que tomei no rabo [e nem venham querer fazer concurso para fazer o mesmo com o Ragazzo, seja qual for o sentido que considerarem para a frase... ehhe] da pior forma possível.

Após o último papo, em um momento pós-conversa, na falta de cigarros [parei de fumar há algum tempo e essa coisa ainda me faz falta depois de alguns momentos prazerosos], fui continuar a leitura de alguns blogs interessantes [agora, com mais tempo, decidi assumir a interação na blogosfera]. E não é que em um determinado post vejo diversas fotos com imagens que também tenho em meu computador? Sim, meus caros, aquele corpão com conteúdo estava ali, na versão embalagem com pseudo-conteúdo [realmente o dueto embalagem com conteúdo é raro hoje em dia e estou começando a achar que entra no mesmo grupo do Papai Noel, das Garotas-Fruta Inteligentes, dos Políticos Honestos e do prato de ricota delicioso], com outro nome, de outra região, com outra história de vida. As fotos de meu pseudo-novo-amigo eram de um modelo e personal trainer famoso, que o Ragazzo [que está mais para Lucas Silva e Silva no Mundo da Lua] não conhecia.

E de Ragazzo Pazzo me senti Ragazzo Scemo.

[A reflexão virá em outro post]

sábado, 11 de julho de 2009

Uma Questão de Fidelidade

Pessoal, Ragazzo voltando à ativa.

Tive duas semanas pouco participativas aqui. Ausentei-me das discussões por precisar dar uma ermitada, mas agora estou de volta.

Agradeço o apoio demonstrado por vocês nos comments!

Adianto que, pela primeira vez, escrevi um post-desabafo. Em geral, exponho assuntos que de alguma maneira quero compreender, mas o último foi para dar vazão mesmo.

E é engraçado como no meio do tormento encontramos pequenas coisas que nos animam. Na madrugada de domingo para segunda, enquanto esperava meu pai passar pela minha cidade para irmos ao velório de minha avó, passeando pela net evitando qualquer pessoa conhecida, encontrei um blog maneiro escrito por um cara que me parece bastante interessante.

Não se assustem com o título do blog: Gay Alpha. Sei que alguns de vocês, como eu, não gostam da palavra gay. O significado original do termo é algo em torno de alegre, feliz, jovial. E sempre quando ouço alguém falar em gay já me vem à cabeça um cara estereotipado espalhando sorrisos e delicadezas, daqueles que de manhã dão um "bom dia" sonoro para todos que encontra (eu perguntaria - Bom dia pra quem?.. É... antes de um banho matinal até o capeta tem medo do Ragazzo... hehe).

Mas, voltando, GA não tem nada de caricaturado. Lembra-me um livre pensador. Em seu blog, escreve de modo cativante, equilibrando louvavelmente humor e reflexão. Seu último post toca em um assunto deveras interessante: a fidelidade.

Assumindo a net como rede em essência, convido vocês a lerem lá sobre o assunto e, ao voltarem aqui, terão meu ponto-de-vista.

O discurso de GA é retoricamente bastante interessante e eu mesmo já me peguei muitas vezes falando na mesma direção. Agora, sempre que estou com alguém, me sinto dando tiro no pé. Não, não sou de modo algum ciumento, mas, na prática, não me apetecem relacionamentos fisicamente abertos.

E aí, Ragazzo, não sabia que você era possessivo. E aí que está: não sou. E me parece que mesmo aqueles que o são, a possessividade é mais sintoma do que doença.

O problema em sair com outras pessoas (vou preferir falar assim ao invés de traição, por esta já carregar um juízo de valor junto) não está em compartilhar fisicamente. A ferida é mais embaixo. Seu parceiro sair com outras pessoas é atestar uma limitação, mostrar claramente que você não o supre por completo, e, em um nível mais profundo, trata-se da negra possibilidade de essa terceira pessoa vir a se tornar mais importante que você. No fundo, o problema se resume a auto-estima e insegurança, aspectos inerentes em suas devidas proporções a todo ser humano. Cogito até que tenha um Q de biológico. Afinal, não somos uma espécie estável. Nascemos, crescemos, decaímos fisicamente. É fato que procuramos em algum momento certa estabilidade para quando não estivermos mais em ascensão. E por quê? Talvez por conta daqueles dois "defeitos" supra citados. Sem eles talvez não necessitássemos do outro, nem de uma sociedade com laços afetivos.

E por que não sermos todos puro desejo? Porque nem sempre desejos de diferentes pessoas convergem, o que dificultaria qualquer convivência além da pontual, o que inclui um relacionamento a dois. E aí o ser humano tem algo diferente dos animais: o poder de avaliação. Esse poder, que se pensarmos bem nada mais é do que a possibilidade de refrear racionalmente aquilo que desejamos, dentre outras coisas, possibilita a manutenção de algumas escolhas, algo como cortar o desejo por um bem maior.

Claro, tudo o que eu disse não faz nenhum sentido para pessoas que buscam em relacionamentos apenas a satisfação de desejos. Vejo-os, contudo, de maneira maior, como a possibilidade de construir algo que individualmente não seria possível, como a possibilidade de transcender a dois. E um dos modos para prezar por essa relação é evitar sua abertura para terceiros, quartos, quintos etc. Qualquer relacionamento tem altos e baixos. E no vale da montanha russa, incluir uma outra pessoa é sempre perigoso.

E onde que fica a traição, Ragazzo? Eu respondo que fica e não fica, dependendo do cliente. Para mim, tudo gira em torno de um contrato - às vezes verbalizado, outras escrito (como no casamento), e na maioria estabelecido pela tradição - mais ou menos acordado. O teor fica a cargo dos fregueses: uniões abertas (o que como já disse acho perigoso), relações que envolvem posse (que de longe me assustam) ou alguma outra que gostaria para mim, mas que ainda não sei definir... hehe

Dessa perspectiva, traição é algo simples: o ato de infringir cláusulas importantes desse contrato. E, no caso de infração, vale a pena repensar se o problema era com o contrato, se as cláusulas não eram tão importantes ou se é o caso de se desfazer a união. O que não vale é querer conscientemente trapacear o contrato, o que algumas vezes pode ocorrer quando o objetivo por trás da união é somente satisfação de necessidades.

Poxa, mas que modo frio de olhar para isso, Ragazzo? E é mesmo. Não gosto muito do discurso passional e humanista que gira em torno da palavra traição. Muitas vezes se perde muito por conta de infrações que, enxutas do orgulho ferido, são pouco significativas.

Eita post longo e confuso! Talvez porque eu mesmo me pegue em cada momento pensando algo diferente sobre o tema.

E para os que chegaram até aqui e que visitaram o blog de meu novo amigo vendo lá a indicação deste espaço, não pensem que a divulgação foi à base de troca... hehe Se indiquei é porque gostei mesmo e me senti impelido a discutir...

E que bom que na blogosfera ler vários blogs não infringe contrato! Uma traição a menos em nossas vidas...

domingo, 5 de julho de 2009

Casos de Família

Não iria postar esta semana, mas uma vez que não pregarei os olhos até amanhã cedo, mudei de idéia.

Ontem à noite, após uma semana de muito trabalho, na qual tive que usar muita energia física e psicológica, sai com alguns amigos para relaxar. No fim da noite, conversando com uma grande amiga, falávamos sobre sua família. Fiquei surpreso com algumas peculiaridades.

Caso 1: O Assumido

Um de seus tios é homossexual assumido e, por conta disso, ficou aparte da família até pouco tempo atrás, pois seu irmão (pai de minha amiga), mesmo sendo uma pessoa deveras generosa e bondosa, não aceitava o fato, mantendo uma distância física e dialógica, por nunca tocar no assunto.

Esse tio desde pequeno já sofria preconceito. O próprio pai, ao perceber os trejeitos do filho, o deu para primos cuidarem dele.

Depois do falecimento de seu irmão há dois anos, seu tio novamente se aproximou de toda a família.

Caso 2: O Enrustido

Outro tio, vulgo enrustido, atualmente major, teve uma infância bastante pobre e, para se manter na carreira escolhida, construiu toda uma fachada. Casou, teve uma filha, despontou como profissional. E nas horas vagas, é outra bandeira que hasteia.

Ainda que toda a família desconfie do que ocorre por trás das cortinas, ninguém toca no assunto e no Natal todos se abraçam.

Caso 3: O Liberto

Seu sobrinho, ídolo do pai de minha amiga, único varão dentre os netos, vivia calado, distante, triste. Criou por conta disso uma independência invejada. Após a morte do avô resolveu, com ajuda da tia, assumir um relacionamento com um cara. Hoje é outra pessoa. Aquela distância que, por um lado lhe possibilitou a independência, mas também o deixava além da pertença de um núcleo familiar, se desfez.

Refletindo...

O que ganhamos em esperar as pessoas de quem gostamos sairem de nossas vidas para podermos compartilhar aquilo que vivemos? No medo de expressarmos aquilo que sentimos, deixamos de lado aqueles de quem mais gostamos. Aquilo que é mais íntimo se torna mais fácil de ser confidenciado a um completo estranho no msn, em um blog ou em uma sala virtual do que àqueles que incondicionalmente gostam de nós.

Medo de não sermos o que os outros gostariam que fossemos? E por conta disso nos deixarmos mostrar como aquilo que não somos? Vida dupla é muito desgastante. O receio que se tem de a outra vida vir a ser descoberta pode nos levar a uma solidão pior do que aquela física. Uma solidão em que mesmo rodeado por muitos, não se tem ninguém com quem você saiba poder compartilhar-se como um todo.

Minha avó faleceu hoje. Morreu sem saber de quem eu já gostei, sem saber o que penso da vida, sem saber o que me faz sorrir e o que me faz ficar de olhos baixos, sem saber aquilo que me tira do sério, sem saber quando meus olhos brilham. Paradoxalmente, uma das pessoas mais importantes pra mim morrendo sem me conhecer.

Última vez que a vi, a abracei e ela me disse que não queria bisneto fora de hora. Disse também para eu namorar menos e visitá-la mais, que "rabo-de-saia" só serve para atrapalhar vida de homem. Eu sorri ternamente, beijei sua testa, pedi "benção" e fui embora... pra sempre.

Problemas

Por alguns acontecimentos, não postarei esta semana

sexta-feira, 26 de junho de 2009

Rito de Iniciação

Fomos apresentados. Cara legal. Bastante compreensivo com minhas encanações da época. Saímos várias vezes como amigos, sem nada rolar, apenas para conversar.

Engraçado que me lembro de algumas tontices que eu fazia, como paquerar garotas nessas ocasiões. Sabia que ele ficava chateado, afinal, ele estava lá sendo o Rei da Paciência, e eu, com aqueles jogos (in)conscientes. Hoje olhando para aquela época, compreendo que aquelas eram atitudes de fuga. Fazia aquilo para frisar minha masculinidade, para arrumar uma brecha quando estava assustado com a situação.

Nessas saídas, ele me explicava tudo sobre o “mundo gay”, desde os significados de Barbie, bofe ao famoso radar. Tentava me mostrar quão natural aquilo era. Um dia, uma amiga dele de outra cidade, que curtia garotas, foi visitá-lo. Ela estava mal porque sua namorada havia terminado o namoro.

Foi a primeira garota naquela situação que eu conhecia. Longe dos estereótipos, era uma moça doce, bonita e simpática. Aquilo me deixou bastante à vontade. A conversa estava animada e eu me sentia cada vez mais seguro. Ainda assim, por mais que tudo conspirasse a meu favor, sentia mesmo era vontade de estar com meu amigo (post "Fiat Lux").

Depois do bar, fui levá-los embora. Já com muita cerveja na cabeça, o cara me convidou para dormir lá. Dizia ele:

- Sem maldade. Juro! Os caras que moram comigo estão viajando. Tem quarto só para você.

E lá fui eu.

Tomei uma ducha. Quando ia dormir, ele entrou no quarto. Sentou-se na cama. Eu, por minha vez, afastei-me em direção à porta. Uma cena no mínimo engraçada. Eu da porta e ele na cama. Parecia que havia um precipício no meio e que nenhum dos dois poderia ultrapassar. Nesse posicionamento tático, ficamos conversando. Ao mesmo tempo,
sabia o que ele queria. Estava curioso.

De repente, do nada, sei lá o que aconteceu. Eu caminhei até ele, segurei-o pelos braços e dei-lhe um baita beijo.

Foi meu primeiro beijo em um cara. Uma sensação diferente, barba raspando. Ambos de shorts, foi também a primeira vez que eu senti um pau duro. O meu também estava. Latejava. Daí entendi a expressão “briga de espadas”. E a coisa iria longe se eu em determinado momento não o pegasse no colo e levasse para fora do quarto.

Dormi estranhamente, sem sonhos. Nem bem, nem mal. Não sabia se tinha gostado ou não. No dia seguinte, na mesa do café-da-manhã, ele todo animado. Eu pelo contrário, senti asco. Me dava nojo de tocá-lo. Ele se aproximava, eu me distanciava.

Provavelmente não estava com a cabeça completamente aberta e preparada para o que aconteceu. Pensando melhor depois, também percebi que não queria ficar com ele. Curtia mesmo era meu amigo. O cara serviu mesmo para matar uma curiosidade, ainda que eu não tivesse clareza disso na época.

O destino ainda fez que nesses 10 anos que se passaram eu e o cara que beijei naquele dia nos encontrássemos diversas vezes. Resistindo aos diversos flertes dele, nunca mais tive vontade de beijá-lo. Aquela sensação ruim que ficou depois daquela noite, de um modo ou de outro, permaneceu, ainda que eu tenha nesse tempo, muito mudado.

sexta-feira, 19 de junho de 2009

Coraggioso?

Minha situação: curtindo demais o melhor amigo. Definitivamente o cara era hétero. Nem punha isso em dúvida. O que fazer? Não fiz nada. Me fingi de morto.

O duro é que nessas horas, "nada" talvez seja o pior que se tenha a fazer. Acaba-se por tapar a bomba com um pano, de modo que ela vai cozinhando, se aquecendo e o que em um primeiro momento poderia apenas estalar, quando se percebe, é capaz de um estouro que te tira do eixo.

Voltei a ficar ansioso. Seus convites para sair eram dolorosos. Por um lado, era ótimo estar com ele. Por outro, era angustiante. E já não queria voltar a me distanciar, por achar uma atitude extremamente egoista. Afinal, éramos amigos.

Comecei a prestar atenção em outros homens. Até então nunca tinha me imaginado com nenhum cara fora meu amigo.

Na época, morava em um prédio que tinha outros apartamentos com estudantes. Lá conheci um cara que, apesar de não gritar aos 4 ventos que curtia cara, tinha um buxixo acerca de sua sexualidade.

De conversas de elevador, um dia ele me convidou para ir a uma festa do curso dele. Acabei indo junto com outras pessoas do prédio.

Lá, conheci muita genta, mas nada diferente de uma festa. Até que uma hora prestei atenção na conversa de duas amigas minhas, que apontavam para um cara:

- Que cara lindo. Que corpo!

- É verdade. Eu o conheço. Ele fazia ginástica olímpica até algum tempo atrás. Mas nem adianta olhar. É um desperdício, mas ouvi dizer que o lance dele é cara.

- Duvido. Você tá tirando uma comigo...

E o cara era boa pinta mesmo. Na hora paguei um pau. Mais tarde, fiquei todo felizão quando o amigo do prédio veio apresentar umas pessoas para meu grupo, dentre elas, esse cara. Batemos papo. Ficou por aí mesmo. E dali, fui para casa com o cara na cabeça.

Passados alguns dias, entro no elevador e lá estava o amigo que me convidara para a festa. Já começou me zoando:

- Ae Ragazzo, conquistando corações, hein?! hehehe

- Como?

- O Zé veio perguntar de você para mim. Pagou um pau pra você.

- Tá louco? Tô fora... ehhehe

- Pode ficar tranquilo. Já falei que o seu lance é outro. Tô só tirando uma mesmo... hehe

E o elevador chegou. Despedimo-nos. Duas noites mal dormidas depois, toquei no apartamento de meu amigo de elevador. Com receio de faltarem palavras, fui na estratégia "ou-vai-ou-racha". Mais seco, impossível:

- Ragazzo? Você aqui? Tá precisando de alguma coisa?

- Você já beijou algum cara na vida?

Meu amigo de elevador deve ter passado por todas as cores do arco-íris. Ficou sem ar. Ficou quieto, gaguejou. Ao fim, disse:

- Já. Mas de boa, não comenta,ok? Desculpe ter zoado com você no elevador aquele dia, mas é que achei engraçado meu amigo ter ficado a fim do Ragazzo. Como disse, ele não vai te encher o saco. É um cara sossegado.

- Não é isso, cara. Vim aqui para te pedir duas coisas. A primeira, é que quero que você me apresente a ele. A segunda é que quero que você faça isso de um modo que ninguém fique sabendo.


Ele ficou branco. Achei que ia ter um troço na hora.

sexta-feira, 12 de junho de 2009

Fiat Lux

Se a memória não ajuda na demarcação de tudo que vivemos, ao menos algumas vezes revela alguma cicatriz de alguma brasa do passado. E hoje é sobre uma dessas tatuagens naturais que quero falar um pouco.

Ao contrário de muita gente que diz que se percebeu tendo uma atração por caras desde pequeno, comigo não foi assim. A primeira vez que senti crescendo a vontade de estar junto com um cara, ainda que não fosse, a princípio, de uma maneira sexualizada, ocorreu durante o colegial.

Tinha um grande amigo, com quem a convivência era tamanha que um dia me peguei preferindo estar com ele à minha namorada. Aquilo me assustou. No dia em que me peguei fazendo sexo fantasiando-o, estremeci de vergonha. E ali, ofegante, próximo do gozo, fiat lux. Fez-se uma luz opaca, que cegou os olhos e feriu a alma. Senti-me machucado no orgulho, nas convicções. Como poderia ter aquele desejo que eu mesmo nunca gostaria de ver em um filho?

Tentava me enganar. “Não, Ragazzo, você está só querendo coisa nova. Aventura está no seu sangue. Do mesmo jeito que você curte uma mochila nas costas e dar as caras em um país desconhecido vez por outra, você também está querendo conhecer outras terras sexuais”. Outras vezes: “Não, Ragazzo, o cara é tão seu amigo que às vezes pode rolar uma confusão. É apenas excesso de intimidade”.

Na época morava em uma capital. Estávamos próximos do vestibular. Passei na melhor universidade do estado em um curso muito disputado, relativamente próximo à casa da família, mas preferi estudar em outro estado. Queria fugir de mim. Afinal, quem sabe assim não fugiria daquele sentimento novo também?

Algumas semanas antes de minha mudança, esse meu amigo chegou a mim e disse: “Ragazzo, quer saber de uma coisa? Não passei em nenhuma faculdade. Decidi. Vou mudar com você para lá. Em uma cidade menor ao menos eu vou estudar mais.” Na hora fiquei feliz, mas ao mesmo tempo apreensivo. Afinal, um dos motivos da fuga era ele. E agora me via encurralado.

Moramos juntos por 6 meses. Somente amizade. Ambos com namoradas na capital. Um mês depois, as namoradas rodaram. Afinal, a distância não ajudava. Solteiros, saíamos juntos e percebi que ele me chamava mais atenção do que qualquer garota. Nesses 6 meses, não tinha mais vontade de sair com nenhuma outra pessoa. Até que em um momento eu pensei que se não tomasse uma providência, eu estaria frito. Nunca teria coragem de fazer qualquer coisa com ele. Nem eu sabia exatamente o que queria. Aos poucos me via fora de si. Tinha alterações de humor constantes. Já não me sentia tão dono de minha vida.

Resolvi mudar. Agradeci a ele por ter vindo comigo, mas disse que eu precisava de um espaço maior para mim, que não estava muito bem. Menti que era a mudança, que sentia falta da namorada e tal. Aluguei um apartamento só para mim. Distanciei-me dele e por ora foi bom. Estava aliviado. Voltei a ter atração por garotas e creio que o que eu não tinha feito nos 6 meses anteriores, fiz em triplo nos próximos.

Quando me apaixonei por uma garota novamente, me senti no céu. Pensei: “Era só fase!”. Até que no fim do ano recebi um e-mail de meu amigo, sem entender a razão por eu ter me distanciado. Aquilo pesou. Senti-me mal pra cacete. Fomos nos ver e o fogo cresceu. O pesadelo retornou e dali a um mês arrumei uma solução paliativa. Fiquei com um cara - mas não meu amigo - para tentar entender aquilo. Afinal, ele era meu irmão. Nossa amizade era sacra e não queria fazê-lo de cobaia para algo que eu não compreendia.

Mas o resto da história fica para a próxima semana. Hoje já escrevi demais e quero aproveitar o feriadão.

sexta-feira, 5 de junho de 2009

Meta-Vergonha: a vergonha da vergonha

Conversa de msn com um amigo de longa data, que vive dilemas muito próximos dos meus. Temos mesma profissão, estilos de vida parecidos e, acima de tudo, somos dois grandes cabeças-duras.

- Ragazzo, tô saindo do armário. A sensação de liberdade é enorme.

- Como foi isso, cara? (Pergunta genuína. Afinal, ele vive uma situação muito parecida com a minha.)

- Não falei deliberadamante para muitas pessoas, mas não tô mais encanado de virem a descobrir. Assim, tô mais solto.


- E pro Amigão (amigo dele com quem morou por vários anos)? Como foi contar?

- Pra ele eu não contei, não. Afinal, não tem por que. Não tô namorando.

- Mas, cara. Se você não faz questão de esconder, será que ele ouvir da tua boca não é melhor? Você mesmo diz que ele entenderia numa boa. O que te impede?

- Vergonha.

Ponto de basta. Essa resposta calou minha boca de tão sincera.

O que mais incomoda: estar no armário, pois falta ar nele, ou o motivo de estar no armário? Afinal, o problema é externo ou interno?

Faz muito tempo que considero natural a idéia de sair com caras, um passo dado e pronto. Vivo me dizendo que o problema em me assumir está em mudar a relação dos outros comigo, algo puramente social. Será mesmo?

Com essa resposta de meu amigo que, curiosamente, tinha se "assumido" para pessoas que pouco importavam para ele, mas se mantinha no armário para aqueles que prezava, comecei a pensar melhor sobre algumas antigas certezas.

Tentando deixar de lado algumas "crenças irracionais" à moda do blog que o RP recomendou, do que tenho medo? Sou um cara que não tem dificuldades sociais. Sou rodeado de pessoas bem esclarecidas. Em minha profissão não é o fim do mundo curtir caras. Então, por que me esconder?

A resposta me parece de uma ignorância tremenda, mas infelizmente é algo que ainda não consegui lidar direito: à moda de meu amigo, sinto vergonha.

Depois dessa conversa, tentei pensar em alguns indícios do passado que mantêm essa sensação ativa, movida por um impulso muito mais forte do que a razão.

Lembrei de minha mãe apontando para uma reportagem sobre homossexuais, dizendo que aquela era a pior decepção que qualquer filho poderia dar aos pais. Lembrei de um garoto da 5a série que todos xingavam de bichinha (e uma vez eu xinguei junto) por não jogar futebol. Lembrei do meu pai orgulhoso quando me pegou com uma garota na cama no meio de minha adolescência (imagino o que teria acontecido se tivesse sido um cara no lugar). Lembrei dos amigos sempre xingando de viado o cara mais fracote, o cara mais frágil, o cara mais sensível, e eu, (nem sempre) evitando participar do coro, mas ao mesmo tempo não defendendo. Lembrei e me envergonhei, lembrei e me envergonhei, lembrei e me envergonhei... Lembrei, me envergonhei e me assustei.

Me assustei porque, por mais que não me considere com tais características - e creio mesmo que fiz questão de me distanciar delas exatamente pelo fato de curtir caras e querer mostrar que tinha as qualidades contrárias ao estereótipo -, sempre tive medo delas. Afinal, era o que via apontado. Era o receio de um vir-a-ser isso desde pequeno. Daí a vergonha. É como se tudo aquilo fosse verdade e, uma hora ou outra, fosse despontar.

Além disso, no fundo não entra em minha cabeça como um cara que exerce controle sobre a própria vida, que profissionalmente consegue o que quer, que sempre deu as guinadas que quis, sempre se dando bem, acaba não tendo controle sobre a sua sexualidade.

Se pudesse, escolheria curtir tão somente garotas. Seria mais fácil. Curtir caras, no fundo, me parece uma "fraqueza". E falar dessa "fraqueza" é mostrar que aqui, no íntimo, nem tudo é controlável.

A saída? Acabei me endurecendo, tornando-me uma pessoa que analisa, que observa, que aparentemente se doa como um mecanismo de conquista social, sem realmente se doar.

Sim, sei que haverão posts que dirão "Ragazzo, não é assim", "Ragazzo, esses são estereótipos", "Ragazzo, não há de que se envergonhar", "Ragazzo, não há como se ter controle de tudo", "Ragazzo, permita-se" etc. Eu sei disso tudo e concordo, mas de um ponto-de-vista racional. Agora, vir a sentir isso na carne são outros quinhentos. E por ora, nem Freud explica. Ou melhor, explica, mas não soluciona.

quarta-feira, 27 de maio de 2009

Uma Festa Teatral: bissexualidade em quatro atos.

Uma peça com atores que ora atuam, ora vivenciam...

Ato 1: Uma garota linda da academia com fama de difícil, que não conheço tão bem, mas tenho no orkut, trocando mensagens comigo em meu scrapbook.

- Ragazzo, você vai na festa X? Afinal, a vida não é só trabalho... hehehe

- Nem vou. Tô super apurado. Tenho que terminar uns trabalhos.

- Ah... Certeza que a gente ia se divertir...

Ato 2: Decido ir à festa de última hora. Não aviso ninguém. Encontro uma garota que trabalha sob minha supervisão.

- Ragazzo, blá blá blá blá (ela estava bêbada e não parava de falar).

- É verdade... (resposta que não incentiva o assunto, sem cortar a pessoa, mas deixa claro que você não está no papo)

- Que bom que você concorda! (aproximando-se e falando ao pé do ouvido de uma maneira que não te deixa com muitas possibilidades de escapatória).

- (Você aponta para a cerveja e diz que por culpa dela tem que ir ao banheiro... e some).

Ato 3: Outra garota, antiga colega de trabalho.

- Ragazzzzzzzzzzzzzzoooooooooooooooooooo (gritando de longe).

- (Sorriso amarelo e passadas para mais longe. Essa está mais bêbada ainda).

Ato 4: Uma garota que te vê na pista de dança, conhecida de uma outra festa em que te chamou de "um apelido que te inflou o ego".

- (Sorriso malicioso, puxando você para dançar).

- (Você deixando-se ser puxado para dançar).

- (Ao fim da primeira música, ela te puxa para bastante perto).

- (Sem escapatória, você não vê muitas alternativas. Ela é uma gata, mas a atração é pouca. Está muito fácil. Ainda assim, você pensa: Se eu não fico agora com ela, acabo com meu armário. No fim da segunda música você a beija. Passa mais meia hora com ela. É gostoso, mas não sente aquele tesão. Ao fim, você diz:) Vou dar um oi para meus amigos, senão perco a carona.

- Vou ficar te esperando aqui.

- Logo estou de volta. (Mas você se deixa nesse meio tempo se entreter em um papo com uma amigona que encontrou. Vê ela passando. A que você acabou de beijar te vê de longe fingindo que não viu, mas você nem liga. Você ficou com fama de galinha, mas não está nem aí. Afinal, sabe que o que te tira do sério não é ela. Ou melhor, não são elas...)

Ato 5: Entrando no banheiro, você reencontra o cara do post "A Chave: ambiguidade" saindo.

- Falae Ragazzo!!! (com certa empolgação na entonação).

- Falae cara. Seu nome é mmmmmmm, não? (Fingindo que não tem certeza, apesar de você ter feito questão de decorar para procurar no orkut).

- É esse mesmo... (Em um tom de decepção, que você finge que nem percebe).

- (Você vai mijar achando que fez merda, enquanto ele vai embora. Vocês não se encontram mais na festa).

Clímax: Você fica de saco cheio consigo mesmo. Porra! Deu fora em várias garotas. Ficou com uma mina pela qual você nem estava tão empolgado. E o cara que você estava tão a fim, simplesmente você acabou dando uma gelada. Ok, ok, na festa havia várias pessoas que te conheciam bem. Assim aquele não era um bom momento. Mesmo assim, por que ser tão duro?

Como a imagem é um lance forte. Por mais que eu me sinta acolhido quando fico com garotas. É fato que eu me sinto muito mais vivo quando fico com caras. Com mulheres, o lance é sútil. É gostoso. Com caras o lance é mais animal.

Sou bissexual? Depende do que se considera por tal. Sou em termos de comportamento. Fico com caras e com garotas, porém, no fundo, sei que curto mais caras. Sei que é ali onde eu perco as rédeas. Por outro lado, fico meio sem saber o que fazer em relação a sentimentos. Com garotas, a coisa é mais suave, como em uma valsa. Com caras, o negócio é mais tenso, à moda de um rock pesado.

Também me pergunto se não é insistência minha sair com garotas porque, no fundo, é uma ação esperada de homens, como se não curtir garotas pudesse soar como "ser menos homem", algo já discutido nos comentários do post anterior.

No fim das contas, o melhor mesmo seria não haver essa pressão para se dizer o que se é. Prefiro sempre estar sendo...

sábado, 23 de maio de 2009

Conversa de Bar: o diferente

Após algumas muitas conversas por msn tendo como partida algumas fotos em mais um perfil fake do orkut, fui conhecer um cara em uma cidade próxima.

As expectativas eram altas. Não havia falado ao telefone, que é algo que não gosto de fazer com quem não conheço pessoalmente, mas ainda assim não via muitas possibilidades de algo dar errado. Tínhamos perfis parecidos, profissões semelhantes, gostos afins.

No local marcado, vejo ele vindo de longe. Pensei de longe: corpão! Mas isso as fotos já tinham antecipado. Quando o cara abre a boca, decepção. Não latia, miava.

Na hora deixei de ficar à vontade. Havíamos marcado de assistir um filme que ambos queríamos ver. Na sessão, fazia de tudo para ficar o mais longe possível dele. Suas tentativas de aproximações escusas com a mão eram claramente repelidas, o que em uma película preto-e-branco daria uma bela comédia de tempos chaplinianos.

Me despedi aliviado e assim terminou um pequeno grande conto.

Por que contei essa história? Porque esses dias eu percebi que muitas vezes nos fazemos de vítimas sociais, ao sentirmos que não somos aceitos, quando nós mesmos temos nossas categorizações, preconceitos e mecanismos de exclusão.

Assumo que sou preconceituoso com afeminados, ainda que racionalmente gostaria de não sê-lo. Isso me lembra que também tenho meus problemas em aceitar algumas coisas e, desse modo, como exigir que aceitem qualquer coisa de mim?

Todos temos limites, que nem sempre são iguais. Às vezes sabemos dos nossos, mas nos esquivamos de compreender os dos outros.

Há uma frase-clichê que acho no fundo vazia e simplista: "Se é seu amigo verdadeiro, te aceitará de qualquer modo". Cada um tem seu limite, e é possível que outros modos de se exercer a sexualidade esteja além do limite de seu amigo. Por isso é uma má pessoa? De modo algum. É apenas humano.

O diferente incomoda por diversos motivos. Aquilo que não se entende, que rompe alguns padrões, agride. Agride, pois não se sabe o que esperar. Dói saber que essa perda de controle abre a possibilidade de alteração de toda a estrutura.

Por outro lado, o diferente pode agridir ao se perceber uma semelhança ali também. É o medo de se tornar diferente também. É a possibilidade de vir a ser um diferente. E aqui, meus amigos, talvez resida o meu distanciamento a afeminados.

sábado, 16 de maio de 2009

Meu Ex-quase-namorado

Em uma noite sem um pingo de sono, entrei em um chat, muito mais para passar o tempo do que movido pela expectativa de conhecer alguém interessante.

Conheci um cara simpático, sem ser meloso, que não distribuía sorrisos no msn, passando um pouco até por canastrão. Ou seja, meu número.

Após algumas conversas de msn, marcamos em um bar e quando o vi, pensei: "Agora acertei". Muito bonito, sorriso na medida certa, inteligente, com um humor interessantemente sarcástico, sem contar que acabava de voltar do emprego e usava um terno, um charme a mais.

Ficamos no mesmo dia e nos dias seguintes. Ele trabalhava o dia todo e em seguida vinha me ver. Comecei a me empolgar e vislumbrar a possibilidade de uma relação.

Conversamos sobre isso, me sentia apaixonado. Resolvi contar para algumas pessoas ao meu redor para que eu tivesse maior liberdade para rolar aquela relação. O armário iria finalmente ser aberto. Possivelmente muita gente ia se chocar, mas imaginava fazê-lo por um bom motivo. Marquei um boteco à noite com um amigão e ali ele seria o promeiro a saber.

Antes, porém, tinha algumas reuniões importantes em um dia cheio. Na primeira da tarde, senti o celular vibrando em minhas calças: era meu "quase-namorado". Discretamente, escrevi uma mensagem dizendo que estava em reunião.

Duas horas depois, em outra reunião, recebi uma mensagem. Como nessa havia menos pessoas, não tive como lê-la. Em seguida, outra mensagem, outra, e outra. Pedi licença para ir ao banheiro, pois estava preocupado. Quando li as mensagens, nessa ordem, diziam algo como:

1) Estou com saudades;
2) Por que não me responde? Continuo com saudades.
3) Se não está a fim, por que não diz logo?
4) Desculpe por criar tantas expectativas. Achei que estivesse rolando algo legal.

Estava rolando algo legal, mas naquele momento tudo acabou. A melação e a insegurança dele destruiram qualquer possibilidade de algo ir para frente. Desencantei-me no ato.

Desmarquei com meu amigo para encontrar meu quase-namorado, que agora virara ex-quase-namorado. Olhei-o nos olhos, vi que já não sentia chama alguma e deixei isso claro.

Podem achar o "rompimento" supérfluo, mas o fato é que foi tocado um ponto crucial para mim: minha liberdade e a insegurança do outro. Não preciso fazer sinal de fumaça a cada 3 minutos para dizer que gosto de alguém. Não preciso viver em função de outra pessoa para mostrar que gosto dela. Pelo contrário, gosto de quem sou e quero que alguém ao meu lado goste de si também e, nesse caso, qualquer forma de anulamento é mal-vinda.

O que preciso é ter alguém para quem eu possa chegar no fim do dia, dar um abração e contar o dia, beber uma cerveja bem gelada e rir junto com os amigos, falar coisa séria, falar coisa boba. Se precisar viajar, ou fazer outros programas sozinho, sem problemas, cada um tem suas necessidade. E em noites frias como essa, nada como um outro pé para esquentar.

Não quero alguém para possuir, mas para compartilhar. E isso, meus amigos, está difícil de achar nos dias de hoje, seja qual for a sexualidade que você exerça.

sábado, 9 de maio de 2009

A Divina Comédia dos Três Mosqueteiros

Fim-de-semana morno. Ligação de um ex-rolo de outra cidade, que virou amigão.

- Ragazzo, vamos a uma sauna?

- Sei não. Você sabe que não curto.

- Na pior hipótese você fica no bar bebendo.

Como não tinha mesmo planos para aquele dia, acabei indo. Fomos em três. Três mosqueteiros, cada um com um objetivo diverso, um menos nobre que o outro.

Após quase duas horas de viagem, chegamos. Conhecemos o lugar. Na entrada, uma pulseira-coleira, que vira acessório à mercê da imaginação de cada um. Em seguida, um vestiário cheio de espelhos, onde nos trocamos a miradas que usavam as leis da reflexão para nos alcançarem. Decidi ficar de sunga por baixo da toalha, mais por preocupação com higiene do que por um pudor que já há algum tempo perdeu sentido.

Saindo do vestiário, uma sala com o bar e algumas mesas. Pessoas conversando animadamente. Um local menos sexualizado do que pensei que seria. Dali, duas opções: o céu, por uma porta que leva às saunas a seco e a vapor, onde às vezes rola algo a se observar, com vários anjos-demônios nus sob as duchas em clara exibição; ou se pode tomar as escadas para o inferno, o que fica evidente pelos passos rápidos daqueles que tomam tal caminho. No inferno, uma sala de filmes, alguns quartos privativos e um corredor escuro, onde creio que até o diabo entraria com cautela.

Meus amigos foram direto ao céu e ao inferno, e por ali ficaram. Eu preferi o purgatório do bar, suas conversas desprentensiosamente pretensiosas, seus flertes à distância, sorrisos de lado acanhados, olhares que a todo momento se cruzam.

Alguns vieram conversar comigo. Dei atenção a todos, mas sem esbarrar em meu desejo. Um foi mais insistente, mas não invasivo. Era bastante bonito e inteligente, mas faltava-lhe a presença masculina. Lembrava-me mais um garoto do que um homem.

Durante a conversa, cruzei olhar com alguém que me interessou. Corpo troncudo, pernas grossas, ombros largos, bronzeado, com olhar profundo e sorriso discreto.

Ao mesmo tempo, meu interlocutor, no entanto, não se conformava por eu não me sentir atraído por ele. Perguntava: "por quê?". Diante de uma pergunta tão direta, fui igualmente sincero: "Porque me interessei por outra pessoa.". Levantei-me e sentei à mesa ao lado com o cara que havia flertado à distância.

Cara interessante e charmoso, com voz grave e sotaque carioca. Tínhamos estilos de vida parecidos, com a diferença que ele era casado e eu, solteiro. Ainda não sei em que medida isso afetou meu interesse. Naquele momento ética não fazia muito sentido.

Ficamos. Foi bastante bom. Não transamos, de comum acordo, apesar de os corpos pedirem. Não, naquele lugar, não.

Ao se despedir, pediu meu telefone. Eu perguntei: "Para quê? Você acha mesmo que irá me ligar?". Ele disse: "Pode ter certeza que vou". Trocamos os telefones. Ele disse: "Cuide-se aqui. Já aprontou o suficiente por hoje..." e gargalhou. Eu ri junto e 5 minutos depois estava com outro cara.

No vestiário, meus amigos me esperavam. Um deles curtiu demais o lugar. O outro estava quieto e emburrado, dizendo que tinha se interessado pelo cara que eu dei fora, mas que ele passou o resto do dia inconformado por eu ter escolhido outra pessoa. Creio que teve o ego machucado.

Depois de um mês, cá estou. Athos, que havia curtido a sauna, não vê a hora de voltar. Phortos, que havia esquentado a orelha escutando as reclamações do cara rejeitado não pensa em retornar. Aramis, que vos escreve, pensa que foi uma experiência diferente, que, apesar do preconceito que tem com tais locais, vê que eles têm as suas próprias regras, que não precisam ser as suas e nem devem se impor às suas.

Ah, sim, o carioca não ligou para mim, nem eu a ele, como era esperado...

sexta-feira, 1 de maio de 2009

A Chave: ambiguidade

Aqui no blog ou por msn, volta e meia me perguntam como se aproximar de um cara sem dar pinta, como sacar se o cara curte etc.

Vejamos algo que aconteceu essa semana.

Contexto: uma festa com mais dois amigos, que nada sabem de mim.

Em geral, nessas festas prefiro fazer um social. Conhecer pessoas, fazer contatos, ampliar minha rede. Evito deixar meu desejo fluir muito, ainda que com garotas, tentando permanecer na racionalidade. Faço isso, pois me considero como um dique. Se uma rachadura aparece, é possível que logo em seguida toda a barragem se despedace. Assim vejo meu desejo. Se dou margem a ele em um momento social, tenho receio de não controlar seu alvo e, quando me der conta, estar com segundas intenções em uma situação em que alguém poderia perceber pequenos atos de interesse.

Claro, nem sempre esse controle é possível, principalmente com algumas cervejas na cabeça.

Foi o que aconteceu em uma festa algum tempo atrás, em que fui parar na ducha com um amigo, já relatado em outro post, e o que ocorreu essa semana, ainda que por ora tenha ficado apenas no flerte implícito.

Já estava na festa há algum tempo. Conversava com uma garota, rolo do passado, quando, de rabo de olho, vi um cara bastante interessante passar, com um sorriso bonito, corpo ajeitado e distribuindo cumprimentos. Porte, segurança e sociabilidade são três características que me chamam bastante a atenção.

Mais tarde, andava sozinho pela festa, quando senti alguém puxando meu braço. Virei-me e fiquei surpreso ao perceber que era o mesmo cara que eu havia admirado um pouco antes. Ele começou o papo dizendo que sempre me via entrando no trabalho com uma cuia de chimarrão.

Dei trela à conversa de uma maneira neutra, evitando esboçar muita reação. Ele se esforçava para alongar a conversa, abrindo para diferentes assuntos. A conversa fluiu bem, a ponto de ele pedir meu telefone para combinarmos uma viagem para uma certa cidade, que foi um dos temas que conversamos. Despedimo-nos e, durante a festa, sempre que nos encontrávamos de passagem, ele dava um tapinha em meu ombro.

Claro, o cara me interessou, mas sou precavido. Dois pontos são importantes levar em consideração: "o que me faz crer na possibilidade de que algo role" e "o que fazer no caso de eu estar errado em relação ao interesse dele?".

Sempre me atento a essas duas perguntas, pois é o que me possibilita não ser refém da net ou de ambientes gls e de poder continuar no armário.

Vejamos quais os indícios de minha história que me levaram a uma investida:

1) um cara que conhece um grande número de pessoas na festa dificilmente faz amizade com um estranho. Afinal, abordar um estranho é um indicativo de algum interesse, seja para passar o tempo (usualmente ocorrendo em conversas ocasionais, como em filas de banheiro, ou quando duas pessoas estão meio desencontradas), ou para inserção em algum grupo;

2) se feito um primeiro contato, o outro não se mostra animado com a conversa, a tentativa de manutenção do papo é outro indicativo de interesse;

3) homens não trocam telefones em uma festa, a não ser que tenham algum motivo prático para isso. Quando algum cara pede o telefone do outro, em geral se expõe, pois deixa claro que tem interesse de que quer que o contato se mantenha.

Resumindo. Para mim, a aproximação entre caras em um meio hétero se dá em um certo jogo, em que se testa mutuamente o outro. Nesse teste, tento dar respostas ambíguas, à espera de um novo teste. A afirmativa do interesse se dá pela probabilidade, ao se ter um grande número de respostas ambíguas. Um sim verbal nunca ocorre.

E quais foram minhas respostas ambíguas? Não tentei alongar a conversa. Mantinha-me no assunto proposto. Ao ser convidado para viajar, não me mostrei tão empolgado, mas ao mesmo tempo interessado pelo local. Quando pediu meu telefone, dei-lhe, mas não pedi o dele.

Ambiguidade, ainda que torne a aproximação mais lenta, é meu mecanismo de defesa, de modo que, na aproximação, ajo na exposição do outro e não na minha. Em um segundo momento, no entanto, me exponho na iniciativa.

É o que farei se o cara efetivamente me ligar. E se a história for boa para uma discussão, virará post.