sexta-feira, 5 de junho de 2009

Meta-Vergonha: a vergonha da vergonha

Conversa de msn com um amigo de longa data, que vive dilemas muito próximos dos meus. Temos mesma profissão, estilos de vida parecidos e, acima de tudo, somos dois grandes cabeças-duras.

- Ragazzo, tô saindo do armário. A sensação de liberdade é enorme.

- Como foi isso, cara? (Pergunta genuína. Afinal, ele vive uma situação muito parecida com a minha.)

- Não falei deliberadamante para muitas pessoas, mas não tô mais encanado de virem a descobrir. Assim, tô mais solto.


- E pro Amigão (amigo dele com quem morou por vários anos)? Como foi contar?

- Pra ele eu não contei, não. Afinal, não tem por que. Não tô namorando.

- Mas, cara. Se você não faz questão de esconder, será que ele ouvir da tua boca não é melhor? Você mesmo diz que ele entenderia numa boa. O que te impede?

- Vergonha.

Ponto de basta. Essa resposta calou minha boca de tão sincera.

O que mais incomoda: estar no armário, pois falta ar nele, ou o motivo de estar no armário? Afinal, o problema é externo ou interno?

Faz muito tempo que considero natural a idéia de sair com caras, um passo dado e pronto. Vivo me dizendo que o problema em me assumir está em mudar a relação dos outros comigo, algo puramente social. Será mesmo?

Com essa resposta de meu amigo que, curiosamente, tinha se "assumido" para pessoas que pouco importavam para ele, mas se mantinha no armário para aqueles que prezava, comecei a pensar melhor sobre algumas antigas certezas.

Tentando deixar de lado algumas "crenças irracionais" à moda do blog que o RP recomendou, do que tenho medo? Sou um cara que não tem dificuldades sociais. Sou rodeado de pessoas bem esclarecidas. Em minha profissão não é o fim do mundo curtir caras. Então, por que me esconder?

A resposta me parece de uma ignorância tremenda, mas infelizmente é algo que ainda não consegui lidar direito: à moda de meu amigo, sinto vergonha.

Depois dessa conversa, tentei pensar em alguns indícios do passado que mantêm essa sensação ativa, movida por um impulso muito mais forte do que a razão.

Lembrei de minha mãe apontando para uma reportagem sobre homossexuais, dizendo que aquela era a pior decepção que qualquer filho poderia dar aos pais. Lembrei de um garoto da 5a série que todos xingavam de bichinha (e uma vez eu xinguei junto) por não jogar futebol. Lembrei do meu pai orgulhoso quando me pegou com uma garota na cama no meio de minha adolescência (imagino o que teria acontecido se tivesse sido um cara no lugar). Lembrei dos amigos sempre xingando de viado o cara mais fracote, o cara mais frágil, o cara mais sensível, e eu, (nem sempre) evitando participar do coro, mas ao mesmo tempo não defendendo. Lembrei e me envergonhei, lembrei e me envergonhei, lembrei e me envergonhei... Lembrei, me envergonhei e me assustei.

Me assustei porque, por mais que não me considere com tais características - e creio mesmo que fiz questão de me distanciar delas exatamente pelo fato de curtir caras e querer mostrar que tinha as qualidades contrárias ao estereótipo -, sempre tive medo delas. Afinal, era o que via apontado. Era o receio de um vir-a-ser isso desde pequeno. Daí a vergonha. É como se tudo aquilo fosse verdade e, uma hora ou outra, fosse despontar.

Além disso, no fundo não entra em minha cabeça como um cara que exerce controle sobre a própria vida, que profissionalmente consegue o que quer, que sempre deu as guinadas que quis, sempre se dando bem, acaba não tendo controle sobre a sua sexualidade.

Se pudesse, escolheria curtir tão somente garotas. Seria mais fácil. Curtir caras, no fundo, me parece uma "fraqueza". E falar dessa "fraqueza" é mostrar que aqui, no íntimo, nem tudo é controlável.

A saída? Acabei me endurecendo, tornando-me uma pessoa que analisa, que observa, que aparentemente se doa como um mecanismo de conquista social, sem realmente se doar.

Sim, sei que haverão posts que dirão "Ragazzo, não é assim", "Ragazzo, esses são estereótipos", "Ragazzo, não há de que se envergonhar", "Ragazzo, não há como se ter controle de tudo", "Ragazzo, permita-se" etc. Eu sei disso tudo e concordo, mas de um ponto-de-vista racional. Agora, vir a sentir isso na carne são outros quinhentos. E por ora, nem Freud explica. Ou melhor, explica, mas não soluciona.

52 comentários:

Branco Chiacchio disse...

Eu tive muita dificuldade de assumir minha homossexualidade, demorei 25 anos, precisei de um ano de terapia com três psicólogos. Tudo isso porque eu próprio tinha preconceito que a sociedade imbutiu em mim. Por tudo isso, eu entendo seu dilema.
Que tal se você fizesse terapia também? Pra mim foi a solução.
Pelo que percebi, você já refletiu bastante sobre o assunto. A gente só se resolve mesmo quando definitivamente entende que ser gay não é vergonha, não é ser melhor e nem pior, é apenas uma variação da diversidade humana. E existir essa diversidade é tão bonito, faz a humanidade expandir culturalmente. Já pensou se fôssemos todos iguais, pensássemos iguais, nos vestíssemos iguais, comêssemos a mesma comida? A humanidade seria tão mais pobre! Tanta coisa deixaria de ser descoberta, entendida, explorada.

Unknown disse...

Realmente, o comentário do Branco foi muito bem colocado. Terapia pode ser fundamental para nos aceitarmos como somos. Ajudou-me bastante e ainda ajuda. Ragazzo, talvez fosse hora de vc cogitar essa possibilidade. Por mais que vc já tenha refletido sobre a questão da sua homossexualidade, me parece que vc precisa de um empurrãozinho para conviver melhor com ela! A terapia poderia te ajudar muito nesse aspecto!
Fica a dica! ;0)
Bjo!

T Jok disse...

Ragazzo!
Estou lendo o post, ainda não terminei mas vou postar antes de acabar.

Seguinte, pelo que percebi de outra data, você é parecidíssimo comigo. Somos o pior tipo de "homofóbicos". Aceitamos a condição/comportamento alheio mas não aceitamos a nós mesmo. Sentimos vergonha sim, pois acredito que passamos por experiências em que os pais já falaram coisas do tipo: "homossexualidade do filho é a coisa mais deprimente para um pai" ou aquela frase do melhor amigo: "odeio viados", que consequentemente, algumas dessas falas são acompanhadas de pensamentos da seguinte imagem: "Se é "biba" rebola, desmunheca, chupa pau e dá o cú". Esse é um dos principais medos em sair do armário. Pouco ligamos para com o que desconhecidos vão achar ou falar sobre nós, mas sim sobre o que os melhores amigos e parentes vão.

Geralmente pessoas que saíram do armário dizem: "se minha família concorda pq você irá discordar?"
Vindo de famílias tradicionais, crescemos tipo uma receita de bolo. Nascer, crescer, estudar, chegar à adolescencia, namorar meninas, ser alguem na vida, casar e ter filhos. O mundo e muito menos a família ensina como ser gay. E em famílias onde se tem aquele pequeno roteiro, o mundo e a família tem ensinal como NÃO ser gay, mas felizmente ou infelizmente, quando nascemos não temos a opção ser gay ou não.

Agora vou terminar de le o post e depois se precisar faço mais algum comentário. haha

Abraço a todos

T Jok disse...

Já sai do armário para algumas pessoas. Dentre elas 2 amigões. Um reagiu super bem, já o outro( aquele amigo hétero em quem vc tem uma paixão, e ele sabia) a principio não reagiu tão bem, até pq pela forma em que contei. (hahahha) Já meus pais, embora tenhamos uma mentalidade um pouco mais aberta, principalmente por sermos extra-comunitários, não teria tanta coragem de sair do armário pq ainda prezo seus pensamentos.

sementegerminando disse...

curti muito seu blog

Anônimo disse...

É... Realmente, a vergonha nos cobre de muitos mecanismos de proteção. Queremos nos proteger do que nos aflige e, com isso, depositamos nos outros, que muitas vezes possuem mais coragem que nós, culpa por serem assim, "livres". Eu tenho 22 anos. Desde os 19 minha família sabe. Encararam numa boa, mas eu sei que se eles pudessem escolher o meu futuro, não permitiriam isso. Mas, enfim... Sou feliz como sou, sim. Nunca precisei sair contando por aí, mas eu me privo de certas coisas pra não dar motivos pra ninguém falar. Sou o CDF da faculdade, considerado centrado, inteligente e perspicaz. Um dos melhores alunos da turma. Por isso, eu zelo pela aparência sim, mas não me culpo por ser quem eu sou. Acredito que você tem que deixar a vida te mostrar o caminho, seguir seus passos, mas sempre com a consciência de que nada que está fazendo é errado. O certo e o errado estão nos olhos de quem quer enxergar isso. Pense assim...

P.S.: te adicionei nos meus favoritos! qualquer coisa, visita meu blog, valeu? Abraços!

Arcanjo Misterioso disse...

Realmente as vezes a tal da vergonha de sair do armário acaba sendo um belo de um obstáculo pra podermos viver plenamente a nossa sexualidade.
Assim como o T Jok, acabei contando pra um amigo hetero que me apaixonei, e que no princípio não reagiu bem, mas hoje em dia me respeita numa boa. E com relação a família, contei apenas pra minha mãe, mas tenho certeza que meu pai também já sabe. Até se dava muito bem com o meu ex.
Com os amigos pode variar muito. Tem um post mesmo no meu blog que um amigo meu acabou descobrindo que eu era, mas ele finge q não sabe e eu finjo que eu não sei que ele sabe.
Mas uma hora a gente acaba perdendo a vergonha, e tirando esse fardo das costas(ou não né? rsrsrs).
Abração rapaz!

Alex Nox disse...

Vou falar de mim mesmo -- não sou um bom modelo, mas ainda assim... No início também era assim, fazendo brincadeiras e chacota ao lado dos homofóbicos -- para fingir que não era o que estava criticando. Afinal, é o que é ESPERADO que você faça. Quando mergulhei de cabeça na adolescência, contudo, comecei a pensar por conta própria. Afinal, sou do contra e gosto de ser e fazer tudo que dê asco à sociedade, que vá de encontro ao "politicamente correto". Posso dizer que não me assumi diretamente, a princípio, mas indiretamente -- falava o que pensava sobre o assunto sem medo de tomar na cabeça, defendendo a igualdade dos homossexuais, sem se esquecer das lésbicas. Tomei uma bandeira que, ao menos na aparência, não era minha. Não tinha pudor de dizer que ia na Parada Gay (mesmo que não fosse XD) só para causar polêmica. Obviamente que, nascido numa família tradicional e religiosa, comecei a repudiar a ideologia que me foi incutida. Acabei por romper com a minha antiga turma de colegial (na qual já tinha rolado um monte de troca-troca mas eles não eram capazes de não serem hipócritas e repudiar a quem era, no fundo, eles próprios), entrando num isolacionismo que só fui curar na faculdade -- e ainda não de todo. Na faculdade, também não "cheguei chegando", mas continuei com minha postura de, talvez, zigoto de ativista político. Ao final do segundo semestre, acreditei já ter segurança e estabilidade suficiente em minhas relações sociais para fazer a confidência a alguns amigos. Ao ser questionado diretamente por uma amiga num grupo de estudos, respondi "sim, sou gay", e ninguém definitivamente esperava por essa resposta. Para minha surpresa, contudo, eles ficaram fascinados: tal qual criança pequena quando ganha um brinquedo novo e diferente. Perguntavam-me tudo o que queriam saber, e eu respondia despudoradamente. Na época, só tinha me assumido para um superamigo de cinema, que era tão louco como eu que só poderia encarar isso numa boa -- aliás, ele constantemente dizia que às vezes achava que tinha nascido com a sexualidade errada. Dada a boa receptividade da notícia, o que era uma confidência entre amigos acabou por se espalhar -- tanto por minha parte quanto por deles próprios. Acho que a essa altura do campeonato todo mundo na faculdade sabe de mim, e a atitude não mudou nem um pouco: continuam, tanto amigOs quanto amigAs, a me tratar como um brinquedo novo e fascinante. Apenas sofro algumas provocações e brincadeirinhas de mal gosto de certo grupo de homofóbicos que não posso chamar de meus amigos, -- e nunca o foram --, mas nada de mais.

Alex Nox disse...

A vantagem é tudo isso ser feito às claras e na minha frente, e nesse caso acabo por me divertir com a ignorância alheia. De fato, não passam de pós-aborrescentes mimados, e isso é opinião quase geral. Só quando o negócio começa a ficar muito sério, basta me impor como o macho que sou -- afinal, como digo freqüentemente, ainda tenho um pinto -- e tudo volta à normalidade. Claro que sou humano e já tive vergonha um dia, mas acabei por perceber que sou o que sou e nem gostaria de ser outra coisa -- como disse, sou do contra -- e, na verdade, não devo nada a ninguém -- excetuando meus pais, que ainda precisam achar que foi uma "fase" que "passou" (sim, eles chegaram a me pegar com a mão na massa, mas é longa história) e até ser independente financeiramente, não posso ser verdadeiro, ou a minha vida voltará ao inferno que já foi um dia. De fato, acabo por me preocupar mais com estranhos do que as pessoas que eu conheço ao menos socialmente, aquelas que sei que poderiam levar numa boa -- o que geralmente ocorre. Apenas me preocupo um pouco mais com os estranhos, porque na verdade nenhum deles paga as minhas contas -- por enquanto são meus pais, e até eu pagar minhas contas com meu próprio dimdim, preciso deles, e preciso deles também para chegar lá. Mas se eu precisar mandá-los tomar no cu para poder viver a minha vida, não hesitaria em fazê-lo. Podem até me chamar de insensível, mas sim, eu vou sentir falta deles, mas se é a condição para ser eu mesmo, não hesitarei nem por um segundo, e como sou cabeça dura, vai ser mais fácil de agüentar. Na verdade, acho que até perdi a minha vergonha a partir do momento que meus pais me flagraram -- era o empurrão que eu precisava para lidar melhor com isso. Nesse sentido, foi talvez a melhor coisa que tenha acontecido na minha vida. Pude chegar praticamente pronto à minha terapeuta, e talvez apenas precisando de umas aparadinhas aqui e ali. Todavia, não nego que falar isso com um psicólogo ajude muito e eu recomendo -- para o meu lado gay, ela é a mãe que a minha não pode ser, ladeado à mãe da minha melhor amiga, mas nesse caso o vínculo é mais emocional que profissional. Você disse que "Freud explica, mas não soluciona", e por enquanto não soluciona mesmo! Mas quando você procurar ajuda para lidar melhor com a sua vergonha, você vai perceber que o problema foi resolvido, e talvez até precise refletir para descobrir quando, onde e como. Só espero que você não precise de um baque como o meu rs

Leandro RJ disse...

BROTHER...LENDO SEU POST SÓ CHEGO A UMA CONCLUSÃO...
ME DESCULPEM OS QUE SAÍRAM DO ARMÁRIO...MAS NÓS SOMOS NOSSO PRÓPRIO PRECONCEITO!TEMOS VERGONHA SIM!
E EU PRETENDO VIVER ASSIM PRA SEMPRE!NÃO PELO QUE "OS OUTROS" VÃO PENSAR...MAS PELO QUE "EU" MESMO VOU PENSAR DE MIM...
E POR MAIS QUE DIGAM O CONTRÁRIO É E SERÁ HORRÍVEL "SER COMPARADO" AO CARA QUE É "VIADO CHUPA PAU E DÁ O CÚ" SEJA NA SUA FAMÍLIA (QUE ACABA SENDO "OBRIGADA" A TE ACEITAR) SEJA PELOS SEUS AMIGOS E/OU PIOR NÃO SEI... PELAS SUAS EX NAMORADAS ! FICO IMAGINANDO AS SITUAÇÕES... SERIAM TOTALMENTE CONSTRANGEDORAS...IGUAL QDO ÉRAMOS CRIANÇAS E FICÁVAMOS ZUANDO O "AMIGUINHO DA ESCOLA QUE ERA VIADINHO" PELO MENOS PRA MIM! PREFIRO VIVER ASSIM DO JEITO QUE SOU...ATÉ PQ DE VERDADE CURTO HOMENS E MULHERES ! É ISSO !!
ABRAÇO RAGAZZO

Alex Nox disse...

bom cada leva a vida que quer XD
E não sei quanto aos outros, mas ao menos por mim não vejo -- racionalmente -- a RAZÃO de se importar de ser "comparado" ao "viado chupa pau e dá o cu" se é exatamente o que você É! "viado" não é nada menos do que uma palavra feia pra "gay" ou "homossexual". Para que se importar se é a pura verdade? Você definitivamente não se importa se te chamarem de "homem" ou "macho"... OK a comparação não foi boa... Você definitivamente não se importam se falam que você tem olho azul ou verde, desde que ao menos você REALMENTE tenha olho azul ou verde... Portanto, sim, sou gay, bicha, viado, boiola, pederasta (uma palavra que o pessoal da minha facul achou no dicionário e está adorando exercitar), podem falar à vontade porque sou e bato no peito! Sim, eu gosto de chupar pau e dar o cu, é a pura verdade e não tem nem porque se importar com isso. É talvez também porque eu não vejo sentido se sentir ofendido se te chamam "preto", "negro" ou "branquelo" se vc realmente o é! Agora, uma coisa que O-DEI-O é ser chamado no feminino. Ainda tenho um pinto, então não me chame de queridA, nem amigA, nem nada. Aliás, a minha melhor amiga é minha ex (sinal que demos mais certo como amigos do q como amásios)!!!
Agora, tudo isso, reitero, é o que passa pela MINHA cabeça. Se você se sente ofendido ao ser comparado com o "viado chupa pau e dá o cu", para mim parece um paradoxo, mas tem todo o direito. Mas acho ainda mais um motivo para você iniciar uma terapia -- é sinal que você só se aceita da boca pra fora, racionalmente.

Chris disse...

Alguém já ouviu uma mulher falando: "Ai que desperdício! Não acredito!", se referindo àquele cara bonitão que ela acabou de saber que curte caras? Sei que aconteceria comigo e sinto vergonha só de imaginar. Além deste fato, tem também minha imagem criada e admirada pela família e amigos: Bonito, educado, divertido, PEGADOR e MACHO! Penso que lidar com a decepção ao saberem que também gosto de homem seria muito sofrível, muito vergonhoso justamente porque EU MESMO já fui (e as vezes sou) homofóbico junto com eles. Ou seja, se parar pra pensar, acho que tenho mais vergonha dessa MENTIRA que eu faço do que pelo fato deles vierem a saber que curto caras.

O que mais me incomoda é que nunca fui autêncico neste sentido e eles terão todo o direito de ter mágoas ao se lembrarem de todos os momentos que menti/omiti.

Mesmo assim, sei que em médio ou talvez a longo prazo, eu mesmo vou falar pra eles: Hoje vou sair com um cara, simplesmente porque estou com vontade. Isso e apenas isso. Não me encham o saco e daqui pra frente não importa se saio com mulheres, com homens ou com ambos, afinal, quem vai dormir comido não é(são) você(s). Se não gostou, sinto muito.

Tenho certeza que isso vai acontecer e mais certeza ainda que minha POSTURA vai impor-lhes isso como uma simples vontade - e veradade, nada mais. Se não entenderem, como já falei, sinto muito.

Ragazzo,
Como você pediu, criei um ID. Não tinha feito antes porque achava que tinha que criar conta ou algo do tipo. Ainda não tinha visto a opção "OpenID".

Abraços a todos.

T Jok disse...

Alex, o seu ultimo post foi para mim? estou meio perdido nesse chat hahaha

Luciano disse...

Em primeiro lugar, saber que vocês tinham posturas homofóbicas no passado, só aumenta mais a minha teoria de que todo homofóbico é um gay enrrustido. Quanto à postagem, digo que nunca tive problemas em me assumir pra ninguém pra quem eu me assumi até hoje. O meu armário começou a ser aberto durante a época da universidade, uma época em que já estamos amadurecendo e mais seguros para expressarmos quem somos de verdade. Meus amigos continuaram meus amigos e me respeitando. Inclusive em relação ao meu amigo hétero, por quem eu era super apaixonado, eu, ao mesmo tempo que me revelei, disse que gostava dele. À princípio, ele disse que não era a praia dele, mas com o passar do tempo, desenvolvemos uma relação de amor, mas não como namorados, pois ele, como qualquer "hétero" confuso, não sabia lidar com esse sentimento. Apesar de ter ouvido da boca dele que também estava gostando de mim, era complicado pra ele lidar com isso tudo. Enfim, não me arrependo e nunca me arrependi até agora de ser eu mesmo pras pessoas que me cercam. Acho que sair do armário, por mais difícil que seja, é um passo na quebra de todos esses pré-conceitos que as pessoas têm em relação a gente. Elas precisam enxergar que ser gay não é nada de outro mundo e nem sempre sinônimo de afetação e que estamos em todos os lugares e próximos delas. Não há porque uma relação saudável tenha que ser drasticamente afetada por causa de um detalhe que não deveria fazer a menor diferença.

RP disse...

Demorei pra comentar seu post porque resolvi pensar mais a fundo nele.
Começo já pedindo desculpas pois durante todo o tempo que eu li suas palavras e alguns comentários eu só consegui sentir pena.
Pena de ver essa briga que você trava diariamente consigo mesmo quando pensa na sua sexualidade. Principalmente por perceber que essa é uma parte bem grande de você. E se essa parte de você é uma "fraqueza" (a sua visão), de fato você deve se sentir (la no fundo) por completo fraco.

Pena de ver alguém dizer aqui que "VIADO CHUPA PAU E DÁ O CÚ" é algo ofensivo.
Imagina como essa pessoa se sente quando faz uma coisa ou outra??? Se é que consegue fazer.
Não consegue deixar de ficar com homem, mas não consegue se sentir bem com isso. Triste!

Mas me sinto no direito de sentir pena porque essa é uma realidade de todos nós. Eu também já vivi isso, já pensei isso, já senti isso... e sei o quanto é penoso, triste, angustiante.

Eu não pretendia contar aos meus pais. Eu pensava que eu só poderia viver minha sexualidade em paz quando eles morressem, e acabei me vendo desejando a morte deles.
Eles descobriram... foi horrivel. Ouvi tudo que você pode imaginar, houve agressão fisica, meu pai tentou prejudicar meu trabalho pra eu me tornar dependente e controlado por ele, quiseram me mandar pra fora do país, me internar, cortaram todas as regalias que eles - mesmo eu morando sozinho - me proporcionavam, tiraram o carro que me deram aos 18 anos, tomaram o apartamento que eu morava... enfim.

Pior que foi num momento em que EU MESMO não me aceitava Como fazê-los aceitar? Respeitar?

Tanta coisa mudou na minha relação com meus pais, meu grupo de amigos, minha postura no trabalho... minha vida. Hoje minha sexualidade é algo tããããããão secundario nessas relações todas e o motivo é um só: A MINHA POSTURA EM RELAÇÃO A ELA, a forma como EU vejo minha sexualidade e como EU deixei de sentir essa vergonha.
Quem ganhou com isso fui EU, somente.
Não foi fácil, nem rápido. Por isso entendo você.

O interessante é que com os amigos a coisa foi diferente. Antes mesmo de eu me aceitar por completo EU fui excluindo da minha vida aqueles que eu achava que seriam incapazes de respeitar minha sexualidade, simplesmente porque ELES NAO SERVIAM PRA MIM. E fui me aproximando mais daqueles que mesmo com certa dificuldades, eu sentia que gostavam de mim o suficiente pra entender, e daqueles que "gostar de homem" não seria um problema. Quando contei pra eles, a relação só melhorou.

Também me abri para conhecer pessoas novas, homens de verdade, que levavam o mesmo estilo de vida que eu e percebi que meus conceitos sobre homossexualidade estavam bem errados.

Enfim, não tenho um conselho pra dar, não quero dizer faça isso ou aquilo pois cada um tem seu momento e estilo de vida. Mas quero testemunhar, por ter vivido, que essa vergonha que você descreve só tras sofrimento, principalmente pra quem a sente.

Caco disse...

Vixe, o trem aki tá rendendo, rsrs.
Depois eu venho comentar também.
Beijos.

O Gato de Cheshire disse...

Oi.. O RP me mandou o seu link pra dar uma olhada na postagem,. ainda n conhecia seu blog.. Gostei bastante...
Bem.. Acho a vergonha muito natural, eu mesmo morri de vergonha em falar para alguns amigos, alguns até gays.. Não por ter vergonha da homossexualidade, mas vergonha de não ter contado até então, do tanto de mentira q havia inventado, de falsas opiniões e historias com o intuito de desviar a atenção das pessoas...
Por outro lado, mais de uma vez eu disse em comentários em blogs por ai que de perto o diabo não é tão feio assim... Penso que uma coisa é a forma que vc imagina o que é ter sua sexualidade assumida, outra coisa é ter de fato... Claro que existe preconceito e todas essas coisas, mas talvez seja menos pior do que aparenta. Acho que foi no blog do RP mesmo que uma vez comentei que depois q me assumi tive a sensação de ouvir menos besteiras, as pessoas tem mais dedos, mais reservas... Respeito é algo que se impõe, não tenho medo dele, olho no olho dele... Em geral o preconceito é covarde, é aquela voz que grita o “viado” no meio da multidão, ou a voz que completa o coro... O preconceito quer agir qdo vc tah frágil, qdo pode te diminuir e consequentemente colocar quem o exercita numa posição superior.
Enfim, voltando ao assunto... Anjo, n sinta vergonha de sentir vergonha... A culpa não é sua.. Nem de quem aponta.... Somos todos vítimas da ignorância. O desafio não é fácil mesmo, é mais do que vencer o outro, é vencer um monte de fantasmas... Não é mole, não...

Anônimo disse...

ragazzo... é assim mesmo, não force uma coisa que você mesmo sabe que não está na hora de enfrentar... Vários já passaram por isso e outros estão passando pela mesma situação.

Um dia você vai ver, dará risada de toda essa insegurança... tudo tem seu tempo!

T Jok disse...

Gente, não sei se entendi errado ou vcs entenderam errado. Não quis dizer que, eu recrimino ou tenha medo de ser chamado de "chupa pau e dá cú". Até porque, isso é uma coisa que por ventura sou/serei, apenas falei de um modo geral e que geralmente são conjunto de rótulos de pessoas um pouco ignorantes ou até mesmo por essa ser uma das imagens impostas à pessoas da realidade homo.

RP disse...

T Jok, o que seria do mundo e dos debates se todos concordassem não é?
Premita-me ir numa direção contraria ao seu coment....

"São conjunto de rótulos" sim T Jok, mas não de "pessoas um pouco ignorantes", pois esta não é uma "uma das imagens IMPOSTAS à pessoas da realidade homo"... "Chupa pau e dá o cú" É UMA REALIDADE, não imposta e não pejorativa, ao menos não deveria ser.

RP disse...

Ahh, isso me lembra um post que escrevi... passa lá: http://primodointerior.blogspot.com/2009/05/ativo-x-passivo.html

Un ragazzo disse...

Caracas, o pessoal resolveu discutir pra valer. Isso aqui ta bombando! Tá dando gosto de ver!

Pessoal, em geral respondo um por um, mas como estou meio apurado de tempo, vou fazer uma resposta geral e sinto muito se deixar alguns comentários sem réplica. Todos os comments estão muito interessantes, mas tenho um jantar daqui a pouco e Ragazzo com fome fica mal humorado... ehhe

Achei interessante que muitas pessoas aqui contaram um pouco do percurso de “assumir-se”. Fiquei feliz com isso, pois quando terminei o post, senti que havia exposto algo bastante íntimo e que não me orgulho e, ao ler os comentários, vi que a exposição foi recíproca.

(continua...)

Un ragazzo disse...

Muitos comentaram que terapia poderia ajudar. Faz alguns meses (mais ou menos com o início do blog) que comecei a freqüentar uma psicanalista. Prefiro a psicanálise à terapia comportamental, pois creio ir mais fundo nos problemas, não se restringindo aos sintomas. Tem sido bom e muito de minha exposição aqui no blog só se tornou possível por conta dela. Afinal, sou uma pessoa por demais reservada. Odeio tornar minha vida pública. Aqui, no entanto, tenho agido de forma distinta e gostando muito dos resultados.

O T Jok comentou algo interessante, ao dizer que somos uma péssima espécie de homofóbicos (no caso eu ele, não querendo generalizar). Concordo, pois somos aqueles que discursam contra a homofobia, que racionalmente são contra a homofobia, mas que temos ações inconscientes homofóbicas. Isso mostra o quão fundo isso está na gente. O problema é que a contradição entre razão e prática pode causar danos sérios em nossas vidas.

Penso que outra manifestação do sentimento de vergonha que indiquei no post é querer mostrar que podemos ser melhores em tudo para “compensar” curtir caras. Vejam bem: não queremos ser iguais, mas ser melhores, de modo que possamos ser tão admirados pelas outras qualidades, que a sexualidade (vulgo defeito) fique em segundo plano, apagada. (antes que me bombardeiem com críticas, friso que usei um jogo de palavras propositalmente passional para exemplificar um ponto de vista..ehhe)

(continua...)

Un ragazzo disse...

Em relação a se assumir para algumas pessoas, creio que meu maior problema seria assumir para os amigos homens. Tenho receio de haver perda da naturalidade na amizade. Algo como, “te aceito” racionalmente, mas na prática “evitarei ficar a sós com você, pois pode dar o que falar”. Apesar de ser uma barreira, estou aos poucos passando por cima desse pensamento tb.

Alex, que texto, hein? Mais longo que o post... hehe Ficou com LER, não? Hehe Brincadeira à parte, admiro sua segurança e auto-suficiência. Não conseguiria lidar com isso do mesmo modo que você. Primeiro que sou um cara muito esquentado. Das duas uma, ou enfrento ou então guardo para mim, com conseqüências graves a longo prazo.

Chris (melhor chamá-lo assim do que de Anônimo, né? Hehe), as preocupações que coloca em seu comment se encaixam como uma luva com o que passo. Como vc bem disse, não é só ter vergonha do que se é, mas a vergonha da mentira que levamos por tanto tempo conosco tb é muito forte. E realmente, escutar “Ai que desperdício” é foda. Vou começar a dizer isso dos caras héteros q eu curtir... hehe Pagar na mesma moeda...kkk

Leandro, concordo que somos nosso preconceito, mas discordo em manter as coisas do jeito que são. Essas comparações que indica só são feitas porque não mostramos o quão irrelevantes elas são. E nos escondendo, tenho a impressão que apenas as corroboramos. Afinal, ao nos escondermos explicitamos, de uma forma ou de outra, que o preconceito que tanto criticamos tb é por nós exercido.

Luciano, não concordo com a generalização de que todo homofóbico seja um gay enrustido (há muito de criação nisso tb), mas creio, sim, que muitos caras que curtem caras usam da homofobia explícita como armadura, como desvio de atenção. Em relação a esse “detalhe” que cita, creio que é detalhe para alguns, mas para outros não. Para mim mesmo, se pensar bem, não é tão detalhe assim, pois afeta e muito a minha vida. Racionalmente, é um detalhe; passionalmente, é um Everest... ehhe

RP, eita moço radical... ehhe Não creio que trave essa guerra todo dia, ou talvez já se tornou tão de meu cotidiano, que não me causa mais tanto desgaste. Em relação ao que diz sobre “fraqueza”. Nunca achei que isso determinasse minha vida de modo que me sentisse, como vc disse, um “completo fraco”. Pelo contrário, sempre que estivesse sendo difícil lidar com isso em algum momento de minha vida, eu tirava força de onde eu sabia ser forte, algo como “se tenho dificuldade escutando, vou procurar aprender lendo”.

Pessoal, o T Jok já está aqui há um bom tempo e já percebo um pouco o modo como raciocina. Sei que ele usou a expressão como figura de estilo, um modo de passionalizar o discurso por meio de uma expressão para fortalecê-lo, para expressar um extremo dos rótulos. De modo algum, creio que ele quis usar isso de maneira ofensiva na discussão, até pq ele mesmo já deve ter aprontado das dele... kkkkk

Assim, bandeira branca para todos e bola pra frente, que a discussão ta muito boa... hehe

Abraços

Chris disse...

Caras a discussão realmente está muito boa. Reli tudo novamente, pra mim já é uma terapia.

Sobre o assunto comentado, me sinto de certa forma um covarde diante de alguns aqui tão fortes e autênticos, aparentemente. Mesmo assim tentarei sempre contribuir com algo na "casa" do Ragazzo. Sem medo, sem máscaras, sem receio - e só por isso já me sinto muito bem.

Ragazzo, eu tenho pensado cada vez mais no "que desperdício". rsrsrs

Ah, ao ler os coments novamente (incluindo o meu), vi que sem querer troquei uma letra de uma palavra e o sentido da frase não ficou muito bom - ao invés de "...vai dormir comiDo...." o correto seria "...vai dormir comiGo..." ahuahauahuahauhauaha

Abs

vitor disse...

tá bão esse trem aqui, hein!

e na real eu mesmo tentei postar logo no início do debate, mas não consegui, creio que por inabilidade internética

creio que não há muito de relevante por adicionar dessa vez

mas fica um palpite: acompanho o blog faz 1 mês e pelo que pude aprender sobre nosso autor, não demora muito - o armário talvez possa ser mais acessível ao público geral e, mesmo, dispor de algumas gavetas para alguns escolhidos

sigo acompanhando...

Anônimo disse...

Parabéns Ragazzo, pelo conteúdo e pela repercussão. Além de si próprio está ajudando muita gente.

Engraçado que da minha parte vejo todo esse debate com um certo distanciamento. Como se observasse um debate de médicos, não sendo médico. Um encontro de engenheiros, não sendo engenheiro. Em situações assim sempre temos aquela sensação de grupo do qual não fazemos parte. Eles são "eles", os diferentes. Podemos observar, mas nunca entenderemos o que eles estão dizendo. E lendo o seu post e os comentários, vejo esse debate de forma semelhante: "Olha que interessante. As dificuldades que os homossexuais tem em se assumir, em sair do armário. Então é assim que eles pensam". Sim, porque de um blog de um bissexual, na prática tornou-se um blog de um homossexual e suas dúvidas e angústias em se assumir como tal para si próprio e para a sociedade. Sei que não gosta de rótulos e prefere pensar que "não é, e sim que está sempre sendo". No entanto é assim que eu vejo as coisas.

Por outro lado, também observo tudo com uma certa apreensão: "Será que eu deveria estar lá? Será que na verdade sou gay, mas ainda estou em uma fase muito anterior de aceitação do que eles?" E quando pensei nisso, me imaginei dizendo para a família e amigos que eu era gay. Nossa!!! terrível!! É muita vergonha mesmo!!!

Mas calma lá! Devagar com o andor que o santo é de barro. Estou querendo adiantar muito as coisas. Já tendo vergonha com a possibilidade de ser gay e nem sei se realmente sou. Antes de lidar com o armário, preciso saber se estou dentro de um. E engraçado que também me imaginei assumindo para a família e amigos que sou bissexual e nisso não tive vergonha. Vejo com naturalidade dizer pra eles: "É verdade, curto homens também". Huummm, por que será? Será que é porque tenho o conceito arraigado dentro de mim que ser bissexual preserva o meu lado macho enquanto ser gay é ser mulherzinha? Será apenas mais uma defesa? Ou será simplesmente por que também sinto muito tesão transando com mulheres e isso não vai mudar? E acontecimentos recentes parecem comprovar que sou bi de fato. Que droga! Como disse antes, seria muito mais fácil se a balança pendesse claramente para um lado qualquer. Enfim, mais um item na listinha de coisas mal explicadas na minha vida que precisam ser esclarecidas.

Boleyn disse...

Tenho 16 anos. Nunca fui de gostar de rosa, curtir Britney Spears, andar em boate gay... Enfim, ser afeminado. Não sou afeminado fisicamente de jeito nenhum.

Na minha infância, até a quarta série, mais ou menos, tive amizade com meninos, mais do que com meninas, mas nunca gostei muito de futebol. Na época, não me ocasionou nenhum problema.

Daí pra frente, quando me afastei dos meus antigos colegas e fui para uma escola maior, descobri que não gostar de futebol era bem série, principalmente se você, como eu, era bom aluno. Aí sim, fodeu.

Com o passar o tempo, percebendo que não tinha nada em comum com os meninos da minha sala, fiquei mais amigo das meninas - mas, repito, para elas, sempre fui heterossexual. Os outros meninos excluíam, tiravam brincadeira e etc., mas isso não era constante e durou poucas séries.

Hoje em dia estou no segundo ano. Minha turma é bem mais legal e tenho amigos e amigas - embora tenha uma amiga mais próximas e continue gostando mais das mulheres.

Com essa história, só quis mostrar que a) eu soube que era gay mais ou menos na época que entrei na quinta série e b) eu tentei me convencer de que era bissexual, mas aí pelo primeiro ano, resolvi me aceitar como gay.

Houve uma época em que eu tinha umas súbitas depressões, vontade de chorar e ficava pensando que não queria ser e etc. Mas isso passou. Eu consegui resolver as minhas próprias crises existenciais apenas refletindo.

Hoje em dia, algumas amigas muito próximas sabem de mim e levam numa boa. Já cogitei contar para um amigo que considero bastante, mas não confio tanto nos homens como mente aberta e tenho certeza que ele não levaria tão bem, então prefiro não falar.

Sobre o post: acho que a questão da vergonha... É complicado. Eu não tenho vergonha de ser gay. Confesso que eu gostaria de ser heterossexual PORQUE É MAIS FÁCIL, mas, sendo gay, eu não consigo deixar de pensar que eu gosto muito de homem (rs). Embora minha família não saiba, o que me falta é coragem de falar para a minha mãe, por exemplo, que é a única pessoa a quem realmente interessa saber disso, porque tenho algum medo da reação dela, mas sei que não vai ser positiva. Acho que, no fundo, ela sabe, mas não quero que ela me veja como gay ainda. Não quero que ela veja minha homossexualidade como algum tipo de empecilho na minha vida e ache que eu não possa conseguir as coisas que eu sonho. Quero ser bem-sucedido na minha vida para que ela veja como eu posso ser forte de qualquer maneira e para que ela não sofra achando que eu possa ser lesado pela minha orientação sexual. É mais ou menos isso.

Como sempre que comento nos seus posts, escrevi demais. Acho que o primeiro passo para assumir aos seus amigos SE VOCÊ QUISER que é homossexual é não dizer que é hétero. Se você não quer ficar com mulheres, não fique. Um hétero não precisa dizer para todo mundo que é hétero, então um gay também não precisa. Apenas viva e, se achar que vai proteger seus amigos mais próximos de descobrirem por outras pessoas, conte a eles, mas você não precisa avisar para todo mundo.

Outra coisa: sempre me perguntei se um daqueles meninos que diziam que eu era gay só porque andava com meninas não era gay também. Acho muita hipocrisia esse tipo de coisa. Se você é gay e não quer que os outros saibam, não precisa reafirmar sua pseudo-heterossexualidade falando de outros gays. Mesmo nas rodas mais conservadoras que eu participo, defendo veementemente os direitos dos gays e, quando vejo que é impossível, apenas me limito a não dar opinião ou ser pouco caloroso. NUNCA CRITICO. Nem mesmo afeminados. Acho uma falta de vergonha haver gays que se consideram muito machões e falam de afeminados como se eles fossem anormais.

Humpf. Sempre me empolgo.

Hugo disse...

Acho que no fundo a questão de se assumir se contrapõe com a importância que damos a opnião de terceiros. Eu não me importo muito, mas mesmo assim não vejo necessidade de contar e talvez nunca conte.

Queria só abrir um parentese sobre a conversa anterior.
Primeiro é que a teoria que descrevi é atualmente a mais aceita no meio acadêmico. E há provas empiricas que a sustenta. Se quiserem se aprofundar no assunto é só buscar livros de antropologia evolutiva. Entretanto não podemos negar que mtas populações adaptaram essa fórmula, prova disso é q existem mtas comunidades poligamicas no mundo (teoria do regazzo), porém não são maioria. E parte do princípio do estudo da evolução buscar as sinapomorfias de cada espécie, ou seja as características comuns mais frequentes, no caso o sentimento afetivo por um único indivíduo q pode durar mtos anos. Até a medicina atual explica parte disso, desvendando a química cerebral que nos faz continuar amando uma pessoa por anos a fio.
Segundo. Os conceitos do neodawinismo são os mesmos do darwinismo original, com a adição das explicações sobre as origens da variedade numa população, que darwin não chegou a estudar. Ou seja todas as teorias que apresentamos se enquadram em ambas linhas de pensamento evolutivo. Visto que não abordamos a origem dessas variações.
Só a título de informação p quem perguntou antes. Eu tenho um blog sim, mas não poderia divulgar aqui sem me comprometer.
dps comento melhor o post novo
abraços

Uomo disse...

Caraca... Realmente isso aqui tá bombando vlho... puts!!! Ragazzo não sei se vc esperava a repercurssão, mas parabéns.
Não podia deixar de postar... nunca fico sem e dessa vez seria impossível. Vou ficar com duas colocações que foram postas aqui: "amigos sempre xingando de viado o cara mais fracote, o cara mais frágil, o cara mais sensível", curioso que entre os meus 13 aos 17 anos eu era o cara mais fracote, o cara mais fragil e o mais sensível e o que era chamado de viado e bichinha na escola. Foi uma fase tão barra pesada que não gosto muito de lembrar e com certeza me deixou marcas muito profundas.
A outra colocação foi "Se é "biba" rebola, desmunheca, chupa pau e dá o cú". Entendi perfeitamente a figura de linguagem utilizada por T Jok e concordo com ele. Quem, quer sair do armário e ser rotulado como alguém que chupa pau e dá o cu?! Por mais que isso seja fato, afinal faz parte. Contudo, uma coisa é a nossa verdade e a forma como a vemos, outra coisa é essa verdade na cabeça das pessoas onde os conceitos são totalmente deturpados e pejorativos.
Vergonha!!! somos tão bombardeados por conceitos homofobicos, por estigmas, esteriotipos, que fica dificil não se sentir numa corda bamba onde de um lado existe a necessidade de ser e do outro a impossibilidade de ser.
Acredito muito em momento certo pra tudo e em maturidade emocional. Pra que possamos nos aceitar, não nos sentirmos envergonhados se alguem por acaso nos rotula como alguem que dá o cú e chupa pau é necessario maturidade emocional e só o tempo vai fazer com que possamos conseguir tal bagagem.
Está no armario é asfixiante dentro e nauseante fora...

Anônimo disse...

Lembrei agora que eu vendi um notebook para um completo desconhecido, para uma loja de informática que vende usados. Nunca tinha entrado nessa loja na minha vida e provavelmente nunca mais entrarei. Mesmo assim, morri de vergonha quando lembrei que tinha esquecido de apagar o favoritos do navegador de internet. E nos favoritos tinha um site com links para vídeos gay. É bobagem, mas mesmo assim fico imaginando o cara vendo o favoritos, abrindo o site e pensando: "Olha, o cara que me vendeu o notebook é gay!". Admiro quem lida bem com isso, mas eu tenho vergonha. No meu comentário anterior eu tinha dito que não via problema em dizer aos familiares e amigos que era bissexual. Mentira! Estava me enganando. Tenho vergonha também. Apenas um pouco menos do que ser gay.

Vou parar por aqui antes que eu me enrole ainda mais...

Un ragazzo disse...

Ae Chris, sempre digo que, para mim, a razão desse blog é o lance de ser um "divã coletivo", onde todo mundo contribui um pouco para o entendimento de todos.
Por isso prezo tanto as discussões.

E quanto ao "dormir comiDo", não terá sido um 'ato falho'? kkkkk

Ae Vitor, gostei da metáfora, que faz muito mais sentido do que talvez imagines. Mérito para mim é uma palavra-chave. E tem gavetas que dentro de seu armário só podem ser conseguidas por meio dele. Agora, até hoje ninguém conseguiu abrir todas essas gavetas. Nem eu... hehe

Ae Liberal, olha como dá medo de nos olharmos e vermos algo de que não gostamos. Uma primeira saída (em geral, mais fácil) é o distanciamento. Mas que lance louco é em um momento de reflexão perceber coisas que a gente desconhecia. Ainda que assuste, é o que movimenta nosso auto-conhecimento. Curti ver esse movimento seu. Sei tb que não deve ter sido fácil expor isso aqui como fez.

Boleyn, empolgação aqui é sempre bem-vinda! (cada um tem o seu dia. Ontem foi o do Alex e meu, em seguida, que tivemos que dividir os posts para o blogger aceitar a publicação... hauahu)

Hugo, mas aí que está o ponto que fica nebuloso. Se não importa a opiniào de terceiros, porque frisar que nunca contará? Qual é o impedimento? Afinal, esconder muitas vezes dá bem mais trabalho.

Ah, sim, espero um dia trombar com seu blog pela net, ainda que eu nunca venha a saber que o escritor é o mesmo Hugo que comenta aqui... hehe

Wagner, traduziu bem: "asfixiante dentro e nauseante fora", mas é algo que tem mudado. Penso que em algumas (não muitas) décadas as pessoas vão olhar com estranheza o preconceito do passado, assim como hoje não concebemos que regras sociais do passado, como a mulher não ser considerada cidadã, possam ter validade.

Abraços

T Jok disse...

Bom, vou começar. Desculpem-me caso ,neste comment, assassine o portugûes, pois não é minha lingua nativa, estou um pouco "euforico" com esse chat bombante e talvez será um comment que irá me expor.

Ragazzo, tenho quase certeza que já sabes como raciocino. Usei sim uma figura de linguagem, tambem nao hesitei em escrever a frase do jeito em que pensam e não quis usar a mesma ofensivamente. Essa é a nossa realidade: "somos viados, chupa-paus e dá cu". (estou generalizando, desculpem-me caso algum de vcs não entram no perfil.)
Sabemos que somos isso no fundo sei que não deveria dar atenção mas dou (SIM DOU hahaha). Imagine-se no local de trabalho, vc pode ser um puta engenheiro,puta medico,puta qualquer coisa, mas você será lembrado/reconhecido com o "dá-cú". As pessoas podem nao falar mas vão pensar ou até mesmo falar às suas costas. E creio que isso não seja uma coisa legal. Ah outra coisa, pensamentos em vozes de terceiros têm vida, ou seja, eles sempre crescem e em proporções gigantescas.

Sair do armário? não saí completamente e não sinto muita necessidade de sair. Venho de um pais onde até o casamento,beneficios trabalhistas e outras coisas são direitos legais de gays. Mas essas coisas não são da epoca dos meus pais. Até acho que meu pai reagiria bem se contasse, mas nao vejo tal necessidade.
Mas sinto necessidade para contar aqueles que digo que são amigos verdadeiros, pelo simples fato que a relação torna-se um tanto mentirosa, uma vez que vc conversa apenas do seu lado hetero (no caso dos Bi's) ou então assume uma personalidade "armariada" aos homos.
Abri o armário para o meu melhor amigo pq estava apaixonado. E aquele sentimento, era tao gigante em mim que já não me fazia bem e tive a necessidade de contar como nao queria ser uma mentira ao nosso relacionamento. A principio ele nao reagiu tão bem bem, pois a forma que contei foi meio que "vomitada ou explosiva".
Numa festa estava triste e isolado de todos e entao ele veio até a mim e perguntou:
- o que houve?
e minhas palavras foram:
- Isso é o que eu fiz comigo mesmo. dexei-me ser levado por um sentimento que nunca será correspondido e agora estou caído por vc"
e entao fui embora da festa.

Veja como rótulos funcionam: durante meus anos de escola fui chamado de gringo, o rapaz do pais do casamento gay...
E amigos sempre me chamaram de gay. (será que caso saia do armario um dia eles iram me chamar de hetero?:P)

Nunca critiquei ou fiz qualquer comentário sobre gays em grupos que faziam as piadinhas. Por incrivel que pareça, de certo modo, sempre argumentava a favor mas claro, com aquela dose de sublimação. Em conversas com meus pais, sempre defendi os direitos gays e coisas que o governo fez à favor. Mas claro, também sempre fiz questão de ressaltar aquela gostosa que levei pra passar a noite em casa.

Ahh ja escrevi tanto que me perdi e fiquei com sono..depois continuo, se lembrar de alguma coisa a mais.

Replicando ao comment de alguem, Ragazzo diz-se Bi, Certo. Até onde sei os Bi's da casa apenas têm a necessidade de debater sobre o lado homo, pois o hetero é mole.

T Jok disse...

Ah..acho que achei a definição certa para Bi's no armario.
Ser bissexual é transformar-se em uma pessoa de dupla personalidade.
HAHA
abraço a todos

Felipe disse...

Bom, sou novo nos comentarios, ja li varios posts, mas nunca tive vontade de falar alguma coisa... Mas nesse mexeu lá dentro e eu tenho que falar por mim... Sempre curti os dois(h/m) mas tive por anos preconceito comigo mesmo, hoje em dia aceito melhor a situação, e ja até parti em busca de algo sincero e real, pois com 24 anos nunca tive experiencias com h, NADA. Ja fiz terapia(como muitos q escreveram) mas sumi dela quando as coisas começaram a ficar profundas de mais, hoje em dia vejo que foi um erro, deveria ter seguido adiante... Tenho um nome, uma familia e fortes amigos a zelar, é muito triste e complicado nossa situação, e o que realmente me deixa um pouco mais "conformado" de certa forma, é saber que nesse mundo eu não estou só nessa barca... No momento to tranquilo, percebo olhares na rua, nas festas, e confesso que até ando gostando, esses dias pra não dizer que nunca tive nada nada, em uma festa em um momento de aperto um rapaz que estavamos muito discretamente trocando olhares encostou o peito dele no meu "porque estavam empurrando ele", obvio que senti que foi de proposito, senti o cheiro e minhas pernas tremiam sem parar ahahahahahahah. mas foi legal, e nem meus amigos nem os dele suspeitaram do que tinha acontecido. Sei o que quero pra minha vida, não procuro nada casual, nem superficial de mais, tenho medo de sentir nojo depois de fazer algo, então cumplicidade, confiança e duas pessoas que se curtem é o ideal de uma relação pra mim, pode ser utopia, mas que seja então... Bom nunca falo, mas quando falo, é quase um jornal ahahahahah No orkut se quiser me dizer algo procura: Guri RS Amizade Abraço Ragazzo, Abraço a todos.

Alex Nox disse...

Em primeiro lugar, desculpe ter sumido por tanto tempo. Epoca de provas na facul e' foda (no mau sentido) e para completar meu laptop pifou -- estou usando o antigo, por isso perdoem a falta de acentos e etc. Naum lembro quem me perguntou, que tinha ficado em duvida se eu estava falando com vc ou o Ragazzo; bem, era o Ragazzo mesmo, mas quando eu finalmente consegui postar o meu comentario o seu foi na frente rs (problemas de internet). Quanto ao "desperdicio" -- minhas amigas costumam falar MUITO isso, e naum raras vezes de mim mesmo rs -- eu geralmente respondo "Depende do ponto de vista. Pra mim um HT lindo e' um desperdicio. Melhor os bi's porque nesse caso tem espaco pra todo mundo XD". A proposito, RP, sei EXATAMENTE do que voce esta falando. Nao raras vezes me vejo desejando que os meus pais morressem -- vergonhoso e involuntario, mas ainda assim verdadeiro. Nao tenho duvidas de que quando eu for realmente cair na vida meus pais sao capazes de fazer a mesma coisa para que eu continue debaixo da saia deles (isso sem o agravante de eu ser gay, imagine quando eles souberem que nao foi uma "fase" que "passou" XD). Sim, tambem sofri agressoes fisicas -- minha MAE me deu com a cinta --, me cortavam grana e etc, tambem nao queria que eles descobrissem, muito menos contar. Agora, me prejudicar no trabalho para que eu fosse mais dependente financeiramente, mesmo morando sozinho, e se ainda minha mae limpasse a minha conta bancaria, preenchida com todo o dinheiro que ganhei honestamente e nada que tivesse saido do bolso deles -- eu acho que ela seria capaz disso -- eu entraria com providencias judiciais. Advogado jah eh encrenqueiro por natureza, e eu sou encrenqueiro por natureza ainda que nao fosse advogado, jah viu no que daria! uhauhahua. Ainda bem que eu teria a vantagem de nao precisar pagar nenhuma custa do processo por ser homossexual e o objeto da lide ser esse mesmo -- de acordo com a nova lei. Nao sei se eh estadual ou municipal ou federal (moro em SP) mas eh bom dar uma pesquisada ;)
Boleyn, tambem vi muito de mim em voce. Nunca fui e nao sou afeminado. A partir da quarta/quinta serie, comecei a me descobrir. Tambem naum gosto de futebol -- nem de jogar, nem de torcer -- e na epoca isso naum fez muita diferenca quanto a sexualidade, apesar de eu estar meio peixe fora d'agua. Realmente, na quinta serie fiz mais amizade com meninas do que meninos. Sofria gozacoes e tal naum por algo alegado, mas ao menos com embasamento -- tive relacionamento com varios meninos e eles aparentemente naum sabiam manter discricao. Curiosamente, eu que fiquei com o estigma e naum o pessoal que pedia pra eu pegar/chupar o pau, fosse em publico ou privado. De qualquer modo, mudei de colehgio e lah fiz mais amizade com garotos do que garotas. Era o inverso: estava numa turma de nerds, e naum demorou muio para alguns deles tambem quererem experimentar, jah que as garotas naum davam a minima bola pra eles. A diferenca eh q so pude me assumir definitivamente na faculdade -- no colehgio ainda me sentia inseguro para isso, tanto que, afinal, as historias dos troca-trocas vazaram e aparentemente eu fiquei de bode expiatorio de novo -- nada declarado, mas eu sentia o "clima". De qualquer modo, acabei saindo do armario ao segundo/terceiro colegial para a minha ex-namorada, que na ehpoca jah tinha virado minha melhor amiga. Fui para Londres (intercambio de um mes) e lah pude viver uma realidade a parte, naum hesitando tambem em sair do armario para algumas amigas que fiz lah. Garotos, por enquanto, nada. Acho que foi mais ou menos na mesma ehpoca que meu melhor amigo se assumiu pra mim -- infelizmente mais com o sentido amizade do que mais profundo, mas hoje dou gracas a Deus por isso rs.

Joao Batista Santos. disse...

Zapeando por vários blogs encontrei esse Oásis.

Rapaz, hoje estava pensando no cupim que deu no meu armário hehehehehe...

Moro no ES a pouco tempo (4 anos) Sou autor de algumas peças teatrais e no meio por onde ando a maioria é gay e todos sabem de mim.
Eu não sofro o preconceito "direto", por que tenho um biotipo de macho latino e isso me faz passar batido sem ninguém perceber, mas se alguém me perguntar eu digo que sou, numa boa.

A minha esposa sempre soube da mina condição Bi, menos a minha filha que ainda está com 17 anos e essa fase é foda pq ela ainda se espelha em mim e eu não quero interferir o processo de crescimento dela, mas assim que ela estiver madura, direi sem nenhum problema, mas por enquanto uso o fake Billy Bob Thornton (orkut).

Da antiga família, só a minha mãe sabe e o resto não devo satisfação nenhuma. hehehehe... Fui jovem nos anos 80 e naquela época só andava com pessoas descoladas e portanto tô me lichando pra esses homofóbicos.

Abraçossss...

Se vc ou alguém quiser, pode postar no meu blog, valeu?

Anônimo disse...

E vamos ao 38º comentário deste post:

Pessoal, no meu caso, não tenho vergonha pela mentira sustentada. Tenho vergonha é das consequências, de ter que lidar com o preconceito mesmo.

É claro que se um dia fosse pego com a boca na botija, teria que lidar com isso... (viram que escrevi no futuro do pretérito? =) Alex, RP, obrigado por compartilhar a experiência de vocês.

Pôxa, na infância fui um garoto retraído, tímido, com baixa auto-estima, mas à custa de muito esforço e sofrimento interior consegui dar a volta por cima, me adequar para conquistar meu espaço. Lutei pra me tornar um igual/ normal. E agora, pra quê jogar tudo isso fora?

Engrosso o coro dos que disseram ainda se preocupar com o que os outros dizem. Nos últimos dias tenho estado atento ao o que as pessoas em minha volta - principalmente no meio profissional - comentam sobre bi/homossexualide.

Hoje mesmo numa conversa sobre criação de filhos,um sujeito falou que ter um filho viado é pior do que ter um filho drogado!

Praticamente, o cara que não é alvo de comentários e piadinhas por ser gay, é um que, apesar de se vestir como homem, adotou um estilo semi-biba de ser: desmunheca, fala putaria despudoradamente, etc.

Paulo César disse...

Caros

Impressionante a identificação de todos que aqui postaram. Impressioante a repercussão do post. Minha história é mais parecida coma do Liberal. Curto também mulheres, bastante, tenho família e me sinto muito bem com ela. Vejo o lado que curte caras como uma parte de mim, que hoje não mais me oprime. Imagino que posso saber lavá-la, sem exageros, e sem precisar revelar a ninguém. Desde que o faça com cuidado e respeito (leia-se, segurança).

Trabalho em uma grande empresa onde tenho subordinados e colegas assumidamente gays. Outros nem tão assumidamente. Apesar de alguns se assustarem com isso, informo que talvez como um sinal dos tempos, o preconceito é mínimo, administrável, até. (E olhe que moro no Nordeste).

Não estou na pele deles, mas a maioria dos que conheço são admirados pelo seu profissionalismo. E nunca se comenta (não estou na pele deles, repito) que são, antes de bons profissionais, pessoas "CPDC - Chupa-pau-dá-cu".

O tempo tá mudando. As ações afirmativas têm sua repercussão.Imagino não ser fácil com a família. Com meus pais, seria complicadíssimo. Não vejo vantagem para ninguém contar isso para eles hoje. Da forma como os amo, isso seria um golpe. Desnecessário. Mas cada caso é um caso.

Depois continuo, e espero ter contribuído no enriquecimento deste já rico debate.

Abraço a todos.

Anônimo disse...

Ter família é um complicador imenso. Imaginem que eu me separe da minha esposa por qualquer outro motivo que não seja a sexualidade. Embora separação seja muito comum hoje em dia não há como negar que há um impacto forte nos filhos, que trarão grandes ou pequenas consequências dependendo do modo que a família lidará com isso.

Pois bem, separação consumada, cada um segue sua vida. Eis que com o tempo, a mãe deles se casa novamente. Mais um impacto. Qual será a relação dos meus filhos com o padrasto. Como eles enxergarão a relação entre mim (pai), padrasto e a mãe? É bem comum hoje em dia? É. Mas tem suas dificuldades.

E quando eu me casar novamente com um mulher? Aí são 4 pessoas na relação onde antes só havia pai e mãe. Agora são mãe, padrasto, pai e madrasta. Como será a dinâmica da relação desses 4 adultos entre si e com as crianças?

E agora as últimas possibilidades. A mãe deles se casa com um homem e eu também me "caso" com um homem. As crianças tem agora mãe, padrasto, pai e outro padrasto. E se eu me caso com um mulher e a mãe deles se "casa" também com um mulher? Agora são mãe, madrasta, pai e outra madrasta.
E se eu e a mãe deles, ambos tivermos relações homossexuais? Aí serão mãe, madrasta, pai e padrasto. Como fica a cabeça das crianças? É claro que depende muito da educação que demos a eles e como lidaremos com isso, mas não só. As crianças não são folhas em branco onde colocamos o que quisermos. Eles também tem a sua personalidade inata, que independe da educação.

É só para finalizar, ainda tem os diversos biotipos existentes. O meu companheiro pode tanto ser um machão peludo que não dá pinta nenhuma quanto um super afeminado e afetado, muito mais feminino que qualquer mulher. E a companheira da mãe deles pode tanto ser um mulher super feminina e delicada quanto uma machona que usa roupa de homem, cueca e ainda tem a voz grossa. E ainda cada um deles com a sua própria personalidade. Podem gostar ou não de crianças. Terem mais ou menos paciência e disposição de enfrentarem dificuldades na relação de todos os envolvidos. E em cada uma dessas situações, impactos diferentes nas crianças e também diferentes entre cada criança. Um filho pode aceitar numa boa. Outro pode entrar em crise existencial.

Se a grande maioria dos armariados já tem tantas dúvidas em relação aos impactos na vida profissional e entre os amigos e pais, imaginem a minha situação que além disso tudo ainda tenho a família. Impossível não pensar nisso! E muito, muito, muito mesmo!

Se com os pais a gente ainda pode esperar pelo falecimento deles para não passar pela provação de assumir perante eles, no caso dos filhos essa situação não se coloca.

PS: Embora possa parecer absurda, acho que deve ocorrer não tão raramente esse história de esperar pelo falecimento dos pais. De fato, um colega de trabalho meu que era órfão de pai e morava com a mãe (apesar de ser financeiramente independente), "casou" com um homem pouco tempo depois do falecimento da mãe. Homem esse com quem ele namorou por anos. Coincidência? Pode ser, mas eu acho que não.

Paulo Veras disse...

Oi... Muito bom ler o que voce escreveu. O título sugere algo totalmente diferente, mas so mesmo lendo é que temos a noção do que é!
Abraços e bom dia!

T Jok disse...

Família é complicadíssimo.
Acho que durante o passar dos anos, eu venho preparando meus pais,amigos e até minha atual namorada, para caso algum dia vejam algo que não esperam. Pra minha namorada talvez o choque seja maior porque algumas vezes bêbado ou em crises de ciúme já disse que não a trairia com uma mulher.
Discuto frases em relação a direitos gays, digo que não quero "casar" com uma mulher e dou a melhor responsta aos homens héteros quando dizem:
- "Mulheres são chatas pra cacete"
- "Então vire gay"

Como vi em comments anteriores, não quero ter que ser muito melhor em outras coisas apenas pra amenizar que curto caras tambem. Também não ando por ai dando pinta, que não é uma característica minha. Claro que, às vezes por conta de cerveja ou algum flerte fico mais vulneravel ao gaydar.

Assim como alguns de vcs, já me passou pela mente esperar a morte dos pais para sair do armário, mas desencanei dessa rápido pq restaria minhas irmãs. Depois comecei a pensar apenas em fazer alguma merda tão grande que pudesse ser deportado do Brasil, mas desencanei também. Desde que encontrei o blog, algumas de minhas idéias e ações mudaram bastante. E hoje apenas penso que posso ser eu mesmo em qualquer lugar, com uma certa dose de controle, apenas somente para não interferir no lado profissional.
Talvez até nao esquentaria a cabeça em pensar ou ter a certeza de que meus pais me descobriram. E com amigos, alguns poderiam pensar que me aproveitaria da situação(o que faria com alguns haha). Apenas não quero perder a naturalidade da amizade.

Por enquanto é só
Abraços

Homem Casado disse...

Ragazzo,

Descobri seu blog hoje. E passei um bom tempo da minha manhã lendo.
Acho que você consegue expressar de uma maneira perfeita o que um cara bissexual sente...
Esta vergonha, para mim, é mais do que natural, devido a uma série de fatores sociais envolvidos, principalmente a questão dos rótulos... a sociedade exige que você goste de mulheres, e se assuma hétero, ou goste de homens e se assuma gay, ou goste de mulheres e homens e se assuma bissexual.
Acho que o ser humano, pode gostar de homens ou mulheres e ser feliz... pode se relacionar com ambos quando lhe convir, quando sentir tesão, quando quiser, sem precisar dizer sou isso ou sou aquilo.
Hoje sou casado com mulher, mas já me relacionei com homens, e seria hipócrita em dizer que não sinto tesão por homens.
Acho q temos que levar isso mais na boa...acho que "sair ou não do armário" é uma pressão psicológica desnecessária, você deve fazer o que bem entende da sua vida sem se preocupar com esses rótulos inúteis, sem ter que assumir uma posição oficial.
Bom, espero não ser categórico demais. Gostaria apenas de expressar minha opinião.

Me adicione no msn pra gente trocar mais idéias: morenaco_gostoso@hotmail.com

Até o próximo post...

Luan disse...

apesar de me sentir sem ar por vezes no meu armário e procurar deliberadamente por frestas nas suas conjunturas, to confortavel nele.


sei que nao é por muito tempo. mas acredito numa transição mais branda. acredito ou espero? não sei.

só não quero ninguem olhando dentro do meu armário depois que eu sair dele.

saudade docê no msn!

bração!

Anônimo disse...

@Paulo César, também estou no Nordeste e trabalho numa empresa relativamente grande. Concordo que as coisas estão mudando, mas mudança mesmo, acho só daqui a mais alguns anoos. Por hora vejo que as pessoas apenas procuram ser politicamente corretas...

Compartilho com teu ponto de vista de que não contar para os pais também é uma demonstração de amor. (sim, sei que há casos e casos, não dá pra generalizar).

Faço um paralelo com a história de trair, se arrepender, e contar para o parceiro(a): isso só serve pra aliviar o sentimento de culpa do traidor. Não acrescenta nada de bom à pessoa traída. Por outro lado, tem a questão da lealdade... (taí uma coisa pra ser discutida qualquer hora dessas - traição).

@Liberal, legal sua preocupação com a criação dos filhos.

@T Jok, quando for oportuno, vou usar sua frase-resposta para quando disserem que mulheres são chatas, hahhaha

Edu e Mau disse...

Acho que disseram tudo. De minha parte, apenas digo que foi um prazer descobrir este blog o qual passarei a acompanhar sempre!

Hugo disse...

Liberal, crianças são mto inteligentes cara! e o melhor, são tão novas que ainda não adquiriram o preconceito. Por isso acho q ficariam numa boa.

Veja esse curta, mto legalzinho. É sobre um menino cujos pais morrem e ele vai viver com o irmão e o namorado. É ficção, mas acredito que retrate bem a realidade. As crianças n se impressionam mto com a orientação das pessoas.

http://www.portacurtas.com.br/Filme.asp?Cod=5673

Quanto ao assunto do armário, achei muito interessante as colocações. No meu caso, tenho receio de ser prejudicado, principalmente profissionalmente, caso o armário se rompa. é basicamente isso, a questão financeira. Mas mesmo se n existisse esse problema não sairia gritando aos 4 ventos minha orientação, não entendo essa fome de alguns de contar. Eu não esconderia, se me perguntassem, falaria na lata, mas n sairia por ai divulgando.

Unknown disse...

“Se pudesse, escolheria curtir tão somente garotas. Seria mais fácil.”


Se eu pudesse escolher... Continuaria gostando de garotos e garotas...
Mesma que doa a quem doer em algumas situações, e seja realmente complicado... Vivo com a minha consciência completamente tranqüila por saber que não estou fazendo nada de mal, seja comigo ou com qq outro alguém...


Me chamou atenção esse seu comentário... Pois pensei que já tinha superado isso... Acho que é uma fase... Confesso que já passei tbm... Mas foi muito rápido para mim...Vc realmente deve ter tido uma educação muito rígida e vivido em um meio que te restringiu muito... para não ter superado isso... e eu te compreendo de verdade...


... Se eu pudesse de coração te dar um conselho, seria para aproveitar esse momento que vive e que tem mais liberdade para pensar e fazer o que quer... e superar definitivamente isso...Pois como vc mesmo já sabe e previu que iríamos dizer “Ragazzo, não há de que se envergonhar” e me desculpe,na minha opinião já passou da hora de vc se aceitar.

Um grande abrç

T Jok disse...

"Não entendo essa fome de alguns de contar"

Hugo, faço de suas palavras minhas.

Caco disse...
Este comentário foi removido pelo autor.
Caco disse...

Li um bocado, depois eu termino.

Esse negócio de quer dar o cú é realidade... Também não é assim, tem gente que não gosta de dar o cú, tem gente que não não gosta de colocar a boca num pinto, rsrs. Tem de tudo nesse mundo.

Mas gostei muito do que o Alex escreveu. Parece que quanto mais ouço, leio, depoimentos assim, mais eu me livro desse "preconceito" que às vezes insiste em fazer pate da gente.

Eu me assumi numa boa, pra mim. Não fiquei muito pilhado não, pra mim é tão normal ser gay. Mas eu tenho vergonha também de me assumir pros outros. Não sei dizer ao certo o verdadeiro motivo dessa vergonha. Deve ser mesmo pelo preconceito da sociedade, de um modo geral, pelos homossexuais. Mas acredito que com o tempo isso vá se amenizando. Aos poucos a gente vai se assumindo pro mundo. Tem que deixar o tempo fazer a sua parte também né, pode demorar, mas ele sempre age.

Beijos.

Un ragazzo disse...

Ae pessoal,
demorei para postar por conta do feriadão. Acabei indo viajar para um lugar em q não tenho muito acesso à net. Agora mesmo tô em uma lan house do lado de uma galera jogando CS q não me deixa pensar direito...kkk

A discussão tá boa e já não sinto a responsabilidade de responder um a um. É o lance da autonomia que começa a ocorrer, sem necessidade de eu ficar legitimando os caminhos da discussão.

Vou apenas divagar um pouco e outro dia, sem uma galera discutindo sobre videogames ao meu lado, posto com mais calma... (Ainda bem q escrevi o post em meu computador e trouxe no pen drive, senão não rolaria essa semana) ehhe

Quando digo q se tivesse escolha eu tomaria essa ou aquela decisão, falava de um ponto-de-vista prático. É inegável que socialmente seria mais simples. Ou alguém aqui nunca passou apuro por conta disso? Por mais que um ou outro se expresse COMPLETAMENTE resolvido nesse assunto, se assim fosse, não teríamos necessidade desse espaço. Seria um chover no molhado. Se o contrário ocorre, é porque um desgaste existe.

Agora, o lance da vergonha, esse sim, concordo, é algo que não está maturado suficientemente e sei o porquê disso. Isso se refere ao meio em q vivo, às experiências que tive na vida, ao modo como fui criado, aos projetos q tenho de vida etc.

Não considero q uma ou outra pessoa deva pular essa fase da maturação ou abrandá-la. Ela é importante e cada um tem seu tempo para ela. Caso esse período não seja respeitado por cada um, corre-se o risco de ficar com uma série de nódulos psicológicos escondidos q volta e meia podem aparecer. Além disso, não acho q são fases lineares. Cada um tem um caminho próprio, chegando a respostas próprias. Afinal, tem solos vivenciais próprios também, ou seja, peças diferentes para articular respostas.

O que acho complicado é não se dar o tempo e nem ter a iniciativa para esse auto-conhecimento. Outro ponto complicado é negar aspectos que temos, que exercemos, como preconceitos. O que friso nesse blog é que não somos melhores, nem piores, que não somos seres mais ou menos evoluídos tão somente por sermos abertos à diversidade sexual.

Pelo contrário, nesse quesito, olhamos para nosso próprio umbigo. Garanto q se cada um de nós olhar para dentro perceberá q é intolerante com uma série de outras coisas q não a sexualidade.

Falar sobre o que passo parece mais viceral do que viver de fato. Do modo como falo talvez pareça que me reprimo. Não é isso. Lembrem-se que aqui ponho pontos para reflexão. Aquele lance de pensar sobre copos de água como se fossem tempestades. Não é um espaço de desabafo, como blogs são para muitas pessoas.

O que quero é esmiuçar os mecanismos sociais em q estou inserido. Quero desvelar a minha intolerância, quando, claro, seria mais fácil eu dizer, é questão de gosto e mascarar preconceitos.

A vida está aí para ser vivida, mas creio que isso só é feito em sua plenitude, quando estamos conscientes de seus passos.

Volto a postar outra hora. Fiquei pensativo com a questão familiar do Paulo e do Liberal, mas quero postar sobre isso com mais calma.

Abraços