segunda-feira, 9 de novembro de 2009

Fantasmas

Um ano e meio se passou. Conhecemo-nos de modo peculiar. Em cada momento, uma faceta diante de uma sequência com lógica própria. Primeiro, fomos héteros. Depois, companheiros de chimarrão. Em seguida, de bar. Um dia, por conta de uma coincidência, tornamo-nos possibilidade um para o outro e, finalmente, começamos a dividir também a cama. Uma viagem longa em um momento de incertezas e pouco esforço nos afastou. Não tivemos um ponto final, mas sabíamos que a sentença já havia terminado.

Por que retomo tudo isso? Alguns dias atrás saí para uma viagem para uma reunião de trabalho. Uma espécie de concentração, em que todos ficam presos em um hotel no meio do nada. Uma espécie de Alcatraz de luxo.

Piso no hotel e quem eu encontro? O próprio fantasma. Ele estava com um grupo de amigos. Eu com outro. Cumprimentamo-nos um pouco embaraçados. Durante as reuniões e paradas, nossos grupos começaram a se aproximar. Ficaram todos em harmonia. Melhor, quase todos. Era um dos dois estar presente que o outro emudecia.

Ontem resolvi fugir com um amigo para um bar distante para ver um pouco da agitação da cidade. Mais uma traquinagem do destino. Meu amigo do além parece ter tido a mesma idéia. E em uma espécie de swing fraterno, passei a noite conversando animadamente com o amigo dele e ele com o meu. Entre nós, entretanto, as palavras poderiam ser contadas nos dedos das mãos.

Pode-se pensar que dois caras, mesma cidade, mesmos hábitos, mesma profissão e mesma sexualidade teriam de tudo para se aproximar, ainda que apenas como amigos. Porém ocorreu o oposto. A presença de um junto ao outro começou a incomodar como se um segredo pudesse a qualquer momento explodir.

Tentei fazer minha parte. Puxei papo. Fiz piada. Esforcei-me para mostrar que éramos apenas dois caras normais que, apesar do lance do passado, não tinham com que se preocupar. Tudo em vão. O cara estava muito tenso. Até recusou chimarrão, o que é mau sinal para um gaúcho que já estava dois dias sem.

Daqui de onde estou escrevendo consigo vê-lo também “trabalhando” em seu lap top. Ao mesmo tempo me lembro que da última vez em que havíamos nos visto pessoalmente, estávamos na cama combinando quando nos encontraríamos de novo. Naquele dia não quis dormir na casa dele, mas prometi que rolaria da próxima vez.

Palavras ao léu.

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Adendo:
Pessoal, agradeço a torcida, mas a ponte aérea está complicada. Tentei, tentei e tentaria mais ainda, porém não depende mais de mim.

14 comentários:

Caco disse...

Ele deve só estar com medo de lidar com a situação. Cada um tem um tempo.

Paulo Roberto Figueiredo Braccini - Bratz disse...

complicado ... não gosto disto ... a vida é muito simples, não entendo pq os seres humanos gostam tanto de complicá-la ... isto só traz tensão, frustração e sofrimento ... enfim ...

bjux

;-)

Inside Spike ?? disse...

es cuestion de seguir incluyendolo en la ronda de terere (mate o chimarrao)... en algun momento volvera a agarrarlo!
abrazos

Stefany Monteiro disse...

É a vida.
Provavelmente, agora, ele deve estar pensando em como devia ter sido mais relaxado, desencanado. Como você tentou ser.

À parte isso, ainda torço muito pela ponte aéra.

Anônimo disse...

Quanto li isso achei que teria a mesma atitude do "fantasma". Depois achei que não. Que eu aproveitaria o encontro fortuito e retomaria de onde tinha parado: na cama. Pensando mais um pouco achei que ficaria numa boa e conversaria com o Ragazzo como converso com um velho amigo, mas sem tocar em assuntos de alcova.

Mas acho que todas essas mudanças não são porque estou confuso e não sei o que quero. Acho que é natural do ser humano essas dúvidas. Quantos de nós podem afirmar com certeza como se sentiriam e como agiriam em situações inusitadas? E o ser humano é tão metamorfoseável (credo, existe essa palavra?) que a mesma pessoa pode ter sentimentos e atitudes diferentes frente à mesma situação de acordo com o estado de espiríto do momento.

Mas voltando ao Ragazzo, ficou no ar um cheiro de estória mal resolvida. Acho que não termina por aí...

Spark disse...

São dos complicados e difíceis que os homens gostam Ragazzo. Acho que tu também!

A puta, o cara que dá fácil, o homem não valoriza. Agora, a santa e o difícil, o que pisa, que humilha e o que dificulta... é o que atrai mais o homem.

Porque para o homem existem dois tipos de pessoas: aquela pra amar e aquela pra aliviar o tesão.

Quando o homem quer algo mais sério, ele escolher a pessoa que dê a menor possibilidade que lhe traia. Porque algo que o homem mais teme é ser corno, chifrudo, não passar na porta, levar galha...

Ah, tu ja entendestes.

Kriok disse...

Realmente parece o típico "caso mal resolvido", também acho que ainda teremos mais um capitulo dessa história. Mas enfim, cada um tem uma reação diferente nessas situações. Talvez ele estivesse com um outro cara e ficou constrangido ao te ver ali. Sei lá, suposições apenas. A verdade é que o tempo faz isso com as pessoas. As tornam distantes, mais do que os quilômetros que as separam. Por falar nisso, também lamento pela sua ponte aérea.
Abços!

kurt disse...

Antes de tudo,meu primeiro comentário em um blog...(Primeira vez a gente nunca esquece,hehe)
Ragazzo,não seria a tal "vergonha" que você citou em outro(ótimo)tópico o motivo deste "estranhamento"?Nunca aconteceu isso comigo,se acontecesse acho que morreria de vergonha!Sorte com a Ponte Aérea!

P.S:Parabéns pelo blog.Engraçado,intrigante,dinâmico,dramático,muito bem escrito e o melhor:HUMANO!É bom quando olhamos pra trás e vemos que temos estórias pra contar...força aí rapaz!Abraço!

Amanzzo disse...
Este comentário foi removido pelo autor.
Amanzzo disse...
Este comentário foi removido pelo autor.
Amanzzo disse...

Quanto ao fantasma, foi um momento bom que aconteceu e marcou, ponto final,(suponho que ele ainda não esteja pronto pra lidar com os fatos,da a impressão (posso estar sendo meio preconceituoso)que na época que vocês ficaram juntos ele fez isso porque deixou que a emoção falasse mais alto e hoje pode ser que tenha medo de lidar com os fatos de forma racional.
Pelos textos passa a impressão que a ponte area significou muito mais para vc do que o fantasma,pelo que vc diz ja fez o possível para nas duas situações tentar reverter o quadro, agora deixe tudo nas mãos do tempo.Na hora certa aparecera uma pessoa na sua vida.Se tem uma coisa que eu aprendi nestes poucos anos de vida, é que nada acontece por acaso.

Abração

Anônimo disse...

tá sumido, guri. (ignore esse comentário inútil, por favor, haha)

T Jok disse...

VOLTEI!!!
pra começar acho que tb poderia dizer: "a ponte aérea está complicada. Tentei, tentei e tentaria mais ainda, porém não depende mais de mim."

haha
bom...dá tempo ao tempo. O cara deve ser novato na parada e quem tem cu tem medo.
Acredito que todos nós ja passamos por isso, alguma vez na vida. E pro cara, isso foi ainda mais dificil por estar a trabalho.
Em alguns raros momentos eu tb me sinto acuado e acabo fazendo a mesma coisa que o fulano.

José Oscar disse...

Meu primeiro comentário também.

Ainda estou pra conhecer alguém que se compreenda e compreenda o outro tanto quanto vc. Admiração é a palavra que eu tenho pra te definir.

Parabéns pelo blog, parabéns pelos textos, parabéns pela experiência que, para mim, valeu mais que anos de terapia e auto-punições.

Sorte com a ponte aérea. Ou algo que valha a pena.