terça-feira, 25 de agosto de 2009

Siamo uomini!

Relacionamentos entre caras é algo complicado. As regras parecem se diferenciar. Não há modelos sociais nos quais se basear. Com uma garota, é simples. Depois da primeira saída, é esperado que o cara ligue. Garotas um pouquinho mais melosas são normais. Um chameguinho não incomoda. É normal que ela faça um charminho, mas que acabe cedendo. Um “não” nem sempre é uma negativa, mas as pistas estão lá. Em uma discussão, o homem entra com a racionalidade, a mulher com a passionalidade. E eis que o equilíbrio se mantém.

E entre caras? Há a sensação de um constante pisar em ovos. Noite legal. Quem liga para o outro? Ambos e nenhum. Deixa que eu deixo. Finalmente alguém se decide. Uma ligação. Pausa. Passo para frente. Pausa. Espera pelo passo do outro. Pausa. E depois de muitas pausas, se um dos passos não ocorre, por mais adiantado que o caminho esteja trilhado, existem grandes chances de ele ser abandonado. Ponto final. Passo-ante-passo, ambos estão na mesma situação de ganho ou de perda e a impressão do “tudo ou nada” se mostra com freqüência.

Os laços parecem mais tênues, as relações mais instáveis. Todo dia parece um último dia. Escorregadas assemelham-se a armadilhas. Sentimentalismos são mal-vindos, com exceção a momentos de extrema intimidade em que também se sabe que o dito pode ser efêmero e perigoso. E na falta do explícito, ficam as lacunas com suas criações inseguras, indicando-nos um fim por muitas vezes ilusório. No dia seguinte, o mesmo ciclo.

Homens parecem respeitar seu desejo acima de tudo, sobretudo acima do outro. Não há razões sociais para o par. Não há um grupo em que se apoiar. Pelo contrário, o par se esconde usando uma velha desculpa social como se algo errado fosse feito. A separação parece um alívio e não ocorre por causa do dito desejo.

Ainda que já firmado um certo compromisso, também aqui o sistema é próprio. Não se sai pelo outro. Não se abdica pelo outro. Não se beija pelo outro. Não se transa pelo outro. Sai-se, abdica-se, beija-se, transa-se por si mesmo. São vidas diferentes que se mantêm na sorte de tornarem-se convergentes por algum tempo.

Somos complicados. Somos orgulhosos. Somos egocêntricos. Somos brutos. Somos interessantes. E por tudo isso e mais um bocado, claro, somos homens.

21 comentários:

Spark disse...

Sabe que acho que não é só com homem que tá acontecendo isso.

Com mulher tá a mesma coisa.

Uomo disse...

Caraca... só vc Ragazzo pra descrever isso tão bem... não vou tercer comentarios agora. Tô no trampo, mais tarde comento melhor.
Puts... é isso mesmo...!!!!

Bel Ami disse...

Tento negar pra mim mesmo essa realidade mas ela se mostra diante de mim com muita frequência. Isso me incomoda profundamente.

Arrasou no texto!
Grande abraço!

Wallace Luiz disse...

Eu tenho 17 anos e leio seu blog a um tempo já.
Eu adorei o texto e resolvi comentar. Eu vejo que isso acontece por causa dos "pensamentos modernos". É comum entre os gays o relacionamento aberto, muitas vezes consentido, ou eu me deparei com pessoas de outro mundo(hahaha). Entre as coisas que você escreveu.

Valeu, até os próximos textos.

Uomo disse...

Realmente... relações entre caras pode ser muito intensa, cheia de grandes demonstração de desejo e por que não de amor e carinho. Contudo, são sempre relacionamentos muito complexos, talvez por justamente não "se manter o equilibrio". Concordo com as descrições do segundo parágrafo e posso afirmar que as vezes causa enfado. Na boa, ser homem caçador de garotas é bem mais facil do que ser homem caçador de kras interessantes. Logico, qndo essa caça tem o proposito de envolvimento e relacionamento (namoro), a situação pode ficar mais facil quando a parada é só uma transa e explosão de dejeso (puro tzão!!!). As vezes fico realmente me perguntando o que será de mim daqui a alguns anos. Com o passar do tempo, vamos ficando mais praticos e talvez essa relação hxh se torne enfadonha demais. Pior q o negocio é booooooooooom...
ai ai...

Diego Hatake disse...

Homens são idiotas. Ponto final.

Un ragazzo disse...

Wagner,
tenho pensado muito nesse lance de equilíbrio. De fato, homens não se complementam. Parecem se expandirem em si mesmo por meio do outro.

wL, relacionamentos abertos são uma opção que eu ainda não tenho clareza se gosto ou não. Na teoria é lindo, na prática é desastroso. Creio que sou meio tradicional nisso, apesar de admirar quem consiga.

Diego, eu diria idiotamente interessantes... hehe

Abraços!

Paulistano disse...

Ragazzo, você foi muito feliz no seu post. É exatamente assim que funciona.
Se você demostra, pronto, pode ficar taxado como a "bichinha desesperada" ou o "cara carentão". Se você não demonstra o interesse do começo, em um relacionamento hétero, você é um ogro que só está atras de sexo, ou seja, é um cafajeste (ainda que com fama de pegador).

Eu tenho esperanças de que mais cedo ou mais tarde, alguém com o meu perfil apareça (e você sabe qual é o perfil). Esse lance de ligar, mandar SMS e os chamegos implícitos, pra mim, são como combustível pra relação.

Vamos marcar de conversar!

Abração.

Anônimo disse...

Achei bastante interessante este post, sai fora do normal do que se costuma ler, é enfrentar a realidade. Gostei de ler vou continuar a ler o resto a ver se continuo a gostar :)

Tobias Fünke disse...

Mais um excelente post.

Não tenho nenhuma experiência com relacionamentos entre homens - bom, na verdade, não tenho experiência com relacionamentos latu sensu, apesar de já ser grandinho - mas sempre achei que entre homens seria mais fácil... seu post está me fazendo rever isso, Ragazzo. É por isso que gosto deste blog...

Mineiro. disse...

Seu texto foi otimo!
Descreve muto bem uma sensação/situação que envolve todos os homens que se envolvem com outros homens, que é a incompreensão do outro, com um agaravante, o outro, neste caso, é um "igual".
E ao refletir sobre o tema do seu texto acabo angustiado,pois concluo que nos, homens, temos a grande incapacidade de superarmos o que somos: uma produção do meio social em que vivemos.
E para finalizar minha pequena divagação, cito um antigo ditado "Não vemos as coisas como são: vemos as coisas como somos".

Parabéns pelo texo!

Mited disse...

Eu estou num relacionamento longo e gostoso e realmente, durante a fase de conquista essa insegurança e instabilidade pendular pode ser chato e frustante. Meu relacionamento só vingou mesmo depois de muita paciência e persisitencia uma vez que meu namorado era "hetero" até então. Mas sei que sou uma excessão,a maioria dos homens não tem, talvez a persistência necessária( ou a boa vontade) de tentar passar por cima dessas incertezas. Claro que essas situações só são válidas para caras que estão buscando algo além do sexo. ( Nada contra quem tem esse objetivo, cada um sabe o que é melhor pra si)

Nowhere Man disse...

Acho que foi o T.Jok que comentou dizendo que o Ragazzo tava muito reflexivo. E agora mais uma prova disso. Como dito, quem tem a agradecer somos nós!

A grande questão que fica é: e como solucionar isso? Como passar dessa fase, se a parte da conquista (o "jeu d'amour") era pra ser a melhor parte e não uma constante caminhada over thin ice?

Essa acho que o Ragazzo ainda não sabe. Mas a gente torce pra ele descobrir e vir aqui explicar pra gente...

Luan disse...

aqui, o não saber como se comportar, o não entender os proximos passos, o não querer seguir o mesmo caminho deixa tudo mais gostoso e tão complicado quanto parece.

abs,

Luan.

Alysson disse...

Nossa, a complexidade e a verdade do seu texto me cativou. É difícil reconhecer que nas suas palavras existe boa parte das razões de muitos relacionamentos homem + homem não alavancarem.

Por outro lado, sou convencido de que esse misto complicação, orgulho, egocentrismo, brutalidade e independência fazem de um bom relacionamento entre dois homens ser MUITO gostoso!

Cheguei e já gostei! Considere-se perseguido em seu blog, viu?
Abração!!!

Paulo Roberto Figueiredo Braccini - Bratz disse...

Pois então Regazzo ... sua contextualização é bastante interessante, mas não acredito que esta seja uma máxima exclusiva dos homosexuais. É "vero" que uma relação homo-afetiva possui particularidades que são próprias pois são dois seres com uma mesma carga cultural que se defrontam na busca de uma harmonia, mas as relações em si se constroem de uma mesma forma. Nas relações héteros, o que de certa forma aparentemente lhe conferem uma maior "estabiidade" é o próprio conceito social e cultural. Mesmo com a emancipação feminina, as mulheres ainda se colocam dentro de uma relação como uma parte submissa e castrada, e isto, aliado ao aspecto família constituída [filhos e bens] levam a uma formatação em que as partes tendem a buscar uma base maior de estabilidade [mas esta estabilidade é forjada, não tenho dúvidas qto a isto]. Já nas relações homo, os parceiros ou parceiras gozam de uma individualidade maior o que gera esta perspectiva de instabilidade, fruto de uma liberdade mal trabalhada e mal compreendida, pois se confunde com egoísmo e egocentrismo. Ma enfim, em muitos casos [mais comum do que se imagina] estas relações homo podem ser estáveis e conscientes. Eu mesmo posso dar este testemunho pois vivo uma relação homo que, no próximo dia 26 completará 35 anos [é isto amigo, não são 35 dias nem 35 meses]. O segredo? A compreensão e a construção de uma relação própria e não estereotipada no modelo hétero. Esta, sem dúvida, é uma das causas, se não for a maior, do fracasso das relações homo-afetivas, espelhá-las nas relações héteros.

Bem fico por aqui ... daqui a pouco o coment está maior que o post ...

Parabéns pelo Blog e pelo post em especial ...

bjux

;-)

Unknown disse...

A GRANDE DIFERENÇA É A DENOTAÇÃO DO QUE REALMENTE SE SENTE. PODE PARECER EGOÍSMO, E REALMENTE É. AFINAL DE CONTAS, NUM RELACIONAMENTO QUE AINDA NEM EXISTE, QUEM NÃO É EGOÍSTA??? TODO MUNDO PENSA EM SI PRÓPRIO, SEJA HOMEM OU MULHER. CONSTRUA UMA RELAÇÃO VERDADEIRA E AÍ SIM VOCÊ VAI PERCEBER O ALTRUÍSMO QUE TANTO PROCURA NAS PESSOAS. MUITO BOM SEU BLOG, FOI A PRIMEIRA DE MUITAS VISITAS QUE FAREI. ABRAÇO. (surfer252009@hotmail.com)

Eterno romantico disse...

Ragazzo,
Concordo com você com relacionamentos são difícieis, mas minha opinião não é só entre gays, pois existe homens (e eu faço parte deste grupo) que são emocionais ou até mais que mulheres. Não são racionais. Tem as mesmas necessidades emocionais, precisam de atenção como mulheres. A questão é achar um parceiro que entenda esta situação.

Eisenbahn disse...

Me identifiquei muito com o texto, pois sempre tive relacionamentos "heteros" e acabei me apaixonando "de vez" por outro homem. Estamos juntos e tá sendo ótimo. Agora, com absoluta certeza, não dá pra comparar um relacionamento homo x hetero. Estou muito mais feliz agora. Mas também nunca achei que fosse ser tão complicado. Tem a questão da insegurança... De não saber aonde estar pisando. Mas acho que a diferença crucial é justamente no fato de nunca se complementar e sim de se exaltar em si mesmo que torna essa relação legal.

Parabéns pelo blog.
Abraços.

RP disse...

Nas incertezas estão as belezas do romance. O que seria das grandes histórias de amor se houvesse sempre a certeza de vivê-las plenamente?

Alef disse...

Olá! Me identifiquei demais com o post... Estou passando por esses conflitos, rss! O que mais me chamou atenção foi um comentário... do Paulo Branccini! Estou de acordo! O problema é queremos copiar o modelo de vida das relações héteros.
Parabéns pelo blog!