domingo, 5 de julho de 2009

Casos de Família

Não iria postar esta semana, mas uma vez que não pregarei os olhos até amanhã cedo, mudei de idéia.

Ontem à noite, após uma semana de muito trabalho, na qual tive que usar muita energia física e psicológica, sai com alguns amigos para relaxar. No fim da noite, conversando com uma grande amiga, falávamos sobre sua família. Fiquei surpreso com algumas peculiaridades.

Caso 1: O Assumido

Um de seus tios é homossexual assumido e, por conta disso, ficou aparte da família até pouco tempo atrás, pois seu irmão (pai de minha amiga), mesmo sendo uma pessoa deveras generosa e bondosa, não aceitava o fato, mantendo uma distância física e dialógica, por nunca tocar no assunto.

Esse tio desde pequeno já sofria preconceito. O próprio pai, ao perceber os trejeitos do filho, o deu para primos cuidarem dele.

Depois do falecimento de seu irmão há dois anos, seu tio novamente se aproximou de toda a família.

Caso 2: O Enrustido

Outro tio, vulgo enrustido, atualmente major, teve uma infância bastante pobre e, para se manter na carreira escolhida, construiu toda uma fachada. Casou, teve uma filha, despontou como profissional. E nas horas vagas, é outra bandeira que hasteia.

Ainda que toda a família desconfie do que ocorre por trás das cortinas, ninguém toca no assunto e no Natal todos se abraçam.

Caso 3: O Liberto

Seu sobrinho, ídolo do pai de minha amiga, único varão dentre os netos, vivia calado, distante, triste. Criou por conta disso uma independência invejada. Após a morte do avô resolveu, com ajuda da tia, assumir um relacionamento com um cara. Hoje é outra pessoa. Aquela distância que, por um lado lhe possibilitou a independência, mas também o deixava além da pertença de um núcleo familiar, se desfez.

Refletindo...

O que ganhamos em esperar as pessoas de quem gostamos sairem de nossas vidas para podermos compartilhar aquilo que vivemos? No medo de expressarmos aquilo que sentimos, deixamos de lado aqueles de quem mais gostamos. Aquilo que é mais íntimo se torna mais fácil de ser confidenciado a um completo estranho no msn, em um blog ou em uma sala virtual do que àqueles que incondicionalmente gostam de nós.

Medo de não sermos o que os outros gostariam que fossemos? E por conta disso nos deixarmos mostrar como aquilo que não somos? Vida dupla é muito desgastante. O receio que se tem de a outra vida vir a ser descoberta pode nos levar a uma solidão pior do que aquela física. Uma solidão em que mesmo rodeado por muitos, não se tem ninguém com quem você saiba poder compartilhar-se como um todo.

Minha avó faleceu hoje. Morreu sem saber de quem eu já gostei, sem saber o que penso da vida, sem saber o que me faz sorrir e o que me faz ficar de olhos baixos, sem saber aquilo que me tira do sério, sem saber quando meus olhos brilham. Paradoxalmente, uma das pessoas mais importantes pra mim morrendo sem me conhecer.

Última vez que a vi, a abracei e ela me disse que não queria bisneto fora de hora. Disse também para eu namorar menos e visitá-la mais, que "rabo-de-saia" só serve para atrapalhar vida de homem. Eu sorri ternamente, beijei sua testa, pedi "benção" e fui embora... pra sempre.

29 comentários:

Mike disse...

Meus sentimentos ragazzo. Isso é sempre muito duro.

Anônimo disse...

Cara, sinto muito, também já perdi minha avó e sei como é duro, eu a amava demais, e ainda amo.
Sem palavras para expressar prefiro resumir tudo o que gostaria de dizer em um simples "sinto muito mesmo".

Chris disse...

Ragazzo,
Meus sentimentos caro amigo.

Tenha fé em Deus para confortar seu coração, pois nessa hora ajuda muito. Perdi minha vó que tanto amava também, mas sei - e sinto que mesmo não estando mais aqui fisicamente, ela sempre estará no meu coração para me ajudar.

Deixo um grande abraço apertado.

Ulisses disse...

Ela pode não ter conhecido 100% tuas preferências, mas talvez ela te conhecesse melhor do que tu imagina.

Meu caro, nesse momento, que o choro seja de saudade e não de tristeza.

Principalmente, a depender de sua fé - ou da fé dela, não é pra ser um momento de tristeza.

Nos próximos dias, e de tempos em tempos, faça questão de relembrar e comentar com a família casos engraçados sobre ela. Assim ela permanecerá na memória de vocês, com boas lembranças.

Afinal, um dos desejos de qualquer pessoa é não ser esquecido.

Unknown disse...

Nossa cara.... mais uma das coisas q acontece na sua vida, que me faz refletir...
Uma das melhores amizades que eu tenho é a da minha avó...gostaria q ela soubesse mais de mim sinceramente...
Mas não me sinto mal em omitir algumas coisas, pois acredito estar poupando-a, além dela nunca ter me rotulado em nada e demonstrar que vai continuar gostando de mim independente do que for...nunca me senti sufocado...
...A mensagem que gostaria de deixar pra vc, é que não fique se martirizando...se fez o que estava no seu alcance...fique com a consciência tranqüila...
um grande abraço

T Jok disse...

Ragazzo,
Meus sentimentos, "amigo".
Espero que você reaja bem a tudo isso e da maneira menos dolorosa. Agora não adiantas pensar que você foi "mau neto", que ela não te conhecia. Acho que ela te conhecia e muito bem, mesmo sem ter nunca contado nada.
É um fato triste mas é a única certeza de que temos na vida. Pense nas coisas boas, e das recordações maravilhosas que tiveste ao lado dela, e que suas lágrimas sejam de alegria (por ter tido uma avó maravilhosa) e de saudade.
Não fique se matirizando. Há coisas que são melhores ficar omitidas e, isso não quer dizer que ela não te conhecia.

Bom, é isso.
Muita força nessa hora e que vc se recupere o mais rápido possivel e da melhor maneira possível.

Grande abraço.

Edu e Mau disse...

Faço minhas as palavras de todos, mas não posso deixar de divagar e - sem querer relacionar à sua ou qualquer família - pensar que existe o outro lado da moeda, dos que sim nos forçam a não sermos quem somos e que nos excluem de suas vidas caso ousemos demais. O tal "incondicionalmente" do seu texto nem sempre existe. Mas, voltando a virar a moeda, a culpa também seria nossa, que permitimos que assim seja?

Divagando demais num momento em que não é pra isso, desculpe.

Kriok disse...

Sinto muito por sua avó. Não creio que tenha mais alguma coisa a te dizer que possa confortá-lo, isso só o tempo mesmo vai ajudar. Um abraço!

Anônimo disse...

e está pensando na idéia de deixar essa vida dupla?

Gay Alpha disse...

Sinto pela sua vó. Não vou dizer que sinto muito, pois esse "muito" só cabe a ti sentir, não é mesmo?
Bem... encontrei um scrap seu no meu Orkut e através dele cheguei ao blog. Não li ainda o suficiente para te conhecer melhor, mas já posso dizer que apreciei a forma - e a intesidade - da tua escrita.
Sobre teu convite à reflexão: eu acho que chega um momento na vida de um homem que ele precisa abdicar de viver acreditando nas sentenças e nos conceitos dos outros. Talvez ele deva duvidar até mesmo dos seus conceitos e sentenças. O que quero dizer é que não existem fórmulas ou regras adequadas para serem seguidas. Eu não acredito numa vida plena, se vc vive-la como refém de si mesmo, entende? Neste caso, vc fala sobre abrir para os mais íntimos sobre preferencias afetivas-sexuais, e acho que depende do caso e das pessoas envolvidas. Para algumas talvez, vc nem precise dizer, talvez essas pessoas estejam em tamanha sintonia contigo que te "saibam" e te entendam sem que nada digas. Tem outras que vão preferir ouvir de você e dessa foram poderão se sentir especiais e partes ativas na tua história. E tem ainda aqueles que vão preferir não saber, mesmo que - de alguma forma - já saibam. Importante nesses casos é não tentar usar uma tal fórmula mágica que agrade a todos. E mais: ninguém precisa agradar a todos. Aliás, não precisamos agradar ninguém em suma. Talvez devessemos agradar a nós. E agradar a si mesmo passa por saber até onde devemos ir com nossas atitudes para não machucarmos a nós mesmos em nome dos outros. O fato de sua vó ter partido encerra drasticamente essas possibilidades em relação a ela. Resta tu administrar como vai lidar com a possível vontade que sentias em compartilhar mais de ti com ela. Infelizmente, os mortos não voltam. Mas tem muita gente viva aqui com a qual tu podes te abrir. Falei demais, né? Sorry! Falo demais mesmo!
Força aí! E nos veremos de novo!

Rodrigo Fontes disse...

Grande abraço, colega blogueiro. Que sua saudade seja doce e não dolorosa.

Inside Spike ?? disse...

abrazo!

Uomo disse...

Caraca Ragazzo... nunca um post seu foi tão fundo na minha ferida. Ao terminar de ler, minha reação foi de respirar profundamente e dizer PQP... Lógico que sinto muito pela sua perda... afinal quando se perde uma avó ou um avô se perde muito mais do que simplesmente uma avó ou um avô.
tbm eu tive uma relação muito intensa com minha avó... não me envergonho de poder dizer que fui sim criado por vó. Que fui sim mimado por ela. E acredito que é a melhor parte de minha infancia. Sempre fomos muito ligados um com o outro... caraca... não sabe o que é tá te escrevendo isso... depois da morte dela acho que ainda não superei sua partida...
Bom, contudo embora fossemos muito ligados e muito confidentes... Ela foi embora sem "saber" que o neto dela... o adorado e querido neto tinha um vulcão dentro dele que queria ebulir... que existia uma parte de mim que talvez ela, assim como minha mãe, aceitasse embora não compreendesse.
Na sua colocação "O que ganhamos em esperar as pessoas de quem gostamos sairem de nossas vidas para podermos compartilhar aquilo que vivemos?" bateu fundo porque só depois que ela foi embora é que tive coragem de "ser" embora esse "ser" mais pareça um "não ser".
Paradoxalmente, também uma das pessoas mais importantes pra mim morreu sem me conhecer...
Vou parar por aqui... não tenho condição de terminar...
Força amigo...

Lamb boy disse...

Nossa, tipo, meus pesames .-. Eu não tenho idéia do que você deve estar passando, mas eu sei que devo passar por isso logo logo, pois apesar d nenhum parente próximo a mim ter morrido desd q eu nasci, meus avós já possuem mais de 93 anos, e eu sei que eles vão morrer algum dia.

Olha, eu tenho 16 anos, eu já ateh cv com vc no msn uma vez. Ninguém sab q eu sou bi, só minha melhor amiga. Na verdade por parte d pai, até usar rosa é proibido, imaginem minha situação. Mas já por lado d mãe, eu tenho dois tios gays, e eu sei q se eu assumisse, eles me apoiariam, apesar d q eu soh conheci eles ultimamente. Vida no ármario eh foda!!!

Lucas disse...

Não vou conseguir falar nada aqui que, de fato, vai amenizar sua dor. A perda é tão particular, e o sentimento nesse momento é algo que eu temo, mas desconheço. Por outro lado, mesmo de longe, eu imagino o que você está passando e sinceramente sinto muito pela sua perda.

Nosso contato foi pouco, mas percebi que você é um cara excepcional desde a primeira conversa. Sinta-se abraçado e tenha certeza que não precisaria disso tudo pra ela te conhecer. Ela conheceu, e com certeza o suficiente para nunca te esquecer.

Abraço, meu caro.

Lucas

Anônimo disse...

Ragazzo,

Meus pêsames. Tudo o que eu posso dizer nessa situação é: não se culpe.

O resto é com o tempo, que não cura, mas nos ensina a lidar com isso.

Um grande abraço,
Liberal

Ulisses disse...

Analisando os "casos de família":

Para o Liberto deve ter sido mais fácil. Já encontrou o caminho aberto pelo Assumido.

E o Assumido, coitado, nem queria ser o pioneiro da família. Os trejeitos o denunciaram desde cedo. Aí não tinha nem o que esconder.

A família, em relação ao Enrustido, seria hipocrisia, respeito, ou "apenas" tabu?

Anônimo disse...

Sabe, ragazzo, eu tb perdi minha avó pouco antes de eu assumir para meus pais. E me senti como você. Mas depois de um tempo percebi que ela podia não saber desse detalhe de minha vida, mas ela me conhecia muito bem. Disso eu tenho certeza. No fim, cheguei a conclusão que aquilo que ela não sabia, era mesmo um detalhe se comparado a todo o universo da nossa relação. E sabia que ela, estava sempre presente e com certeza me apoiando na minha "nova" vida. Fica bem, ok? Abraço e meus sentimentos.

gr1ffonn@hotmail.com

A.M.B disse...

sentimentos pela sua vó!

encontrei seu blog através de um scrap pro Alpha :P

amei o blog!

e aff, soh eu sei como é difícil vida dupla e o quão paradoxal é "as pessoas que mais amamos e menos nos conhecem!".

abracaoooo

Anônimo disse...

As pessoas que nos amam nos conhecem muito mais do que imaginamos. Praticamente não conseguimos guardar segredos delas...
Meus pêsames e um grande abraço...

Gay Alpha disse...

Olá Ragazzo!!! Bem... gostei muito de encontrar seu comment lá no blog. Aliás, gostei muito de encontrar seu blog. E com ele, vc! Coloquei um link lá no GA para as pessoas virem conhecer tua casa... se bem que tu já és muito mais pop do que eu... hehehe!!! Espero que não te importes, okay? Grande abraço!!! E excelente fds pra ti!

¨¨Édna¨¨ disse...

Oi...
eu sinto muito pela perda, nunca é fácil perder alguém, e também não é fácil tentar escrever algo que possa amenizar o que tu deve estar sentindo, mas eu espero que tu fique bem.

P.s.: tem um selo pra ti lá no blog.

Adlianny disse...

Cheguei aqui através do blog do meu amado Gay Alpha, quero dizer também que sinto a morte de sua avó e fico triste por chegar aqui num momento de dor, mas fico também demasiado feliz por encontrar nesse mundo blogueiro mais alguém de uma escrita tão bela e intensa...

Com certeza voltarei mais vezes, um abraço imenso e muita força.

FOXX disse...

nossa
meus pesames
se meus entes queridos morressem agora tb morreriam sem saber quem sou de verdade
mas...
não tenho coragem para isso
não sou homem o bastante?
talvez

Bighand disse...

Ragazzo,

Quando minha vó faleceu, eu morava longe, muito longe. A minha família é muito esquisita. Só assim que consigo justificar o fato da minha irmã mais nova ter comunicado por e-mail o falecimento dela . E não era nem pessoal o e-mail, era para uns 3 ou 4 destinatários. Neste dia saí mais cedo do trabalho e vim para casa. Eu tinha um canteiro de flores na casa em que eu morava, e naquele dia elas não poderiam estar mais coloridas e desabrochadas. No meu entender, a vivacidade das flores era a minha vó se despendindo de mim. Fui chorar a morte dela mais de um ano depois, quando visitei uma igreja na cidade da minha avó, em Florianópolis. Minha vó era muito religiosa, mas religiosa do bem, e era ali dentro daquela igreja que conseguia senti-la presente. E o mais estranho de tudo é que ao visitar a casa em que ela vivera a vida toda, a casa onde eu sempre a conhecera, eu não senti completamente nada. Sem ela, era uma casa que não fazia mais sentido algum.

Minha vó não sabia tudo de mim, mas ela sabia que eu era um bom rapaz e que me esforçava para ser feliz. E eu conhecia minha vó o suficiente para sentí-la em um lugar que ela ficaria muito feliz por saber-se sentida.

Minha avó não sabia com quem eu dormia ou namorava, mas sei que ela sabia quando os meus olhos brilhavam. Tenho certeza que a tua também sabia dos teus olhos.

Abraços

I.D. um amigo,,, disse...

É alguma coisa... um sentimento... uma dor... que não se sabe onde machuca...
Na verdade machuca na mente, no coração, no ego... dói na alma.
É alguma coisa como... frustração... olhar para trás ou pra frente, fica muito mais difícil!
Tá!! Ok?!
E agora?!
Agora não... amanhã quem sabe... ou depois de amanhã?!

Um ponto de interrogação cresce e se evidencia, resposta? Formula? Orientação - o que fazer, ou não fazer.
Infelizmente nos limitamos ao que nossos sentimentos e nossos medos, ou enfrentamos e sofremos a dor da ferida no combate ou "escolhemos" a frustração.
Melhor? Melhor enfiar a cabeça em um buraco e esperar a tempestade passar... e ao acabar, enxergar um novo/velho mundo devastado pelo nosso inconsciente "grilo falante".\ I.D.

Euzer Lopes disse...

Independente da condição sexual dos envolvidos, já reparou que família, fora do seio do lar (pai, mãe, irmãos) só servem para fazer aquelas perguntas pontuais que exigem respostas para uma vida inteira?
Tipo: Quando vai casar? se está solteiro.
Quando vai ter filhos? se o casamento rolou semana passada.
Quando se forma? se mal acabou de entrar na faculdade.
Na verdade, família parece mais bonecos de corda. São programados para unicamente encher o saco. Raras são as que acrescentam algo positivo aos entes.
Imagine, então, quando há alguém homossexual envolvido. Impossível não haver distanciamento

Un ragazzo disse...

Pessoal, agradeço o apoio de todos.
Como sabem, em geral comento o máximo de comments que recebo, mas dessa vez vou abrir uma exceção, pois o assunto ainda é muito pesado para mim.

Um grande abraço!

Enzo disse...

Ragazzo,nestas horas nada parece confortar mas proicuro enfatizar o fato de que apenas a matéria fi´sica se foi, digo qe ela paenas mudeu de lugar da Terra para os corações de qem a amava,vc se preocupava em ser rejeitado por ela,quando ela estava aqi na terra ,mas creio qe com a sabedoria divina ela te vê entende e o ama do jeito qe vc é.

Abraços


ex-Marcelo, ex-Cássio,agora Enzo, (sónão deixei o Cássio para não me confundirem com o da novela,e pensarem qe sou afeminado, vc tem alguma sugestão de nick para mim ?