sábado, 11 de julho de 2009

Uma Questão de Fidelidade

Pessoal, Ragazzo voltando à ativa.

Tive duas semanas pouco participativas aqui. Ausentei-me das discussões por precisar dar uma ermitada, mas agora estou de volta.

Agradeço o apoio demonstrado por vocês nos comments!

Adianto que, pela primeira vez, escrevi um post-desabafo. Em geral, exponho assuntos que de alguma maneira quero compreender, mas o último foi para dar vazão mesmo.

E é engraçado como no meio do tormento encontramos pequenas coisas que nos animam. Na madrugada de domingo para segunda, enquanto esperava meu pai passar pela minha cidade para irmos ao velório de minha avó, passeando pela net evitando qualquer pessoa conhecida, encontrei um blog maneiro escrito por um cara que me parece bastante interessante.

Não se assustem com o título do blog: Gay Alpha. Sei que alguns de vocês, como eu, não gostam da palavra gay. O significado original do termo é algo em torno de alegre, feliz, jovial. E sempre quando ouço alguém falar em gay já me vem à cabeça um cara estereotipado espalhando sorrisos e delicadezas, daqueles que de manhã dão um "bom dia" sonoro para todos que encontra (eu perguntaria - Bom dia pra quem?.. É... antes de um banho matinal até o capeta tem medo do Ragazzo... hehe).

Mas, voltando, GA não tem nada de caricaturado. Lembra-me um livre pensador. Em seu blog, escreve de modo cativante, equilibrando louvavelmente humor e reflexão. Seu último post toca em um assunto deveras interessante: a fidelidade.

Assumindo a net como rede em essência, convido vocês a lerem lá sobre o assunto e, ao voltarem aqui, terão meu ponto-de-vista.

O discurso de GA é retoricamente bastante interessante e eu mesmo já me peguei muitas vezes falando na mesma direção. Agora, sempre que estou com alguém, me sinto dando tiro no pé. Não, não sou de modo algum ciumento, mas, na prática, não me apetecem relacionamentos fisicamente abertos.

E aí, Ragazzo, não sabia que você era possessivo. E aí que está: não sou. E me parece que mesmo aqueles que o são, a possessividade é mais sintoma do que doença.

O problema em sair com outras pessoas (vou preferir falar assim ao invés de traição, por esta já carregar um juízo de valor junto) não está em compartilhar fisicamente. A ferida é mais embaixo. Seu parceiro sair com outras pessoas é atestar uma limitação, mostrar claramente que você não o supre por completo, e, em um nível mais profundo, trata-se da negra possibilidade de essa terceira pessoa vir a se tornar mais importante que você. No fundo, o problema se resume a auto-estima e insegurança, aspectos inerentes em suas devidas proporções a todo ser humano. Cogito até que tenha um Q de biológico. Afinal, não somos uma espécie estável. Nascemos, crescemos, decaímos fisicamente. É fato que procuramos em algum momento certa estabilidade para quando não estivermos mais em ascensão. E por quê? Talvez por conta daqueles dois "defeitos" supra citados. Sem eles talvez não necessitássemos do outro, nem de uma sociedade com laços afetivos.

E por que não sermos todos puro desejo? Porque nem sempre desejos de diferentes pessoas convergem, o que dificultaria qualquer convivência além da pontual, o que inclui um relacionamento a dois. E aí o ser humano tem algo diferente dos animais: o poder de avaliação. Esse poder, que se pensarmos bem nada mais é do que a possibilidade de refrear racionalmente aquilo que desejamos, dentre outras coisas, possibilita a manutenção de algumas escolhas, algo como cortar o desejo por um bem maior.

Claro, tudo o que eu disse não faz nenhum sentido para pessoas que buscam em relacionamentos apenas a satisfação de desejos. Vejo-os, contudo, de maneira maior, como a possibilidade de construir algo que individualmente não seria possível, como a possibilidade de transcender a dois. E um dos modos para prezar por essa relação é evitar sua abertura para terceiros, quartos, quintos etc. Qualquer relacionamento tem altos e baixos. E no vale da montanha russa, incluir uma outra pessoa é sempre perigoso.

E onde que fica a traição, Ragazzo? Eu respondo que fica e não fica, dependendo do cliente. Para mim, tudo gira em torno de um contrato - às vezes verbalizado, outras escrito (como no casamento), e na maioria estabelecido pela tradição - mais ou menos acordado. O teor fica a cargo dos fregueses: uniões abertas (o que como já disse acho perigoso), relações que envolvem posse (que de longe me assustam) ou alguma outra que gostaria para mim, mas que ainda não sei definir... hehe

Dessa perspectiva, traição é algo simples: o ato de infringir cláusulas importantes desse contrato. E, no caso de infração, vale a pena repensar se o problema era com o contrato, se as cláusulas não eram tão importantes ou se é o caso de se desfazer a união. O que não vale é querer conscientemente trapacear o contrato, o que algumas vezes pode ocorrer quando o objetivo por trás da união é somente satisfação de necessidades.

Poxa, mas que modo frio de olhar para isso, Ragazzo? E é mesmo. Não gosto muito do discurso passional e humanista que gira em torno da palavra traição. Muitas vezes se perde muito por conta de infrações que, enxutas do orgulho ferido, são pouco significativas.

Eita post longo e confuso! Talvez porque eu mesmo me pegue em cada momento pensando algo diferente sobre o tema.

E para os que chegaram até aqui e que visitaram o blog de meu novo amigo vendo lá a indicação deste espaço, não pensem que a divulgação foi à base de troca... hehe Se indiquei é porque gostei mesmo e me senti impelido a discutir...

E que bom que na blogosfera ler vários blogs não infringe contrato! Uma traição a menos em nossas vidas...

14 comentários:

Luan disse...

primeiro, saudades daqui.

segundo, post desabafo faz mais bem do que a gente imagina.

terceiro, fidelidade é uma coisa complidade demais pra gente discutir pq nao depende de um só. mas discordo do gay Alpha.

bração!

Anônimo disse...

Cara, seu blog só melhora!

Achoq eu o que vc disse sobre ser um tiro no pé fez todo sentido pra mim. Ainda estou procurando digerir. (A frase 'é porque ele não te supre por completo' tá ecoando ainda).

Acho legla também voc~e desabafar mais por aqui!!

abço

http://fabriziogonzalez.blogspot.com

Caco disse...

Sobre relacionamento e fidelidade, eu nem tenho muita experiência no assunto, mas...

Eu acho que tudo é conversado. O que não pode ter é mentira. As coisas têm que ser claras para os envolvidos desde o início da relação. Aí vai do gosto de cada um. Há os que se sentem ofendidos com a traição, há os que levam isso numa boa. Quem ama respeita.

Beijo.

Eu mesma disse...

Sou nova seguidora! Amei todos os post's. Tbm partilho de situações parecidíssimas rs. Ótimas experiências! Você consegue transpôr em palavras simples toda carga de sentimentos envolvidos nas suas experiências. Parabéns e não deixe de postar mais não! Sinto muita falta! Abraços.

Anônimo disse...

Nem preciso dizer o quanto o assunto fidelidade é importante pra mim. Muito mais do que quem me acompanha imagina. Como já tinha adiantado, acho que meu casamento é de um tipo raro, mas vou deixar para abordar isso no meu blog. Esse assunto que você e o Gay Alpha abordaram é bastante instigante.

T Jok disse...

Deveria eu comentar nesse post??

Chris disse...

Ragazzo, tava fazendo muita falta! Que bom que voltou à ativa!

Quanto ao tema, penso, penso, penso e só me vem uma palavra à cabeça: honestidade. Pra mim é indispensável, com contexto sexual ou não. E acho que mesmo que a honestidade lhe force a falar algo ruim, ainda dói menos que uma inverdade/mentira/traição descoberta.

Abs

Kriok disse...

Esse post me surpreendeu. Só tenho isso a dizer! rs

Parabéns! Seu blog está cada vez melhor!

Abraços!

Anônimo disse...

Olá Ragazzo ... cheguei aqui por indicação do GA do qual sou um seguidor inveterado ... e fiquei deveras satisfeito com a visita ... seu espaço é instigante, crítico, sensível, enfim ... muito bom mesmo ... parabéns ... já estou seguindo e linkei vc no meu como indicação pois acho válido compartilhar o que é bom.

Este seu post é bastante interessante e e como me posicionei frente ao post similar do GA, tenho minhas concepções formadas sobre o tema, concepções estas forjadas ao longo de uma existência pautada pelo aprimoramento de valores experenciados.
Fidelidade, realmente um caroço ... relacionamento aberto outro caroço ... não coloco as coisas em nenhum dos dois prismas ... Fidelidade para mim se traduz por honestidade, transparência, coerência, lucidez e monte de outros atributos, mas nunca por posse. Relacionamento aberto é tb um termo desgastado e mal contextualizado ... sempre associado a trangressões, e eu não o vejo assim ... não sou adepto de transgressões puras e simples para, como vc diz, simplesmente satisfazer prazeres e instintos.
O ser humano é um ser carente por excelência e não existe no mundo uma única pessoa se quer que fuja a esta realidade, assim como, tb não existe ninguém que possa nos suprir de todas elas ... nem mesmo o grande AMOR. Temos carências e necessidades advindas de nossas experiências afetivas vivenciadas ao longo de toda a nossa existência, carências estas originadas desde a tenra idade, e pensar que alguém vai nos supri-las é um grande engano, e pobre do infeliz que for eleito para esta missão, pois ele não tem os poderes divinos para esta missão. Já pensou este ser ter que lidar com a problemática de satisfação de suas próprias necessidades e ainda ter que saciar de forma total as de um outro?
Bem não vou aqui tentar escrever uma tese sobre a questão mas acho o tema instigante e que vale a pena ser discutido e analisado.
Caso se interesse pela minha experiência de vida, fiz um breve relato sobre ela nos comentários sobre o post do GA. Não sei se consegui ser claro sobre o que penso a respeito de tudo isto, mas o certo é que encontrei, juntamente com meu DD uma forma que nos ajudou e nos ajuda ainda hoje, para mantermos uma relação estável e feliz ao longo, não de 35 dias, mas de 35 anos. [detalhe importante . 35 anos de relação homo, estável e feliz, onde não existem contratos formais, regras e estatutos sociais definidos, constituição de família, formação de patrimônio, nos moldes clássicos, culturais, sociais e legais].
Bem, vamos parando por aqui ... daqui a pouco este comentário estará maior que o post ... parabéns por abordar esta questão ... esta discussão enriquece e pode ser útil a cada um de nós e a muitas pessoas que iniciam a vida e estão à busca de valores e identidades pessoais mais sólidas.

bjo grande ...

;-)

T Jok disse...

Bom, posso parecer hipócrita comentando esse post mas, as únicas palavras que consigo pensar com este post são: Honestidade e lucidez.
Como o rapaz aqui de cima disse, somos carentes por excelência. Não existe um ser humano capaz de suprir todas as nossas necessidades que, não são poucas e às vezes instáveis.
V
cs provavelmente estão pensando que meu post é realmente hopócrita por não "seguir" os padrões normais de honestidade e "fidelidade" mas, minha condição não é das mais favoraveis, afinal, quaquer um dos dois me supririam o bastante mas nunca por completo, já os dois juntos me completam em tudo.
Desonesto? Talvez. Não minto quanto aos meus sentimenos por cada um deles e sem preferências.
Safadeza? Não, apena amo os dois.
Uma pena é que não posso dizer à namorada que tb tenho um namorado mas, nem tudo pode ser perfeito.

É isso.
Abraço a todos.

Ragazzo que bom que está de volta, espero que tudo esteja correndo bem :D

ps: Tenho que parar de ler os comentários de vcs, isso não está me fazendo bem.
Outro dia fui no Habib's, cheguei na atendente e pedi:
- "Quero 10 "Ragazzos" por favor"

UHAUHAHAHUAUHAUHUHA

Un ragazzo disse...

Pessoal, concordo com todos que é uma discussão complicada, e por isso mesmo vale a pena que exista, não? hehe

Já vi que tem mais blogs envolvidos no tema. Muito lega essa rede que se forma!

Paulo, seja bem-vindo! Gostei de seus apontamentos, ainda que eu discorde não existência de contratos. Quando falo em um contrato, não precisa ser escrito ou verbalizado, mas algo que mesmo sem se poder especificar em palavras, nos guia no que se refere a conceitos como transparência e honestidade em uma relação. Um contrato desse tipo não existiu em sua relaçào? (Lembrando que o modo como vejo um contrato está muito além do significado jurídico). Agora, cá entre nós, bato palmas para vocês. 35 anos é uma vida. Independente da sexualidade que se têm, é algo para se orgulhar. É um daqueles bons exemplos que temos.

T Jok, não fique constrangido em postar, não, meu amigo. Sabe que adoro seus comments e sou seu fã. Quando proponho discutir o tema, nem de longe quero partir dos conceitos morais já simplificadamente postos. Quero (como sempre) ir mais fundo! Quero dissecar, quero entender e, para isso, nada mais interessante do que experiências e visões distintas.

Claro que não é por isso que vou concordar contudo, né? hehe

Se me permite, poderia até dar um pitaco no que você falou sobre sua relação (e que por favor, pessoal, isso não se torne uma caça ao T Jok. Incito uma discussão de idéias e não de pessoas). Até que ponto você se une aos dois para transcender e até que ponto você usa os dois para suprir necessidades? Por fim, para aquecer as coisas (hehe), você está preparado para o caso de eles também amarem mais pessoas e efetivarem esse amor sem compartilhar isso com você?

Claro, são questões pesadas e compreendo se não quiser discuti-las aqui (por ser um espaço público) ou em qualquer outro lugar (pois é algo que diz respeito a você). Como disse, só postei essas dúvidas pq acho um prato rico para discutir IDÉIAS.

E não pense que te ache hipócrita. Pelo contrário, é um cara bem consciente. Cada um sabe de seus calos e como eles foram formados.

Por fim, mas não menos importante, que história é essa de pedir 10 Ragazzi no balcão????

Ragazzo é um só, meu caro, e com copyright... hehe

Se já é difícil aguentar um, imagine 10... kkkk

Abração, pessoal!

Ulisses disse...

Puxa , Ragazzo, a muito tempo eu esperava que esse assunto fosse abordado aqui.

@All, vou dar minha opinião, mas levem em consideração que falar é fácil. Então, o que eu acho pode ser um pouco diferente do que eu faço.

Falando em cláusulas do contrato, geralmente as pessoas exigem fidelidade e sinceridade. Será que essas duas coisas são realmente compatíveis? Lealdade (que é diferente de fidelidade) é algo bem mais factível.

Então qual seria a posologia ideal entre querer fidelidade e querer liberdade?
...

"A ferida é mais embaixo. Seu parceiro sair com outras pessoas é atestar uma limitação, mostrar claramente que você não o supre por completo, e, (...)"

- Permitir que o outro seja livre pra encontrar fora aquilo que vc não é capaz de dar, nao seria uma demonstração de amor maior? (só refletindo...)

"Até que ponto você se une aos dois para transcender e até que ponto você usa os dois para suprir necessidades? Por fim, (...), você está preparado para o caso de eles também amarem mais pessoas e efetivarem esse amor sem compartilhar isso com você?"

- Ô perguntinha profunda e capiciosa! hehehe. Não vivo uma situação semelhante ao T Jok, mas digo: tento exercitar o amor de forma altruísta.

T Jok disse...

Po Ragazzo, não sabe brincar não desce pro play
hahahaha
Vou tentar responder suas perguntas e satisfazer sua curiosidade no assunto mas, só quando estiver mais inspirado.

Me aceita lá no orkut :P
Finalmente te achei.

Pois é, ouvi por ai que tavam vendendo Ragazzo no Habib's tive que ir confirir e pedi logo dez. rsrs
Brincadeira :P
Foi sem querer mesmo, é a convivência com os amigos do blog :P

abração

Felipe disse...

Não costumo comentar, mas sempre que da venho aqui ler, gosto do conteudo escrito, mais do que visual(que geralmente é o que mais tem nos blogs desse tipo) Não julgo ninguem, cada um sabe de si, mas falando por mim mesmo, nunca tive relações com caras, só com gurias até hoje, e quando namorei, todas as vezes, nunca as trai, mesmo com oportunidades de fazer, por um unico motivo que me foi ensinado a longo tempo, não faço com os outros o que não gostaria que fizessem comigo. Simples assim. Se eu gosto, e gostam de mim, não vejo motivos pra TRAIR(sem tapar o sol com a peneira, quando a outra pessoa não sabe, é traição) Se não estou satisfeito, e estou querendo outras coisas, termino ou revejo, coloco na balança o que vale a pena. Pode ser que alguem pense, bom mas se ele não fizer é capaz dela trair e ele não saber? Bom ai o problema ja é dela, se eu descobrir não vou aceitar, não vou sair por ai ficando com tudo que aparece, a minha consciência não vai pesar. Se quero caminhar lado a lado, ser companheiro, construir algo junto, dou e exijo respeito. E quando digo isso, não é que a pessoa tenha que viver inteiramente pra mim, nem eu pra ela, cada um com suas vidas, sem possessividade, mas com companheirismo e cumplicidade. Se um dia conhecer um cara e acabar rolando algo mais sério, vai ser no mesmo esquema. Se o cara não quiser, não for na mesma linha de pensamento, tudo bem, cada um pro seu lado, e bola pra frente, o que me tiraria do sério, seria me fazer de trouxa. Nada contra quem faz, cada um sabe de si, só que minha opinião, e o que quero pra mim, é por ai... Abraço. Muito Bom o blog.